“É muito importante a gente dar a cara”. Responsabilidade social e empatia. Essas são as bases de Flávio Canto, fundador do Instituto Reação e um dos idealizadores do movimento Vencendo Juntos, que está distribuindo cestas básicas para famílias que moram em favelas em meio à pandemia do novo coronavírus.
Em live do Olimpíada Todo Dia deste sábado (30), Flávio Canto falou sobre o momento e de seu papel. “Porque a real é que a quarentena é um luxo. Eu estou aqui fazendo tranquilo, três ou quatro meses eu consigo ficar em casa. E quem me garante, de certa maneira, essa minha quarentena é a favela.”
“Nessa hora não é o quanto eu tenho que permite ficar de quarentena, é quantas pessoas estão lá fora trabalhando em supermercados, fazendo comida, ou que estão em postos de gasolina. E tem outras que nem trabalho têm, é nessas pessoas que a gente está tentando chegar com as cestas básicas.”
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O ex-judoca Flávio Canto sempre teve a consciência de que o esporte é uma ferramenta de mudança social e reuniu um grupo grande de esportistas para arrecadar fundos em “um momento tão complicado como este que estamos passando.”
“É o mínimo que a gente deveria fazer agora. Então esse movimento é um apoio para essa galera que não tem como não trabalhar. O trabalho deles é que me permite ficar em quarentena.”
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Vencendo Juntos
Hortência, Guga, Lars Grael, Gabriel Medina, Rodrigou Minotauro e tantos outros esportistas estão no Vencendo Juntos. Mas mais importante do que nomes, Flávio Canto busca ação e a realização de ideias. “É uma ação que tem tanta gente junta. Acho que a riqueza está nisso mesmo. A ideia tem que ser maior do que qualquer nome. As pessoas mais interessantes são mais propícias a seguir uma ideia do que um nome.”
O objetivo do movimento é dar cestas básicas para cerca de 33 mil famílias. “Nossa meta é de R$ 10 milhões. 33 mil famílias, três cestas básicas em três meses. Temos R$ 3 milhões e alguma coisa, e a gente segue na busca. Cada cesta básica a mais é mais uma família que ganha um alento nesses tempos difíceis.”
O momento
“É um período meio complicado, até meu pai que é uma fortaleza, está meio para baixo. Eu não consigo parar, então não deu tempo da depressão chegar, mas claro que está difícil lá fora.”
Flávio Canto tem noção de que a vida é dura e que cada um pode fazer a diferença. “É um momento bom para a gente reforçar a empatia nas pessoas. Eu exerço meu papel dentro do que puder, é uma responsabilidade social e é um caminho. E todos podem ajudar, sem distinção.”
Para fazer a doação, basta acessar o site do Vencendo Juntos. “As pessoas acreditam no nosso trabalho. Elas sabem que o dinheiro doado será convertido em cestas básicas e chegará no seu propósito, isso é credibilidade.”
O papel do esporte
Por que esportistas? Por que o esporte? “A vida é dura. E o esporte tem essa capacidade. Nesses momentos de apreensão da sociedade e da polarização, guerra política para todos os lados, até mais que a cultura, o esporte meio que fica neste meio, entre direita e esquerda, e isso facilita mobilizar as pessoas, trazê-las para a causa. O esporte tem esse poder, esse alcance.”
E ele pode falar por experiência própria. “Em 2000 eu estava no fundo do poço, tinha perdido a vaga olímpica, foi meu ponto mais baixo. E nessas horas, as pessoas tendem a buscar a força interna, eu fiz o contrário, fui procurar a força nas outras pessoas.”
O ex-judoca subiu na favela da Rocinha para dar sua contribuição, dando aulas de judô e entendeu que para se fortalecer era preciso agir e provocar uma reação nas pessoas. “Eu subi na favela como faixa preta, desci como faixa branca. Eu tinha muito a aprender e isso me fez recuperar a força interna.”
Não à toa, os melhores resultados na carreira vieram depois que ele começou dando os primeiros passos para a criação do Instituto Reação. “Me falavam que isso seria uma distração, que eu não conseguiria, mas foi o contrário. A reação que eu precisava veio das pessoas que eu ajudo na favela.”
Flávio Canto foi bronze em Atenas-2004 e ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo-2003.