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Judô

Perpetuação de mestres da lição de Kano leva Reação adiante

Visando expandir os valores do Sensei Kano, Instituto Reação abre em Cuiabá primeiro polo fora do Rio de Janeiro

Inauguração do Instituto Reação em Cuiabá
Sede do Instituto Reação, inaugurado em Cuiabá (Marcello Zambrana)

A vida de um judoca segue, durante todo desenvolvimento no esporte, preceitos bem fundamentados. Disciplina, respeito, honra, dedicação são alguns deles, idealizados por Jigoro Kano, japonês que criou o judô. Os praticantes aprendem todos desde os primeiros passos no tatame e os levam para a vida toda, mesmo quando param de lutar.

Assim é em todo lugar onde a arte marcial está, como no Instituto Reação, projeto idealizado pelo judoca Flávio Canto que oferece a prática do judô em comunidades carentes. Em atividade desde o ano 2000 no Rio de Janeiro, com destaque para a Rocinha, inaugurou nesta terça-feira (3) o primeiro polo fora da capital fluminense, em uma escola municipal na cidade de Cuiabá, terra do também judoca David Moura.

“Dia especial demais, emocionante”, resume Canto, minutos antes da cerimônia oficial de inauguração. “Fico lembrando de quando a gente veio passear na escola. O diretor é faixa preta de judô, nota mil. Tinha um terreno e hoje vamos inaugurar. É uma honra. Sempre foi um desafio sair do Rio e não podia ser mais acertado estar aqui, com as pessoas que estão conosco. É o começo de uma longa jornada, formando faixas pretas dentro e fora dos tatame”, acrescentou o ex-atleta de 44 anos, que parou de competir em 2012. “Isso aqui (o Reação) é uma fábrica de gigantes”.

Flávio Canto e David Moura durante a inauguração do Instituto Reação em Cuiabá
Moura e Canto (Marcello Zambrana)

O espaço, chamado de dojô, tem 150 metros quadrados e capacidade para cerca de 270 crianças. Fica nas dependências da Emeb Professor Firmo José Rodrigues, no bairro de Três Barras. Há também um outro espaço com presença do Reação no município, na Cidade Alta. Vão ser capitaneados por David Moura, pronto para seguir os passos de Flávio Canto na continuidade do protagonismo dentro do esporte após o “matê” nas competições.

David tem 32 anos e tenta vaga nas Olimpíadas de Tóquio esse ano. A próxima será só em 2024, em Paris. Se não estiver na capital francesa daqui a quatro anos, ele certamente estará na mato-grossense travando a mesma luta em busca dos princípios do judô.

“E isso me conforta, porque o atleta às vezes sofre do ‘depois’. O que eu vou fazer depois? E eu sei que tenho uma grande missão após a minha carreira como atleta, que é tocar esse maravilhoso barco aqui e se possível fazer ele crescer cada vez mais”, diz Moura.

“Isso é a maior conquista da minha carreira. As medalhas enferrujam, mas as crianças que a gente transformar, vão transformar o nosso país, a nossa cidade, para melhor. Para que elas consigam ser campeãs onde quer que elas estejam. Na profissão, como pai, como filho…”, acrescenta.

Princípios do Judô no Reação

Há uma linha filosófica que norteia o Instituto Reação. Vem de um princípio criado por Jigoro Kano: o Jita Kyoei. Canto explica: “é o princípio máximo do judô: benefício e prosperidade mútuos, que inspirou todo o nosso método”.

Durante um “aulão” que fez com os alunos que foram participar da inauguração, o judoca detalhou o método. Falou sobre a coragem de dar o primeiro passo em busca de um objetivo, a humildade e a disciplina para conseguir superar os reveses, honra de buscá-los de forma honesta, e mentalidade grande para sempre querer o melhor. “Se tirou sete na prova dá para tirar dez, ué? Dá ou não dá?”

Por fim, Flávio Canto falou sobre a importância de compartilhar com o mundo o que aprendeu na jornada, para benefício e prosperidade de todos. “Construir, conquistar e compartilhar é o nosso lema”, resume Canto.

Sensei David Moura

Para expandir esses princípios para fora do Rio de Janeiro, o Reação buscou pessoas com um perfil específico. “O David é um achado, tem características raras, que eu sempre procurei. Não só ele, mas a família toda”, explica Flávio Canto. “É muito mais fácil a gente tomar conta de alguns projetos e ter outros grupos tomando conta de outros, do que ser meio que o líder de tudo. A gente precisa pulverizar liderança”.

David Moura durante a inauguração do Instituto Reação em Cuiabá
David Moura com a garotada do Reação em Cuiabá (Marcello Zambrana)

David “explica” porque foi o escolhido: “Quando ele (Canto) encerrou a carreira eu fui buscar ele para ser meu técnico. Ele topou e eu comecei já a usar muito o tempo dele, sempre, e toda a estrutura que o Reação oferece. E aí, é claro, eu passei a estar muito grato, pensando como eu poderia ajudar de alguma forma o Instituto. Aí o Flávio me convidou para ser atleta (do Reação), o que já para mim foi uma grande honra”, conta. “Eu passei a entender a grandiosidade do trabalho que era feito ali, passei a me sentir mais forte por representar um clube diferente”.

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Inspirado, começou com um movimento próprio, o Instituto David Moura. Aí veio a proposta para o Reação. “Foi uma honra gigantesca para mim. Eu ganhei muito com isso, minha cidade ganhou muito com isso”, lembra, sem esquecer dos parceiros. “A gente não faz nada sozinho, são várias mãos boas. A começar pela ideia do Flávio, o Reação, que acreditou no nosso trabalho, o Banco BV, que foi quem financiou tudo isso aqui”.

Cuiabá é o primeiro fora do Rio. Há planos para mais. “Eu queria ter um polo desses aqui em cada grande região. São Paulo eu acho que o próximo. Eu tenho algumas pessoas com essas características, que não são fácil de achar. É uma baita responsabilidade. É uma dedicação. A vida muda, para melhor, mas ao mesmo tempo você põe um monte de filho que passa a fazer parte da sua caderneta de responsabilidade”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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