Depois de seis anos sem disputar um Grand Slam, Teddy Riner é presença confirmada em Brasília, que recebe a competição entre domingo (6) e terça-feira (8). O francês vem para a capital federal precisando correr atrás de pontos cruciais para garantir a classificação para Tóquio 2020.
A atual posição de número 58 entre os peso pesados do ranking mundial não representa, nem de longe, o significado de Teddy Riner para o cenário do judô internacional. Maior nome da modalidade, o francês dez vezes campeão mundial e bicampeão olímpico passou longos 20 meses afastado das competições, desde o ouro no Mundial Open do Marrocos, em novembro de 2017. O retorno, obviamente ocupando o topo do pódio, foi em julho deste ano, no Grand Prix de Montreal.
No Japão, Teddy Riner poderá fazer ainda mais história. Caso alcance o tricampeonato dos Jogos Olímpicos, o atleta irá igualar em número de ouros o japonês Tadahiro Nomura, campeão das edições de Atlanta 1996, Sydney 2000 e Atenas 2004. O francês, contudo, tem ainda um bronze em Pequim 2008. Dessa forma, os Jogos de Tóquio, no berço do judô, ganham uma relevância ainda maior, podendo registrar um novo recorde quebrado pelo aparentemente imbatível atleta de 30 anos e 2,03m de altura.
Paris 2024?
Mais do que isso: se chegar até Paris 2024, Teddy Riner terá a oportunidade de sacramentar sua hegemonia, dentro de casa, com um inédito tetracampeontato olímpico. “Acho que ele tem a intenção de lutar em 2024, na casa dele. Então ele optou por fazer um ciclo mais curto pensando em Tóquio”, avalia Rafael Silva, o Baby, brasileiro mais bem colocado na categoria +100kg, em quarto lugar.
A última derrota de Riner nos tatames já registra nove anos: foi em 13 de setembro de 2010, diante do japonês Daiki Kamikawa, na final do Mundial Open em Tóquio. Desde então, são 148 vitórias consecutivas. Neste ano, apesar de ter disputado o torneio no Canadá, Riner decidiu não se expor e ficou de fora do Mundial de Tóquio.
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Sem seu maior protagonista, a França, que sempre colhe resultados na modalidade, viu sua força migrar predominantemente para as categorias femininas. Os três ouros conquistados pelo país no Japão foram por mulheres: Clarisse Agbegnenou (63kg), Marie Eve Gahie (70kg) e Madeleine Malonga (+78kg). Margaux Pinot (70kg) e Axel Clerget (90kg) – o único homem entre os medalhistas individuais – ainda garantiram bronzes, enquanto a equipe mista ficou com a prata.
Classificação olímpica
Para garantir a participação em 2020, Riner – e qualquer outro aspirante a medalhas olímpicas – precisa figurar entre os 18 melhores da categoria. Hoje com 700 pontos no ranking, o francês pode somar, de cara, mais mil pontos em Brasília. Ainda assim, precisará acumular mais vitórias até 25 de maio do ano que vem, quando se encerra a classificação para os Jogos. O atual líder da categoria é Guram Tushishvili, da Geórgia, com 6.936 pontos. Para se ter uma ideia do que Riner precisa somar, hoje o 18º colocado é Maciej Sarnacki, da Polônia, com 2.656 pontos.
Até lá, no entanto, ainda há outras seis etapas do Grand Slam (Abu Dhabi, em outubro; Osaka, em novembro; Paris e Dusseldorf, em fevereiro; Ecaterimburgo, em março; e Baku, em maio), além do Masters em Qingdao, na China, em dezembro, torneio que soma ainda mais pontos no ranking mundial. “Ele vai ter tempo para isso. Acho que vai escolher algumas competições para conseguir a classificação até maio e entrar como cabeça de chave”, aponta Baby.
Dono de dois bronzes olímpicos, em Londres 2012 e no Rio 2016, Rafael Silva tem hoje 4.240 pontos, na quarta colocação da listagem internacional. Pouco atrás dele, e em uma forte rivalidade interna pela vaga olímpica, está David Moura, em sexto, com 3.910. Conhecidos rivais de Riner, nenhum dos brasileiros jamais conseguiu superar a lenda. Baby teve nove oportunidades, enquanto David teve três. Ambos estão confirmados na competição em Brasília.
“Acho interessante ele voltar no Brasil. Ele quer confrontar os brasileiros porque nós estamos sempre brigando por um lutar no pódio. Para mim é sempre um privilégio lutar com ele, com certeza ele é o principal adversário pensando em Tóquio”, reforça Baby, quinto colocado no Mundial deste ano, após voltar de uma lesão na mão esquerda.
Estreia de Brasília
Além de Rafael Silva e David Moura, a seleção brasileira contará com outros 54 representantes, já que, na posição de país anfitrião, o Brasil pode inscrever até quatro atletas por categoria, enquanto os demais recebem um limite de dois nomes por peso. Entre os convocados está, por exemplo, a bicampeã mundial e duas vezes medalhista olímpica Mayra Aguiar (78kg). Felipe Kitadai (60kg), Ketleyn Quadros (63kg) e Rafaela Silva (57kg), além de Baby, também compõem a lista de medalhistas olímpicos inscritos no torneio. Dos 56 convocados, 38 fazem parte do programa Bolsa Atleta da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
Os investimentos federais também foram cruciais para a realização do evento no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), local com capacidade para receber 2.500 torcedores. Por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, foram captados R$ 2 milhões, enquanto outros R$ 3 milhões vieram por emendas parlamentares.
Esta é a quinta vez que o país sedia uma etapa de Grand Slam de judô, sendo o primeiro fora do Rio de Janeiro. São 347 atletas inscritos de 60 países, com 194 homens e 153 mulheres. A entrada é franca, sujeita à lotação do espaço.
*Ana Cláudia Felizola – rededoesporte.gov.br