“Foi a melhor decisão da minha vida”. Essa é a frase de Barbara Timo, 27, sobre a decisão de sair do Brasil, lutar pelo Benfica e se naturalizar para defender Portugal. Com passagem pela Seleção Brasileira de Judô, Pinheiros e Flamengo, a agora atleta portuguesa decidiu em novembro de 2018 migrar para o velho continente.
“A decisão aconteceu por uma das séries de fatores. Existia o meu desejo de morar fora do Brasil, o sonho de disputar uma Olimpíada, então, em uma brincadeira decidi passar férias em Portugal, as conversas começaram, ficaram mais sérias e o período que seria usado para férias acabou sendo de reuniões, e decidi, junto com a Rochele, vir defender o Benfica e Portugal”, comentou Barbara.
Na etapa de Paris do Grand Slam de judô, que aconteceu no começo de fevereiro, Barbara Timo conseguiu uma campanha muito boa. Com cinco vitórias em seis lutas, incluindo contra a brasileira Maria Portela, a judoca de Portugal conquistou a medalha de bronze, em sua segunda competição pelo novo país.
Confira a luta em que Barbara Timo conquistou a medalha de bronze no Grand Slam de Paris
Além da conquista, para a atleta, o desempenho na competição foi o que mais marcou. Lutando de uma maneira diferente do que se via, Barbara Timo passou a ser muito mais intensa em suas lutas, conseguindo colocar pressão em suas adversárias logo nos primeiros instantes do confronto e, com isso, conseguindo ficar em vantagem no placar. Para a judoca, essa mudança se deve por conta de alguns fatores.
“Minha cabeça mudou, agora eu tenho una tranquilidade em torno das competições. O treino físico também, faço a parte física com muito mais intensidade e me sinto mais forte o que me dá confiança. (Em Paris) fiquei mais feliz de ter ganho da francesa e da canadense, pois são meninas que me davam mais dificuldade no treino, e ainda tenho raiva da semifinal (onde acabou derrotada de virada pela japonesa Yoko Ono)”, comentou a judoca.
Confira o vídeo da luta entre Barbara Timo x Yoko Ono
Também no Grand Slam de Paris, Barbara teve, pela primeira fez na carreira como portuguesa, que enfrentar uma adversária que representava o Brasil. Por ter passado alguns anos com Maria Portela na Seleção Brasileira, disputando a vaga de titular na categoria até 70kg, além de ter enfrentado a adversária em competições por clubes, Barbara não viu muita diferença pelo duelo, agora, ser com cada uma das judocas lutando por seus países.
“No momento eu nem sabia o que estava acontecendo, estava muito focada. Já lutei muito com ela, então chega uma altura que a tática tem que prevalecer pois nos conhecemos muito, e foi o que fiz”, disse Timo.
Confira o vídeo da luta entre Barbara Timo e Maria Portela
Mudança de país visando a Olimpíada
Como todo atleta de alto rendimento, Barbara Timo tem o sonho de participar de uma edição de Jogos Olímpicos. Visando a edição que acontece em Tóquio no próximo ano, Barbara e Maria Portela disputavam a mesma vaga, com vantagem para Portela por ser a titular da categoria, ter disputado uma Olimpíada, ter maior experiência internacional e uma melhor posição no ranking mundial.
Por conta desses elementos, quando a conversa se iniciou, ainda em 2018, sobre a possibilidade de se naturalizar e lutar por Portugal, além de se tratar de um sonho próprio, Barbara Timo assume que o fato de ter um caminho mais tranquilo para disputar as próximas edições dos Jogos Olimpícos pesou na escolha.
“Quando o convite (para ser atleta do Benfica e de Portugal) se concretizou, o fato de que não tinha nenhuma representante portuguesa na categoria, pesou muito, e por sorte eu ainda sou da categoria da equipe mista. A possibilidade de disputar a Olimpíada por Portugal acredito que era mais viável, então optei pela naturalização”, comentou Barbara.
Para chegar até Tóquio a caminhada será longa. De acordo com o regulamento do Comitê Olímpico Internacional, COI, para o judô, os 18 melhores atletas de cada categoria se classificam para a disputa das Olimpíadas. Contudo, se entre os classificados houver atletas do mesmo país, somente um deles irá para os jogos, deixando o critério de definição para o país em questão, abrindo assim vaga para judocas abaixo dos 18 primeiros.
Levando em consideração a última atualização do ranking mundial de sua categoria, até 70kg, Barbara Timo ocupa a 50ª colocação. A medalha na etapa de Paris conquistada no começo do mês deve fazer com que a atleta portuguesa suba algumas posições, mas visando a participação em Tóquio é preciso que Barbara suba bem no ranking.
Para Barbara, a nova etapa da vida e carreira em Portugal trouxe para o tatame uma atleta diferente. Mais confiante, se sentindo mais preparada e em constante evolução, buscando melhorar dentro e fora dos tatames e aumentando seu autoconhecimento.
“Acho que continuar o processo. É uma caminhada. Terei muitas oportunidades para pontuar e muitos treinamentos de campo pela Europa. Vejo que estou no caminho certo e o melhor que ainda tenho muito a evoluir. Já estava motivada, mas olha, essa medalha de Paris veio para encher o tanque da motivação”, comentou a judoca.
Entenda como vai funcionar o ranking para Tóquio 2020
O atleta soma 100% de todos os pontos que fizer nos torneios em um ano e mais 50% do que tiver nos 12 meses anteriores. Para Tóquio, conta até 24 de maio de 2020. Então a partir de 25 de maio de 2019 tudo o que os atletas somarem conta 100% dos pontos. E entre 24 de maio de 2019 e 25 de maio de 2018, somarão 50% do total conquistado.
Do tatame para a vida
Desde as primeiras brincadeiras, que passaram para conversas mais sérias e reuniões até que o processo de naturalização fosse finalizado, uma pessoa tem um importância grande para Barbara Timo. Telma Monteiro, que representa Portugal na categoria até 57kg, que tem como campeã olímpica Rafaela Silva, é uma referência para Barbara na modalidade e saber que está treinando e convivendo com ela é motivo de felicidade.
“A brincadeira (que foi onde todo o processo nasceu) foi com a Telma Monteiro em um treinamento. Eu digo isso de coração, sempre fui fã mesmo. Eu assistia aos vídeos dela, acompanhava e tentava aprender. Hoje é muito bom estar ao lado de quem admiramos. Ano passado já estava ao lado de quem admiro, mas agora está perto de quem admiro e ser uma mulher forte, independente, de caráter é muito bom”, disse Barbara.
Vivendo em Portugal desde o fim de agosto de 2018, Barbara vê a vida no país europeu, e mais precisamente em Lisboa, diferente de tudo que já havia vivido. Não só pela estrutura que tem a sua disposição, mas por tudo que a cidade possui. Apesar disso tudo, a judoca não nega que sente falta de algumas coisas.
“Eu me sinto melhor, estou crescendo como pessoa, tenho amigos, técnicos e um clube que me apoiam e me deixam confortável. Sinto imensa saudade da minha família e do meu cachorro, mas não me arrependo nem por um segundo dessa decisão”, finalizou a atleta, agora, portuguesa.