Com diversas modalidades ainda definindo seus classificados para a Olimpíada de Tóquio-2020, a semana que passou reservou dois episódios no mínimo curiosos em relação às classificações olímpicas de alguns países.
Na madrugada deste sábado (29), foi realizado o pré-olímpico da Oceania do taekwondo. Entre os contemplados pelas vagas, está um conhecido personagem dos torcedores. Trata-se de Pita Taufatofua e se não sabe de quem estou falando, talvez se recorde pelo apelido de “Besuntado de Tonga”.
No desfile de abertura da Olimpíada Rio-2016, ele virou uma celebridade mundial, ao desfilar com o corpo besuntado de óleo de coco, seguindo uma tradição tongolesa. Taufatofua participou como atleta do taekwondo. Na ocasião, foi eliminado logo na primeira rodada.
Menos de dois anos depois, Taufatofua estava de volta ao universo olímpico. Mas desta vez nos Jogos de Inverno de PyeongChang-2018, quando participou pelo esqui cross-country. Assim como no Rio, também compareceu sem camisa na aberta, apesar da temperatura negativa.
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Taufatofua tinha como meta alcançar um recorde: tornar-se o primeiro atleta da história a disputar uma Olimpíada em três esportes diferentes. Para isso, começou a treinar canoagem velocidade em meados de 2019. Também possuí um desejo ainda mais ousado: classificar-se também por outro esporte, no caso o velho taekwondo.
O plano da canoagem naufragou, com o perdão do trocadilho infame.
Desempenhos patéticos, a ponto de ter virado o barco em uma das qualificatórias do Mundial da Hungria do ano passado, mostraram que o destino olímpico do Besuntado de Tonga seria mais fácil no taekwondo. Beneficiado pela ausência de rivais, Taufatofua só precisou ganhar uma luta na categoria + 80 kg. Superou Steven Tommy, de Papua Nova-Guiné com facilidade, e assegurou seu bilhete para Tóquio.
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Mas o sonho de emplacar sua presença também na canoagem não acabou. Taufatofua fracassou no pré-olímpico continental da modalidade, mas ainda pode, se um milagre ocorrer, classificar-se via Copa do Mundo de Duisburg (ALE), em maio.
Além desta, há ainda uma possibilidade de receber um convite do COI (Comitê Olímpico Internacional), que prega a maior universalidade dos Jogos e distribuí vagas para países sem representatividade em determinados esportes. Em resumo, o Besuntado está com tudo e não está prosa, como diz um antigo ditado
Kageura barrado
Se a classificação do marqueteiro Pita foi até motivo de comemoração nas redes sociais, pela própria circunstância, ironicamente a qualificação olímpica de Tóquio promoveu um fato que muitos podem achar absurdo.
Na última quinta-feira (27), o Japão anunciou a equipe olímpica de judô. Esporte nacional japonês e candidato a faturar inúmeras medalhas nesta Olimpíada, o judô japonês deixou fora da lista o peso pesado Kokoro Kageura. Ele foi o responsável em ter acabado com uma invencibilidade de 10 anos do francês Teddy Riner, considerado o melhor judoca de todos os tempos.
O feito aconteceu no Grand Slam de Paris, no começo de fevereiro. Assombrou o mundo do esporte. Ninguém pensava que alguém conseguiria bater Riner. Kageura acabou ficando com a medalha de prata em Paris mas tudo isso não foi o bastante para assegurar sua vaga na equipe olímpica. Aos 24 anos e 8º colocando no ranking olímpico da IFJ (Federação Internacional de Judô), ele perdeu a vaga para Hisayoshi Harasawa, atual número 2 do mundo.
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Com 27 anos, Harasawa cumpriu um ciclo olímpico bem superior. Neste período, por exemplo, subiu ao pódio nove vezes nas principais competições do calendário, incluindo um vice-campeonato no Mundial de 2019 e um terceiro lugar em 2018.
Alguém pode chamar de incoerente um sistema de qualificação que premia um atleta midiático porém esportivamente inexpressivo, enquanto barra a chance de alguém que fez história no esporte. Por outro lado, pode-se também festejar o caráter democrático da Olimpíada, que abre portas para todos que tenham condições mínimas de competir, além de preservar a justiça para os que se apresentaram melhor ao longo do ciclo.
Não sei quem tem razão nesta história. A verdade é que tudo isso dá uma boa tese acadêmica ou uma resenha empolgante na mesa do bar.