O Brasil chegou nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019 com a maior delegação da história: 513 integrantes e 337 atletas, em 17 modalidades. A Seleção quer repetir o feito das últimas três edições e terminar no primeiro lugar do quadro de medalhas. A distância das sedes e o trânsito da capital peruana preocupam, mas o que pode mesmo afetar o número de pódios são as reclassificações.
“Algumas modalidades tem as suas classificações funcionais e ainda estão em processo de classificação. Natação, atletismo, o voleibol ontem e outras modalidades. O ciclismo ainda vai ser feita. É sempre um período muito tenso a questão da classificação, porque, na nossa opinião, ela ainda está muito interpretativa e muito menos objetiva do que a gente gostaria que estivesse pra que houvesse a maior ‘justeza’ possível nas competições, mas tirando isso acho que a delegação está muito preparada, todos os atletas, todas as equipes. E nós esperamos que tenhamos aí além da maior delegação, a melhor delegação de todos os tempos,” contou Alberto Martins, diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro e Chefe de Missão.
É difícil entender, quem vive o movimento paralímpico sabe que isso é comum, mas a escala que vem sendo apresentada em Lima 2019 é um pouco maior do que os últimos tempos. Todo atleta tem o que eles chamam de classe, que é a classificação funcional de cada um, definida de acordo com o nível de deficiência. Cada esporte possui a sua classificação específica, podendo ser oftalmológica, para os atletas com deficiência visual, funcional, para os atletas com deficiência física, e psicológica, para atletas com deficiência intelectual.
Essa categorização permite que as disputas sejam justas e equilibradas. As participações em competições nacionais, internacionais e em Jogos Parapan-Americanos ou Paralímpicos dependem do rendimento de cada atleta. Depois de iniciada a caminhada, as classes podem ir mudando, por isso são necessárias as reclassificações. Até um dia antes das provas elas podem acontecer em Lima 2019, por exemplo.
“Com certeza no final dessa competição a gente já tenha um parâmetro mais concreto para dizer (sobre Tóquio, por exemplo).” Por enquanto, existe a preocupação com diversos casos que podem afetar a reclassificação e distribuição de provas. Um deles é o campeão Antônio Tenório, do judô, que compete na categoria acima de 100kg, mas terá que disputar até 100kg. Para isso, ele precisa perder 3,5kg até sexta. Tenório está treinando com um blusão e um kimono por cima para ajudar.
“Isso é sempre um problema pra gente. Infelizmente não é só com o Tenório a junção de classe, mas isso é decorrente do número de atletas que vem pra competição e, muitas vezes, não da para se fazer uma classe separada. Aí eles fazem essa junção. Com certeza, os maiores prejudicados somos nós como país, o Brasil, que traz uma delegação para competir como um todo, mas quando não tem competidores ela tem essa junção. Isso aconteceu na natação, aconteceu no atletismo. Por exemplo, estávamos projetando um número de medalhas, com certeza, esse número de medalhas cai. Não só pela junção da classe, mas também pelo cancelamento de provas, que foi que ocorreu, por exemplo, na natação. Nós vamos ter provas juntadas, mas também vamos ter provas que não vão medalhar. Não vão contar como medalha, elas só vão contar para aferição e contagem de tempo. Isso também a gente está avaliando se realmente vale a pena participar dessa prova, ou não, então os coordenadores e técnicos chefes já estão avaliando isso,” explicou Alberto.
“No caso do Tenório específico a gente, realmente, sente muito, porque o Tenório é um ícone do esporte. Um atleta paralímpico já de renome internacional, com quatro medalhas paralímpicas. Isso não é qualquer um, mas eu acho também que o Tenório é um atleta que a gente pode esperar qualquer coisa em qualquer peso. Acredito que ele vai conseguir superar isso,” completou. Outros muitos atletas podem ser afetados: Daniel Dias, Susana Schnarndorf e por aí vai.
Um exemplo apenas a critério de explicação: Petrúcio Ferreira é classe t47 e Yohansson Ferreira t46. Um sofreu um acidente e é amputado parcialmente do braço esquerdo, enquanto o outro nasceu com má formação em ambos os membros superiores: coisas diferentes, mas correlacionadas. Os dois correm a mesma prova. O que torna o esporte paralímpico cheio de adaptações e classificações.
Tudo isso pode afetar diretamente o número de medalhas brasileiras. Atletas com provas que não medalham e muitas classes juntas. Para quem tem uma delegação tão grande, pode diminuir sim o número de conquistas, por isso é melhor aguardar para uma projeção: “Eu gostaria de não falar de projeção agora, porque realmente depois que… Um dos problemas que nós tivemos, realmente, em Lima foi com relação a essa organização com a programação, ela está sendo encaminhada muito em cima, então a gente está esperando sempre. Todos os dias chegam atualizações, ou seja de provas, de cronogramas, atualização de qualquer outro elemento da competição. Então a gente ainda não fez, refez, essa projeção. A cada dia a gente vai fazendo uma projeção. Vamos esperar a competição iniciar agora e finalizado a programação, não mexer mais nas provas, então aí sim a gente vai fazer uma projeção.”
Desde 2007, o Brasil lidera o quadro de medalhas. Em Toronto 2015, conquistou 257 pódios, dos quais, 109 de medalhas de ouro, 74 de prata e 74 de bronze. Mizael Conrado, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, falou em bater 100 medalhas de ouro. A meta é maior, mas não definida com precisão: “Na verdade nossa expectativa é mais de 100. Essa é a nossa expectativa. A gente vem com a meta de bater Toronto, essa seria nossa meta mesmo, mas, logicamente, e a gente vai aprendendo com isso, cada grande evento desse é um evento diferente. Então em Toronto não teve tantas modificações, que estão tendo aqui, mas mesmo assim a gente está muito confiante que consiga chegar às nossas expectativas,” finaliza.