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Centenário, ‘Brasil olímpico’ ainda busca sua maturidade

Ao festejar cem anos de sua estreia nos Jogos, país apresenta evolução esportiva inegável, mas que precisa ser confirmada no futuro

Seleção brasileira masculina de vôlei ouro na Rio-2016
Jogadores do Brasil comemoram a conquista da medalha de ouro no vôlei masculino na Rio-2016 (Foto: Alexandre Loureiro/Exemplus/COB)

Fossem estes tempos normais e possivelmente a efeméride que se comemora neste domingo (2) seria deixada meio de lado. Estaríamos, com toda razão, mais preocupados em acompanhar e registrar os feitos dos atletas brasileiros em ação na Olimpíada de Tóquio. Mas estes não são tempos normais. A pandemia empurrou a festa olímpica para 2021. O coronavírus ainda traz inúmeros pontos de interrogação sobre a realização dos Jogos no ano que vem. A única certeza que se tem é que hoje, 2 de agosto, o Brasil completa cem anos de sua estreia e da conquista da primeira medalha olímpica, nos Jogos de Antuérpia-1920.

Uma jornada que começou de forma surpreendentemente positiva, passou por um longo período de raras conquistas e chega, na segunda década do século 21, colocando o Brasil próximo aos gigantes do esporte mundial.

Mas que ninguém se iluda. Este “Brasil olímpico” que alcançou seu auge justamente competindo em casa, nos Jogos Rio-2016, ainda está em busca de sua maturidade. Para isso, mais do que repetir uma boa campanha em Tóquio-2020, precisará superar desafios que vão além das competições esportivas.

Cem anos da estreia do Brasil em Olimpíadas
A equipe brasileira de tiro esportivo, que conquistou as três primeiras medalhas do país em Jogos Olímpicos na edição de Antuérpia-1920 (Reprodução)

Conquistas improváveis e heróis olímpicos

Incrível como a história das primeiras medalhas brasileiras resumam tão bem a nossa trajetória olímpica ao longo dos tempos. Repleta de dificuldades e com muita superação. Neste caso, com direito a uma viagem atrapalhada até Antuérpia, roubo de equipamentos no percurso mas com um final feliz para a equipe do tiro esportivo.

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Foi em 2/8/1920 que Afrânio da Costa levou a medalha de prata na pistola livre, a primeira do Brasil em Jogos Olímpicos. A segunda delas viria poucas horas depois, um bronze por equipes. No dia seguinte (3), o pódio completado com a maior conquista, o ouro de Guilherme Paraense no tiro rápido, o primeiro campeão olímpico do país.

As glórias de Antuérpia, contudo, não eram sinais de uma nova potência emergente. Muito pelo contrário. Até pela falta de uma cultura multiesportiva no Brasil, as participações nas campanhas olímpicas posteriores foram tímidas e com resultados discretos. Os brasileiros não passavam de coadjuvantes em Jogos Olímpicos.

Mudança de status

Este status mudou (para melhor) com um gênio chamado Adhemar Ferreira da Silva, o primeiro bicampeão olímpico do país, em uma das modalidades mais nobres, o atletismo. Novamente, os dois ouros no salto triplo de Adhemar, em Helsinque-1952 e Melbourne-1956, não conseguiram se reproduzir em outros esportes. Continuamos a viver de pequenas vitórias. Nosso balanço de medalhas poderia ser contabilizado com os dedos de uma só mão, em várias edições.

Cem anos do Brasil em Olimpíadas Adhemar Ferreira da Silva
Adhemar Ferreira da Silva salta para assegurar sua segunda medalha de ouro olímpica (Crédito: Reprodução)

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Poucos já se deram conta, mas o Brasil chegou a ficar 24 anos sem comemorar uma única medalha de ouro, quebrando este jejum apenas em Moscou-1980.

Nunca soubemos multiplicar gênios como Wlamir, Amauri, Adhemar, Éder Jofre, Maria Esther Bueno, Manoel dos Santos. Nunca tivemos competência e vontade política para criar uma verdadeira cultura esportiva neste país. Durante décadas, nossas (poucas) glórias surgiam quase por acaso.

Novas referências

Isso tudo pode parecer sem sentido para quem comemorou as 19 medalhas (sete de ouro) conquistadas na Rio-2016. Parece um outro mundo e de fato, é mesmo. Essa geração foi privilegiada com a mudança de rota que aos poucos o Brasil foi tomando, a partir do final da década de 1990. Com mais investimentos e uma lenta mudança de mentalidade, deixamos de ser “apenas” o país do futebol depois de cem anos.

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Hoje o Brasil é potência no vôlei (quadra e praia), tem uma tradição absurda no judô, natação e na vela. Exportamos talentos para grandes ligas no exterior, como basquete e handebol. O atletismo apresenta uma geração promissora demais. Há espaço para títulos mundiais recentes em esportes como boxe, ginástica artística e esgrima. Sem contar a força que o país demonstra nas modalidades que vão estrear em Tóquio, como surfe e skate.

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Todo este quadro não assegura que já chegamos ao patamar dos gigantes olímpicos. Há ainda inúmeros problemas estruturais. Diria até que a prova de fogo não virá nem em Tóquio-2020, onde ainda serão sentidos os reflexos positivos dos investimentos feitos na preparação para os Jogos do Rio.

O maior desafio, para mim, é sentir como o Brasil irá encarar os ciclos olímpicos subsequentes. Se penava com reduções de apoios financeiros entre 2017 e 2019, o esporte olímpico do país terá um desafio enorme para se reorganizar com a recessão econômica que virá após a pandemia.

Os primeiros cem anos do “Brasil olímpico” foram de consolidação. Que os próximos cem sejam para manter este padrão elevado e não para encarar uma triste retomada ao passado.

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