Durante sete anos quase ininterruptos, a judoca Alana Maldonado dedicou corpo e alma ao esporte de alto rendimento. Uma jornada cheia de feitos e conquistas, como os inéditos ouros no Mundial de 2018 e nos Jogos Paralímpicos de Tóquio no ano passado. Mas também de cobranças, pressão e problemas internos que foram afetando a saúde mental. Em junho, a atleta acordou sem vontade alguma de vestir o quimono. Pensou até em encerrar a carreira precocemente. A depressão, aos poucos, foi ficando para trás. Agora, uma “Alana reinventada”, como ela própria se define, está de volta e lutará neste domingo (11), no Grand Prix de Judô Paralímpico, o equivalente ao Campeonato Brasileiro da modalidade, em São Paulo.
“Eu precisava deste tempo. Precisava me reconectar, me desligar um pouco e cuidar de mim e da minha saúde mental”, explica Alana Maldonado, paulista de 27 anos que competiu oficialmente pela última vez no Grand Prix de Antalya, na Turquia, no fim de abril, quando conquistou a medalha de ouro. Tirando o período no qual lesionou o ligamento cruzado do joelho esquerdo, às vésperas do Mundial de 2018, esse foi o maior tempo que ela passou longe do esporte.
Férias sem férias
“Acho que as pessoas ainda não dão tanta importância para a saúde mental no alto rendimento. Eu nunca imaginei que passaria pelo que passei, ter início de depressão, pensar em parar. Quem está de fora não conhece a rotina do atleta, as coisas de que precisamos abrir mão”, conta. A bola de neve aumentou justamente após Tóquio. “Eu saí de férias, mas não tive realmente férias. Era o tempo todo entrevista, gravação, palestra, evento. Quando voltei a treinar, sofri uma lesão no menisco do joelho e fiz a cirurgia. Depois, machuquei de novo. Meu corpo estava dando sinais de que eu precisava desligar minha mente um pouco dessa rotina. Até que chegou o dia em que falei: ‘Não, eu preciso parar, não estou bem’. Isto foi em junho”, relata Alana Maldonado.
Para seguir em frente com saúde mental, ela contou com o suporte da psicóloga Caroline de Campos, com quem trabalhou na seleção brasileira de judô paralímpico, e o apoio fundamental da família, especialmente de sua companheira, Wedja Santos, de quem ficou noiva no fim de julho. “Quando eu não queria treinar, era ela quem me empurrava”, conta Alana Maldonado, que também passou a treinar diariamente no Palmeiras, onde encontrou novas motivações. “Mudei um pouco de ares, de rotina. Hoje, vejo uma Alana reinventada. Eu precisava sair um pouco da minha bolha, expandir meu mundo. Ainda sigo no acompanhamento psicológico, mas estou bem melhor”, garante.
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Outro mundo
A expectativa agora é de utilizar o Grand Prix como preparação para o Mundial de Baku, no Azerbaijão, marcado para novembro – o torneio valerá pontos no ranking para os Jogos de Paris 2024. As mudanças nas regras da modalidade, principalmente a que extinguiu algumas divisões de peso, mexeram bastante com a categoria da judoca (até 70 kg da classe visual J2).
“É um outro mundo, será um Mundial completamente diferente do que disputei em 2018 e, na minha categoria, bem mais forte por conta dessa junção dos pesos. As minhas principais rivais continuam, como a mexicana (Lenia Ruvalcaba, algoz de Alana na final da Rio 2016) e a georgiana contra quem lutei na final em Tóquio (Ina Kaldani), que acabou de ser campeã europeia de judô paralímpico. E, além das adversárias que eu já tinha, entraram outras que vieram de outros pesos, como a cubana”, comenta, referindo-se a Dalidaivis Rodriguez, bicampeã paralímpica na Rio 2016 e em Londres 2012 no extinto peso até 63 kg.
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