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Está chegando a hora da verdade para a candidatura do Rio às Olimpíadas de 2016

Coluna Diário Esportivo, publicada na edição de 10 de abril do Diário de S. Paulo


Só beleza não adianta

“Em determinado momento da regata, ficamos com lixo preso no barco, uma situação muito chata. Se não fosse uma prova curta como essa, o certo seria andar para trás para que o lixo se soltasse, mas no meio de uma regata de porto é claro que isso era inviável. Para uma cidade que quer receber os Jogos Olímpicos, a água da Baía de Guanabara não é uma coisa bonita de se mostrar”. Estas palavras, que por si só possuem um peso negativo considerável para o Rio de Janeiro, que disputa o direito de ser sede dos Jogos Olímpicos de 2016, têm uma importância ainda maior quando se conhece o autor: Torben Grael, bicampeão olímpico na classe Star do iatismo, nas Olimpíadas de Atlanta-96 e Atenas-04.

As críticas de Torben, feitas logo após uma regata da etapa do Rio na Volvo Ocean Race, no último final de semana, devem servir, acima de tudo, como um alerta às ondas de ufanismo que começarão a surgir nos próximos meses e que terminarão no dia 2 de outubro, data da escolha da sede dos Jogos de 2016, em Copenhague, na Dinamarca. Com o início das visitas da comissão inspetora do Comitê Olímpico Internacional (COI) pelas quatro candidatas, começarão a pipocar aqui e acolá conhecidas “estratégias de campanha”, procurando enaltecer ao máximo o que é bonito e esconder a todo custo o que não presta.

Na última terça-feira, por exemplo, ao encerrar a visita a Chicago, a comissão do COI não poupou adjetivos, classificando a candidatura como “forte e impressionante”. Coincidentemente, os reflexos da crise mundial nos EUA nem foram citados. Os coordenadores da candidatura de Tóquio divulgaram que a capital japonesa é quem está mais qualificada para receber os Jogos devido a razões históricas, econômicas e ambientais. Madri tem o apoio declarado do ex-presidente do COI, Juan Antonio Samaranch. E a campanha do Rio, que em seu dossiê de apresentação apostou forte no conceito “Cidade Maravilhosa”, com certeza não poderá se orgulhar da Baía de Guanabara, após as duras palavras de Torben Grael. Ao contrário do que disse certa vez o ex-prefeito César Maia, nem sempre beleza é fundamental.

Recordar é viver
A despoluição da Baía de Guanabara fazia parte do chamado “legado do Pan”. Nem é preciso dizer que nada foi feito. Aliás, por que é que o TCU ainda não divulgou o relatório sobre a prestação de contas do Pan 2007?

Dinheiro desperdiçado
Cada um faz o que quiser com seu dinheiro. Mas não teria sido melhor o empresário Eike Batista investir os R$ 10 milhões doados à candidatura dos Jogos de 2016 para ajudar atletas que sofram com a falta de patrocínio, como a judoca medalhista olímpica Ketleyn Quadros, ou então contribuir para o tratamento da ginasta Jade Barbosa, que tem uma grave lesão no pulso direito?

Líder em gastos
Os Jogos de 2016 podem custar ao governo do Brasil R$ 29,5 bilhões. Mais do que o orçamento de Tóquio e Chicago somados.

Foto: um flagrante da poluída Baía da Guanabara, no Rio

A coluna Diário Esportivo, assinda por este blogueiro, é publicada às sextas-feiras no Diário de S. Paulo

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