No caminho as dúvidas surgiram. Há apenas uma semana, a eliminação na primeira rodada do Grand Slam de Budapeste fez Daniel Cargnin se questionar mais uma vez: foi uma boa escolha mudar para uma nova categoria de peso no ciclo dos Jogos Olímpicos Paris 2024? Apesar da pressão que colocava sobre si, o atleta do judô conseguiu manter o foco para ter a certeza de que está no rumo certo. A resposta veio com uma medalha de bronze do Grand Prix de Zagreb no sábado passado (16).
O primeiro pódio desde que subiu do meio leve (66kg) para o leve (73kg) foi providencial para Daniel Cargnin. Além de impulsionar a confiança, provocou também uma arrancada substancial no ranking da categoria. Na última atualização da lista no site da Federação Internacional de Judô (IJF), o brasileiro foi o atleta que mais subiu: ganhou 18 posições e agora é o número 45º do mundo na nova categoria.
Cabeça no lugar
“Eu estava me pressionando muito. Na semana passada, em Budapeste, eu caí na primeira luta. Mas mantive a cabeça no lugar, com acompanhamento psicológico. A partir do momento em que voltei para o tatame minha obrigação era dar tudo de mim. A medalha parece que foi uma luz no fim do túnel. Tive a certeza de que, independentemente da categoria, posso ser um cara que representará bem o Brasil em Paris. Estou no caminho certo.”
Daniel Cargnin passou invicto pela chave D da competição, com vitórias sobre Enzo Gibello, da França, Njie Faye, de Gâmbia, Mark Hristov, da Bulgária, e Martin Hojak, da Eslovênia. A única derrota no evento foi na semifinal para o italiano Manuel Lombardo, que era número 1 do mundo nos 66kg em Tóquio, quando foi superado pelo brasileiro, e também arriscou subir de peso nesta temporada. Na disputa pelo bronze, Cargnin bateu o compatriota Pedro Medeiros, que na chave A havia eliminado o número 1 da categoria, Lasha Shavdatuashvili, da Geórgia. Garantiu a medalha de bronze e a arrancada no ranking.
Olho no Masters
“No final do ano tem o World Masters, e só os 32 melhores do ranking vão disputar. E essa competição vale muito para mim também para conseguir a vaga para Paris. Meu objetivo é ser o melhor representante do Brasil na categoria. Por mais que eu tenha medalhado agora, sei que tenho que treinar muito ainda”, diz o gaúcho. A atenção com a concorrência interna ocorre porque, no judô, há apenas um representante por país por categoria. E Pedro, de 21 anos, mostrou grande potencial nesta etapa.
“A história do judô brasileiro mostra que grandes atletas tiveram grandes adversários no país, como Flávio Canto e Tiago Camilo, por exemplo. Acaba que o nível de competitividade aumenta, e a régua fica mais alta em busca de medalhas e tudo mais. No ciclo passado eu tinha o Charles Chibana como concorrente, e vejo que ele me ajudou muito a crescer como atleta. É muito importante que seja aquele problema bom para o técnico.”
Ressaca olímpica
Para seguir numa crescente, Daniel Cargnin aposta no trabalho mental. Entende que precisava mudar após o ciclo de Tóquio e que manter o foco nos objetivos de longo prazo é fundamental para estar entre os candidatos ao pódio na nova categoria em Paris. “Eu senti muito a chamada ressaca olímpica. Me preparei para as Olimpíadas como se fosse uma viagem só de ida. Ainda está sendo um grande desafio para mim virar essa página. Sei a dificuldade que é para conseguir a vaga, a dificuldade para conquistar uma medalha. É estar disposto a abrir a cabeça para aprender coisas novas. Tem uma frase que me disseram que se encaixa bem. Mudar dá medo, mas ficar onde eu estava seria pior ainda. Por mais que me dê medo, vou com medo mesmo.”
*Comitê Olímpico do Brasil
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