Rafael Silva, o Baby, colocou seu nome no seleto grupo de judocas donos de duas medalhas olímpicas ao repetir, nos Jogos Rio 2016, o mesmo resultado que havia conquistado em Londres 2012: uma medalha de bronze suada e sonhada na categoria pesado (+100kg). E isso após contusões sucessivas que chegaram a colocar em risco até mesmo sua participação na competição. Com esse resultado, o judô encerrou sua participação no Rio com três medalhas: além dele, a modalidade comemorou o ouro da xará de Baby, Rafaela Silva, e o bronze de Mayra Aguiar – outra que faz parte do grupo com duas medalhas (bronze em 2012 e 2016), ao lado ainda de Aurélio Miguel (ouro 1988 em e bronze em 1996), Tiago Camilo (prata em 2000 e bronze em 2008) e Leandro Guilheiro (bronze em 2004 e 2008).
“Essa medalha vem para coroar todo um trabalho. Está caindo a ficha ainda. Abracei o Leandro (Guilheiro) ali agora e conversamos um pouco sobre isso de duas medalhas, antes das disputas da tarde. Estou feliz de desenvolver meu judô e de conseguir colocar no tatame, numa competição importante como essa, o que venho trabalhando, evoluindo”, disse o Rafael Silva.
No ano passado, uma lesão muscular no peitoral direito tirou Rafael Silva dos Jogos Pan-americanos Toronto 2015. O judoca levou seis meses para se recuperar. Este ano, pouco antes das Olimpíadas, o judoca sofreu com os músculos posteriores das duas coxas. “Tive que voltar de lesão, tive que ganhar confiança de novo, competição a competição”, comentou o atleta de 29 anos.
Valeu a pena superar a dor e os problemas físicos. A trajetória de Baby até a medalha começou ainda pela manhã, com duas vitórias incontestáveis. Na primeira luta, o judoca brasileiro passou facilmente pelo hondurenho Ramon Pileta, aplicando primeiro um wazari e, em seguida, um ippon. Nas oitavas de final, Baby venceu o russo Renat Saidov, terceiro colocado no campeonato mundial de Chelyabisnk em 2014, também com um ippon.
Nas quartas de final, no entanto, Rafael Silva teve pela frente o dono da medalha de ouro dos Jogos Londres 2012 e nove vezes campeão mundial, o francês Teddy Riner. Lutou bravamente, mas sofreu um wazari durante o confronto e não conseguiu aplicar nenhum golpe no adversário – que poucas horas depois se sagrou bicampeão olímpico. “Hoje eu fiz uma luta dura com o Teddy. Eu fui para tentar jogar ele. Sabia que no shido ia ser difícil, é um adversário duro. Mas atrapalhei ele, dei uma canseira. É um privilégio fazer parte da geração desse cara”, elogiou.
A caminhada não estava encerrada. Baby foi para a repescagem e, numa luta com poucas chances de golpe dos dois lados, derrotou o holandês Ron Meyer ao receber apenas uma punição (shido), contra duas do adversário. Foi quando o caminho para um novo bronze olímpico começou a parecer mais claro.
Na disputa pela medalha, Rafael Silva enfrentou o medalhista de prata em Pequim 2008, o uzbeque Abdullo Tangriev, de 35 anos. Mais jovem e aparentando bem menos cansaço, Baby foi mais agressivo durante todo o combate e acabou vencendo com um yuko, que levantou a torcida presente na Arena Carioca 2. “Foi tudo diferente de Londres, lutei com adversários diferentes. E venho de uma recuperação, então teve um gostinho a mais. Por estar em casa também… Era uma gritaria ali que emocionava muito”, disse, antes de comentar sobre seu futuro no esporte. “Tóquio? Vou tentar. Tenho que vivenciar ano a ano, cada competição, e ver o que acontece. É difícil já falar sobre daqui a quatro anos”.