Paris – Nos Jogos Olímpicos em que as mulheres são maioria na delegação brasileira, o primeiro foi conquistado por uma jovem preta, que soube esperar sua hora e colocou no chão as melhores atletas do mundo. Beatriz Souza é aquela que passa incólume frente à pressão de quase 8.000 pessoas contra ela, mas que tomba na primeira menção à família.
“Eu sou muito focada. Eu sou feliz e uma pessoa que gosta de levar a vida de uma forma leve. E sempre pensando em fazer o bem, não só pra mim, mas pra todos”, descreve-se a campeã olímpica da categoria acima de 78 quilos de Paris-2024.
A estreia em Olimpíadas só veio agora, aos 26 anos, mas a paulista de Itariri já era cotada para Tóquio-2020. Em decisão que causou polêmica, foi preterida na edição passada por Maria Suelen Altheman mesmo tendo melhor posição no ranking mundial. A adversária de ontem, virou a técnica de hoje no clube. Portanto, contribiu com a chegada de Bia ao Olimpo.
“Fiquei chateada, mas ali eu tive o entendimento que eu precisava aprender algumas lições, ganhar mais amadurecimento pra estar aqui e realizar esses sonhos. No final das contas, deu certo.”
E como deu certo. Beatriz tombou a número 4 do mundo, Hayun Kim nas quartas de final. Na luta seguinte, enfrentou a líder do ranking mundial, que lutava em casa, diante de uma arena que pulsava. Mas não era essa a sensação da brasileira.
“Eu consigo fazer essa parte de audição seletiva. Consigo concentrar totalmente ali na luta, no meu momento, eu estou focada em mim, no que eu quero fazer, no que eu sei fazer e independente de quem está ali na minha frente”, comentou. Bia disse que conseguia ouvir somente as instruções de Sarah Menezes, que acumula agora duas medalhas olímpicas como técnica, além de um ouro como judoca em Londres-2012.
“O sacrifício fica no dia a dia, e a competição é um momento que a gente ama. Eu tento fazer desse dia o mais leve possível. Então eu gosto de assistir minha série, faço toda a minha tática de luta antes, já tem tudo ali na minha cabeça. A gente vai assistindo, analisando cada luta. Mas acabou essa parte de análise, aí eu volto pra minha série, para o meu joguinho”, disse a fã de Grey’s Anatomy e do “jogo da Fazendinha”.
Foi com essa calma que Beatriz Souza chegou para a luta final diante da número 2 do mundo, Raz Hershko. Com 44 segundos, a brasileira já tinha colocado a oponente no chão e, partir dali, apenas administrou o combate.
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Mas quando o assunto é família, é Bia quem desaba. “A minha família é a minha base, meus maiores fãs e os primeiros apoiadores de um sonho que ninguém acreditava que um dia poderia ser possível. Então, poder dar esse orgulho pra eles me faz a pessoa mais feliz do mundo. Poder honrar meu pai, honrar minha mãe, minha irmã, minha avó. Honrar o meu marido também, que longamente fica torcendo por mim. Acho que essa é a certeza que a missão foi cumprida.”. Há cerca de um mês, a atleta perdeu a avó, a quem dedicou a medalha.
Beatriz Souza sabe da importância da coroação não só para os próximos, mas para quem também já passou por dificuldades. A atleta disse que o judô a salvou porque ela era muito diferente dos colegas. O esporte foi uma escapatória para ela, que deseja inspirar outras pessoas.
“Não vou falar que é fácil. Nada que é grandioso é fácil de ser conquistado. Mas, sejam grandes ou pequenos objetivos, é possível. Independente. Lutem, acreditem, confiem. Deem o máximo de si, mesmo quando a gente acha que nada vai dar certo. Mas no final, acaba valendo a pena.”
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