“Eu tenho má formação congênita dos membros inferiores e do membro superior direito”. É assim, de bate-pronto, que Júlio Braz responde ao ser perguntado sobre a deficiência que tem. O problema é de nascença, mas o hoje atleta da seleção brasileira de rugby com cadeira de rodas sempre soube tirar de letra. “A minha vida sempre foi assim. Eu sempre pratiquei esportes. Eu nunca deixei a dificuldade me abalar. Eu sempre fui em busca daquilo que eu queria e dos meus objetivos. Eu olhava para a dificuldade e via apenas um degrau na minha vida, que eu tinha que subir e alcançar”. A afirmação não fica só no discurso. Superação não falta no dia-a-dia do carioca de 27 anos, que anda de skate e bicicleta, além de jogar futebol entre pessoas sem deficiência.
“Faço inúmeros esportes, jogo futebol, jogo vôlei, skate, ando de bicicleta… Já fiz muitos esportes. O que for radical e me chamarem, estou fazendo”, garante Júlio Braz. A maneira como ele joga futebol impressiona. Ele usa as mãos no lugar dos pés e, em vídeos publicados nas redes sociais, mostra muita habilidade, dando, inclusive, rolinhos e chapéus nos adversários. (Veja um pouco do que ele é capaz no vídeo abaixo).
“Eu sempre pensei em fazer tudo o que uma pessoa sem deficiência fazia. Lógico que eu sei das minhas limitações, mas eu nunca olhei para elas como um bloqueio na minha vida. Sempre olhei acima delas”, diz Júlio Braz, que costuma lançar alguns desafios nas redes sociais como subir escadas plantando bananeira ou fazer flexões com um braço só.
Principal destaque da Seleção Brasileira na estreia do Parapan com 20 tries marcados na vitória de 48 a 41 sobre a Colômbia, Júlio Braz joga rugby em cadeira de rodas apenas desde 2015. De lá para cá, já foi eleito o melhor da modalidde no Prêmio Paralímpico de 2016 e 2017.
“Eu era atleta de handebol em cadeira de rodas quando eu conheci o rugby e foi paixão à primeira vista. Depois que eu vi uma cadeira batendo na outra porque eu sempre gostei de esportes radicais. Então, o rugby mudou minha vida completamente”, conta o camisa 11 da Seleção.
No dia-a-dia, a rotina de Júlio Braz para se manter no esporte não é simples. “Eu sou atleta do Minasquad Rugby, que é de Belo Horizonte, e me divido entre o trabalho, que é no Rio de Janeiro e os treinos com o pessoal em Minas. É uma vida corrida, que eu escolhi. Então, estou indo para cima e é assim”, explica.
Mas como é possível trabalhar numa cidade e treinar em outra, que fica a 440km de distância? “Costumo ir uma semana por mês para Belo Horizonte para treinar com meus companheiros, mas quando estou no Rio de Janeiro eu costumo estar treinando a parte física como na academia, como tocando cadeira na rua, numa pista de atletismo e depois eu vou para lá para reunir com meus companheiros para treinar a parte tática”.
Apesar de não poder se dedicar 100% à vida de atleta, Júlio Braz não deixa o esporte nem na hora de trabalhar. “Sou funcionário público na cidade de Mesquita, no Rio de Janeiro, e trabalho com esporte adaptado na Vila Olímpica da minha cidade. Trabalho na parte de coordenação de esporte adaptado e estou estudando educação física. O esporte é minha vida”.