A quarentena que estamos vivendo nas últimas semanas (pelo menos a parte consciente da população), em razão da pandemia do coronavírus, ao menos está servindo para a programação esportiva na TV resgatar alguns momentos históricos do esporte olímpico brasileiro. Nos últimos dias, o SporTV relembrou a campanha do tricampeonato olímpico do vôlei masculino brasileiro, na Olimpíada Rio-2016.
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Neste domingo (5), foi a vez do Esporte Espetacular, da TV Globo, trazer um outro momento inesquecível: a medalha de ouro de Joaquim Cruz nos 800 metros nos Jogos de Los Angeles, em 1984. Aquela conquista ainda representa o único ouro olímpico do atletismo brasileiro em provas de pista.
Impossível não se emocionar vendo a reprise daquela prova.
Talvez seja por me trazer lembranças muito fortes. Foi a primeira Olimpíada na qual atuei como jornalista, ainda estagiário na Rádio Gazeta, de São Paulo. Lembro de ter gravado, com a voz um tanto travada, um boletim pelo telefone, da sala da minha casa, relatando aquela que foi a única medalha de ouro conquistada pelo Brasil nos Jogos de Los Angeles.
Talvez a emoção tenha a ver pela narração arrebatadora de Osmar Santos pela transmissão da Globo. Osmar talvez tenha sido o melhor locutor de rádio que já existiu neste país e mesmo sem ser um especialista em atletismo, soube como poucos transportar todo aquele sentimento de alegria para quem acompanhava pela televisão.
História de superação
Ou é possível que a emoção seja em razão da própria história de vida de Joaquim Cruz. Um garoto pobre nascido em Taguatinga e cujo maior sonho era jogar basquete (como contou brilhantemente o repórter César Augusto, autor da reportagem). Joaquim teve seu talento descoberto pelo técnico Luiz Alberto de Oliveira, que logo viu o diamante bruto que tinha nas mãos. Sem uma estrutura decente para treinar e estudar no Brasil, Luiz Alberto levou Joaquim para morar nos Estados Unidos, onde houve o grande ponto de virada em sua carreira.
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Emocionado, chorou ao lembrar que foi muito criticado pela decisão. Foi acusado de “estar matando” um grande talento do atletismo brasileiro.
Joaquim Cruz ganhou todas as quatro corridas que disputou em Los Angeles (eliminatórias, semifinal e final). Não teve medo nem de encarar uma lenda das pistas o britânico Sebastian Coe, recordista mundial e campeão olímpico em Moscou-1980. E a forma com que venceu a final, ficando estrategicamente em segundo nos primeiros 400 metros e dando a arrancada decisiva nos últimos 200 m, foi espetacular.
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Um detalhe lembrado pela reportagem que aquela foi a primeira vez que o Brasil viu uma medalha de ouro para o país ser conquistada ao vivo. Não é pouca coisa.
Por tudo o que representou aquela vitória espetacular em 6 de agosto de 1984, é inacreditável o quanto Joaquim é pouco valorizado aqui no Brasil. Tanto que ele hoje empresta o seu talento e conhecimento para o atletismo paralímpico dos Estados Unidos.
Sorte dos americanos em contar com um gênio do esporte como Joaquim Cruz. Sorte a nossa que as imagens do maior momento do esporte olímpico deste país estarem à disposição, para serem revistas e celebradas sempre.