De repente tudo parou. Campeonatos adiados, clubes fechados e, basicamente, uma única recomendação: proteger-se. E, para isso, era necessário ficar em casa, parar de treinar, quase um “suicídio” esportivo para atletas que sonham em chegar a uma Olimpíada. Mais, em colocar no peito uma medalha olímpica. Não foi só com Maria Suelen Altheman, mas também com ela. E para se manter firme na corrida para o pódio de Tóquio, a brasileira criou uma equipe de judô só para ela.
“Eu montei a minha própria equipe, praticamente, para conseguir treinar o judô e ter uma ajuda na parte física também”, explica, em entrevista para o Olimpíada Todo Dia. “Eu peguei dois meninos que já treinavam comigo em São Paulo, que estavam em quarentena, perguntei se eles não queriam ficar aqui em casa e me ajudar nos treinos. Então eles ficam aqui, e no final de semana vão ver a família”.
Maria Suelen está em Santos com o marido, cidade do litoral sul paulista onde fica a casa dela. Em tempos normais, passa a semana em São Paulo treinando no Clube Pinheiros e desce para a baixada santista nos finais de semana. Agora, fica só no litoral.
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Força-tarefa
“Eu tô conseguindo treinar legal aqui. Eu investi em mim”, acrescenta. “Minha categoria exige muito a parte da musculação. A sorte é que meu marido tem uma academia de Muay Tai, então tem tatame. E lá tem algumas coisas de peso livre, estou conseguindo me adaptar. Eu tenho barra, tenho anilha, tenho banco de supino”, diz, acrescentando que teve apenas de comprar algumas anilhas para treinos físicos e que a academia do marido, Danilo Gagliardi, estava fechada para o público.
“Por isso que eu escolhi ficar em Santos. Para mim é mais fácil, tenho mais acesso aos lugares. Em São Paulo eu não ia ter acesso a nada”, completa a atleta, que lidera por pouco a corrida brasileira a Tóquio na categoria acima dos 78 quilos, em disputa caseira com a jovem Beatriz Souza.
Maria Suelen também pensou na disciplina. Treina, almoça, janta no mesmo horário que fazia antes de tudo parar, justamente para que seu corpo não ache que está de férias. “Tipo: ‘estava de férias e estou voltando’. Não, continuar na mesma rotina”, diz.
Além do espaço e da equipe de treino, a judoca tem auxílio da comunidade local do judô. Já lutou por Santos, com Rogério Sampaio, e grandes mestres que orbitam a academia do medalhista olímpico de ouro também estão nesta força tarefa para mantê-la firme no caminho do pódio de Tóquio. “Tem um técnico que está me acompanhando, passando treino para mim. Eu converso também com o técnico do Pinheiros, então eu estou tendo essa facilidade”.
Tóquio via Santos
Até por isso, Maria Suelen declinou do convite recebido pela Confederação Brasileira de Judô para ir treinar em Portugal na chamada Missão Europa, programada para 10 de julho. “Me deslocar até Portugal, pegar voo. Acaba também que eu não estou muito segura com isso. É um voo direto, mas tá lá, em um ambiente fechado. Então para mim, no momento, não achei necessidade. Tem pessoas aqui que estão me ajudando”, explica.
Ficar em Santos oferece, ainda, vantagens que anteriormente ela não tinha, especialmente na parte física. Tem tempo de avaliar melhor, ao lado das pessoas que a cercam, o que está fazendo.
“Treinamento físico é uma coisa eu sempre fiz, mas tinha treino que eu não conseguia dar continuidade, porque é muita viagem, muito tudo. Agora eu estou conseguindo fazer uma periodização certinha, sem ter pausa, sem ter quebra. Treino técnico também. Coisas que antes eu fazia, mas por conta das viagens, não completava. Agora tá tudo certinho”.
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Brasil fora esse ano?
As viagens que cita são para em geral para competições, quase todas distantes, para Europa ou Ásia. Sobre os torneios, aliás, entende que a volta pós-pandemia seria melhor no início do ano que vem e não em setembro, como já chegou a ser ventilado pela FIJ (Federação Internacional de Judô). Além de achar mais justo, teme que o Brasil fique de fora se o circuito realmente voltar ainda em 2020.
“Eu lembro que quanto a gente foi competir no começo do ano cortaram a equipe da China, porque já tinham os casos lá. Então pode ser que aconteça isso com a gente também. Eles voltem as competições, mas excluam o Brasil, porque a quantidade maior de casos está sendo aqui”.