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Judô

Novo fenômeno do judô nasceu no Japão, se atrapalha no português e adora coxinha

Por Fernando Gavini e Giovanna Pinheiro

A nova sensação do judô atende pelo nome de Stefannie Koyama e tem apenas 21 anos. Nascida no Japão, ela é filha de imigrantes brasileiros, que decidiram trocar em 1992 o país natal pela terra do sol nascente. O curioso é que ela chegou há apenas dois meses e meio no Brasil, ainda se atrapalha com o português e garante ser fã de feijão, coxinha e bolo de chocolate. Se ela ainda está se adaptando à nova realidade, no tatame os resultados têm sido melhores do que o esperado. Em janeiro, ela ganhou a seletiva para entrar na Seleção e em março disputou suas três primeiras competições internacionais, das quais ganhou duas: o Grand Slam de Baku e o Grand Prix de Tbilisi. Veja abaixo a entrevista com a judoca, que inaugura o canal do Olimpíada Todo Dia no YouTube.

Os resultados obtidos por Stefannie Koyama em suas primeira competições foram excelentes. Em nove lutas, ela ganhou oito, superando em cinco delas lutadoras que fazem parte do Top 10 do ranking mundial. Apesar do reconhecimento trazido pelas vitórias, ela mantém os pés no chão. “Tem muitas meninas fortes ainda. Eu sou só uma challenger (desafiante). Estou começando. Não tenho como pensar assim que sou uma campeã”, acredita, mas deixa escapar o sonho que tem de voltar para ganhar a medalha de ouro no país onde nasceu. “Eu quero ganhar em 2020 na Olimpíada”.

Stephanie Koyama aplica golpe em Maryna Cherniak na final do Grand Prix de Tbilisi

A primeira competição disputada por Stefannie Koyama foi o Aberto Europeu de Praga. E logo de cara ela perdeu. A derrota foi para a ucraniana Daria Bilodid, campeã mundial cadete em 2015 e europeia júnior e cadete em 2016, que acabou conquistando a medalha de ouro no torneio. “Tivemos treinos depois em Praga e a sensei Yuko (Fujii, técnica da Seleção) me ensinou bastante a técnica e como tem que fazer para lutar contra europeus”.

Stefannie Koyama aprendeu direitinho. No Grand Slam de Baku, deixou para trás Aisha Gurbanli, do Azerbaijão, a medalhista de bronze no Mundial de 2015, Maryna Cherniak, da Ucrânia, a tricampeã africana Taciana Cesar, brasileira que compete por Guiné Bissau, e, na final, a sérvia Milica Nikolic, sexta colocada no ranking mundial e medalha de bronze no Grand Slam de Paris. Veja o vídeo da final.

“Não é que eu queria ganhar o ouro não. Primeiro, eu queria ganhar aquela primeira luta e ganhei. E depois a próxima. E foi assim em cada luta e daí eu ganhei. Eu fiquei muito feliz de ver a bandeira do Brasil lá em cima. Gostei!”, explica.

E gostou tanto que repetiu a dose no Grand Prix de Tbilisi. Mais quatro lutas e mais quatro vitórias sobre a britânica Kimberley Renicks, a francesa Melanie Clement e outra vez diante de Taciana Cesar e de Maryna Cherniak, desta vez, respectivamente, na semifinal e na final. Veja o vídeo da final.

Antes de vestir o quimono pelo Brasil, Stefannie Koyama foi terceira colocada no Campeonato Japonês no ano passado, um feito diante do número de judocas de alto nível no país. Mas alguma coisa lhe dizia que ela deveria mudar de nacionalidade.”Quando eu competi pelo Japão lá fora, eu senti alguma coisa no coração que eu queria lutar pelo Brasil não sei por quê. Eu via um monte de competição com brasileiros lutando e eu queria lutar também pelo Brasil. Ano retrasado eu conversei com o sensei da CBJ, mas não deu certo e ano passado eu conversei e deu certo”, conta.

Stephannie Koyama venceu a sexta do ranking, Milica Nikolic, na final em Baku

O encontro aconteceu no Grand Slam de Tóquio de 2016. “Eu falei que queria participar de competições pelo Brasil e eles falaram para eu vir competir a seletiva e eu vim”. A decisão encontrou certa resistência dos pais, o paulistano Ricardo, que no Japão trabalha no setor de construção civil, e a mãe Sanlay, nascida em Santos, que é professora de inglês. Ambos ficaram preocupados em deixar a filha ir morar no país do qual eles tão bem conheciam os problemas. Mas Stephannie encarou o desafio e ficou os primeiros meses do ano em São Paulo na casa de parentes, que lhe davam carona para treinar no Pinheiros.

Stephannie Koyama com a medalha de ouro no peito no pódio no Grand Prix de Tbilisi

A distância desta vez é bem maior, mas Stefannie Koyama já está acostumada a morar sem os pais. “Eu saí de casa com 15 anos. Fiz o colégio em Kanagawa, que é em outra cidade e faculdade agora estou estudando em Tóquio”. Agora? Pois é! Tudo o que a judoca fez nesses primeiros meses do ano foi nas férias dela no curso de letras. “Agora estou de férias. Vai recomeçar em abril. Este ano eu vou terminar a minha faculdade e depois vou morar aqui”, conta a judoca.

Simpática e de sorriso fácil, Stephannie vai morar em definitivo no Brasil no ano que vem

A partir de maio, portanto, a japonesinha simpática e de sorriso fácil que estava todos os dias no Pinheiros, não vai mais ser vista por aqui. Ela vai ter que dividir seu tempo entre estudos e treinos no Japão, além de viagens para defender as cores do Brasil em competições internacionais. Para valer mesmo, Stefannie Koyama vai se mudar no ano que vem e esse primeiro trimestre serviu de estágio para a judoca sentir o que vai ter pela frente quando se mudar em definitivo para o país.

“Com a comida eu já estou acostumada porque minha mãe fazia comida brasileira. Gosto de feijão e de coxinha, que eu comi bastante aqui (risos). E chocolate… bolo de chocolate eu adoro comer (risos)”

 

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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