Assim que informaram que o período para entrevistas seria de aproximadamente duas horas e meia, Rafaela Silva foi a única dos atletas escalados para o evento que se impressionou com o horário, fez graça e lamentou. Ela sabia que ficaria o evento todo à disposição dos jornalistas e que teria uma longa jornada de entrevistas, filmagens e fotos. E Rafaela Silva não esconde suas emoções.
Só que isso pode se tornar uma barreira, ainda mais antes dos Jogos Pan-Americanos. A judoca já tem o ouro na Rio-2016 e é campeã mundial, além de uma prata e um bronze na disputa continental. Falta o ouro inédito, que pode vir em Lima. Mas para isso, Rafaela precisa manter a cabeça fria.
“Para mim, que qualquer coisa me tira do sério, o Pan-Americano é umas das competições mais difíceis que eu vejo. Todo mundo da comissão técnica já veio falar comigo. Calma, relaxa, deixa chegar lá. Agora, se me chutar, eu vou chutar de volta!”, explode Rafaela, que admite ter o pavio curto.
“Lutar pela Pan-Americana é muito difícil, é um judô mais defensivo. Às vezes a gente acaba perdendo a cabeça, esquece da estrategia da luta, e acaba perdendo a luta por causa disso. A gente viu muito isso no Pan-Americano de abril. Tem que manter o foco e a cabeça no lugar”.
Uma prova que ela está focada e com a cabeça no lugar? “Hoje ainda está tranquilo”, diz Rafaela Silva após perguntas e mais perguntas dos jornalistas por mais de duas horas e meia em evento promovido pelos patrocinadores da atleta, que teve um momento de muita proximidade com todos os veículos de comunicação presentes. Todos querem saber o que se passa pela cabeça de Rafaela Silva, que chegou a ter o seu desempenho afetado tamanha a fome da imprensa para com a judoca.
“Em 2017 e 2018 eu vinha para São Paulo três vezes na semana para fazer este tipo de evento. Eu não conseguia concluir uma semana de treino. Eu estava descendo no ranking mundial, correndo o risco de ficar de fora da Olimpíada de Tóquio. Agora minha prioridade voltou a ser o treino. É isso que está me ajudando a ter o bom desempenho no ano”, diz a sorridente Rafaela Silva.
E a temporada atual também prova que ela está com a cabeça no lugar, e olha que o ano da judoca já teve um pouco de tudo. Foram quatro eventos batendo na trave no começo da temporada. Mas no Grand Slam de Düsseldorf, na Alemanha, quando estava lesionada e mesmo assim entrou em ação, Rafaela lutou com a perna amarrada e só parou na final quando perdeu da japonesa Tsukasa Yoshida. Mas a revanche não demorou e veio no Grand Slam de Baku, no Azerbaijão. A brasileira, pela primeira vez, superou Tsukasa Yoshida e ficou com o ouro.
E para Lima 2019, o objetivo também é conquistar algo pela primeira vez: o tão desejado ouro. Surpreender para alcançar um grande desafio. Manter os nervos no lugar para encarar os Jogos Pan-Americanos. Rafaela Silva está no centro das atenções, tanto da mídia, quanto das adversárias e sabe que tem que controlar as emoções. A judoca brasileira é a adversária a ser batida dentro dos tatames. E não só nos tatames das Américas.
Depois de Lima, tem o Mundial de Tóquio, que será uma prévia do que virá em 2020. 20 dias depois de lutar em Lima, Rafaela vai estar lutando no Japão. “Vai dar para descansar o corpo e conciliar as duas competições. Focar nos Jogos Pan-Americanos e depois entrar no clima do Mundial. E eu tenho que ter algo novo para surpreender. Porque se eu entrar como a Rafaela de 2016, todo mundo já está esperando. E eu estou trabalhando para surpreender minhas adversárias no Mundial e na Olimpíada de Tóquio”.