Os sinais de que a crise econômica causada pela pandemia do coronavírus chegou ao esporte brasileiro estão cada vez mais claros. Só não enxerga quem estiver com a máscara nos olhos ao invés de proteger nariz e a boca.
Na última quinta-feira (7), o Corinthians anunciou que irá interromper as atividades de sua equipe masculina de basquete. Efeito direito do encerramento antecipado da temporada 2019/20 do NBB (Novo Basquete Brasil), que ocorreu na segunda-feira (4).
Não foi um movimento isolado. Em abril, o Pinheiros anunciou a dispensa de todo elenco adulto, enquanto o Bauru desistiu de prosseguir na competição, como era o programado.
Mas o basquete nacional não foi o único a sentir na carne as consequências desta crise. No vôlei, a principal competição nacional da modalidade, a Superliga, também antecipou o fim da temporada sem definir o campeão. Primeiro com a feminina, ainda em meados de março, e depois a masculina seguiu o mesmo caminho, no final de abril.
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Se os dois esportes com as ligas mais organizadas do Brasil sucumbiram com o refluxo financeiro que virá como legado do coronavírus, o que dirá das outras modalidades, especialmente as individuais, com estruturas organizacionais bem mais frágeis?
O fato é que já passou da hora de discutirmos seriamente o cenário do esporte olímpico brasileiro no pós-pandemia.
Os problemas vão muito, mas muito além do que discutir readequação de calendários ou planejar a preparação para (esperamos que sim!) a Olimpíada de Tóquio em 2021. É necessário pensar o momento atual, preparar o terreno para a crise que virá.
Estrutura frágil
Não é segredo para ninguém que a solidez da estrutura do nosso esporte olímpico é igual a de um castelo de areia. Com raríssimas exceções, as nossas confederações estão há muito tempo vivendo no “cheque especial”. A maioria absoluta das entidades não soube aproveitar os anos de bonança, entre 2009 e 2016, quando aconteceu a Olimpíada do Rio.
Poucos fizeram a lição de casa. Seja por incompetência, preguiça ou falta de gestão – talvez os três juntos –, preferiram ficar na zona de conforto e usufruir dos patrocínios estatais que foram despejados nas entidades naquele período. Não buscaram um plano B para o pós-Rio. A torneira fechou e hoje todos dependem quase que exclusivamente dos recursos da Lei Agnelo/Piva, com recursos das Loterias e que é gerenciada pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil).
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A crise que virá do coronavírus expõe com requintes de crueldade a nossa frágil estrutura esportiva. Se a economia do país já está sofrendo as consequências em todos os setores, isso não seria diferente no esporte. Aliás, já está acontecendo, com corte em salários de grandes clubes esportivos do Brasil.
Que ninguém se iluda: o cenário pode afetar até mesmo a preparação dos nossos atletas para a Olimpíada de Tóquio, no ano que vem.
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Dá aflição também saber que passamos por toda esta tempestade sem qualquer amparo. O governo Bolsonaro nunca se preocupou de fato com o esporte em sua plataforma eleitoral. Tanto é verdade que ao reformular a estrutura dos Ministérios, um dos primeiros a ser excluído foi justamente o de Esportes. Atualmente, virou uma Secretaria Especial vinculada ao Ministério da Cidadania.
O desalento é grande. A única saída, a meu ver, seria que o COB, embora não seja sua função primária, liderasse alguma espécie de movimento, ao lado do CBC (Comitê Brasileiro de Clubes) e outras entidades. Deste diálogo, buscar sugestões que possam minimizar os estragos que virão.
Se nada for feito, a chance de ocorrer um retrocesso pesado no esporte olímpico brasileiro é enorme.