Engana-se quem imaginava que o único “problema” do COI (Comitê Olímpico Internacional) seria lidar com a enorme dor de cabeça para reorganizar a Olimpíada de Tóquio em 2021. O adiamento do evento, em razão da pandemia do coronavírus, já começa sim a respingar nos Jogos de Paris-2024, por incrível que pareça. E a causa nem é a interrupção natural do ciclo olímpico, que aconteceu pela decisão em empurrar Tóquio para o ano que vem.
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Na última semana, políticos franceses começaram a questionar publicamente os planos para a organização da Olimpíada de Paris. A possibilidade de uma iminente recessão econômica mundial, que obviamente não pouparia a França, serviu de alavanca para o debate começar, ao menos nos jornais e redes sociais.
O “Le Parisien” trouxe uma entrevista com Jacques Boutault, representante do Partido Verde e prefeito do segundo distrito de Paris. Segundo ele, é fundamental que se repense os planos para a organização dos Jogos de 2024.
“É relevante manter os Jogos Olímpicos de Paris da mesma forma que antes?”, questionou Boutault na entrevista, lançando até mesmo uma sugestão ousada. “Não seria mais sensato se dar um ano a mais, como Tóquio fez, e falar sobre Paris 2025?”, concluiu.
Ele não é o primeiro a falar sobre uma mudança de paradigma das Olimpíadas, a partir da pandemia.
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No começo de maio, o francês Guy Drut, ex-ministro do Esporte da França e membro do COI, escreveu um artigo na “FranceInfo”, no qual defende uma revisão do modelo atual. Segundo ele, campeão olímpico dos 100 m com barreira nos Jogos de Montreal-1976, os custos astronômicos das instalações, mesmo as temporárias, deveriam ser repensadas.
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Há, porém, quem defenda medidas mais radicais…
A vereadora Danielle Simonnet, do partido França Insubmissa, propôs em sua conta no Twitter um plebiscito sobre a necessidade da França de organizar a Olimpíada de 2024. “Mais do que nunca, o assunto é atual e necessário discuti-lo: organizar um referendo a favor ou contra a organização dos Jogos Olímpicos de Paris em 2024!”, postou Simonnet, no último dia 20.
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Bravata política, é óbvio. A nobre vereadora certamente esqueceu-se de contratos milionários assinados entre o governo francês, comitê organizador e o COI, com multas tão elevadas que nem precisaria de um plebiscito para considerar tamanha bobagem da proposta.
Ainda assim, a redução de gastos está na pauta francesa. Segundo Tony Estanguet, presidente do comitê organizador de Paris-2024, transporte, acomodações e recursos humanos são áreas que poderiam gerar economia para o evento. Mas o dirigente assegura que o DNA do projeto permanecerá o mesmo.
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Embora o foco do COI seja assegurar que Tóquio-2020 aconteça no ano que vem, seria interessante os dirigentes ficarem atentos aos efeitos da crise que já respingam em Paris-2024.