O jeito de caminhar, o de olhar, de falar com as atletas, de corrigir os detalhes errados que vê não escondem: Fernando Guimarães puxou a família. O sobrenome não deixa dúvidas, o atual assistente técnico da Seleção Brasileira de vôlei sentado é o irmão mais novo do tricampeão olímpico José Roberto Guimarães.
Um pouco diferente do técnico da Seleção Brasileira de vôlei feminino, que permanece no cargo desde 2003, Fernando Guimarães fez história como treinador da modalidade paralímpica mas entre os homens. Entre os anos de 2010 e 2016 Fernando esteve no comando da equipe masculina de vôlei sentado, com quem conquistou dois títulos dos Jogos Parapan-Americanos, uma medalha de prata no Mundial de 2014, sendo quinto colocado na Paralimpíada de Londres (2012) e quarto na do Rio de Janeiro (2016).
Depois desse longo período a frente da Seleção Brasileira masculina e após três anos fora, Fernando Guimarães aceitou o convite para ser assistente técnico da equipe feminina no começo de 2019 e volta a defender o Brasil em competições oficiais nos Jogos Parapan-Americanos de Lima. Contudo, porque essa volta? Porque voltar depois de três anos em uma função diferente? Porque agora? Fernando tem a resposta na ponta da língua.
“Porque eu gosto demais disso. O José Roberto Guimarães me perguntou isso quando eu falei que iria voltar e falei exatamente isso. Não consigo viver sem o vôlei sentado e tenho a questão da Paralimpíada entalada na garganta ainda”, disse Fernando Guimarães.
O que está entalado na garganta do, agora, auxiliar técnico da Seleção Brasileira feminina de vôlei sentado é a falta da medalha paralímpica. Nas duas oportunidades que teve de disputar os Jogos Paralímpicos, Fernando Guimarães acabou saindo com sensações diferentes. Em Londres, o técnico não ficou triste com o Brasil ter terminado com o quinto lugar, muito em conta por ter assumido o comando da equipe na metade do ciclo, e o resultado foi visto como bom.
Contudo em 2016 as coisas não foram assim. Trabalhando durante os quatro anos de ciclo paralímpico, conquistando os Jogos Parapan-Americanos, terminando o Mundial de vôlei sentado com a medalha de prata e por jogar no Brasil, Fernando almejava mais, buscava a medalha. Porém, uma derrota para o Irã, que conquistaria a medalha de ouro, na semifinal e um revés para o Egito na disputa da medalha de bronze deixaram o Brasil fora do pódio.
“Não tem um dia que eu não lembre disso, por isso eu estou aqui. Se eu não voltasse eu não saberia como seria porque eu ficava o tempo todo pensando “se eu estivesse lá…”. Eu precisava estar aqui porque eu acho que ficou faltando. As meninas estão dedicadas, o time é um bom time, vejo que temos muito para crescer. Vejo que estava incompleto (antes da volta)”, disse Fernando.
Volta na função que não deu certo nem com o irmão
Ser assistente técnico na vida de Fernando Guimarães não é comum. Durante sua carreira sempre esteve a frente das equipes como o treinador principal e normalmente de equipes masculinas. “É diferente porque eu estou voltando com o feminino, não com o masculino, e para uma função que eu nunca fiz que é de assistente técnico. É novo, eu nunca fui e nem com o José Roberto Guimarães deu certo. Quando me chamaram eu avisei que tinha sido assistente técnico do meu irmão e durou três dias (risos)”
Na nova função desde o começo de 2019, Fernando Guimarães não esconde que no começo teve medo do que poderia acontecer, mas a forma de trabalho da comissão técnica da equipe feminina do Brasil ajudou quanto a isso. “Eu não estou acostumado em não ter a primeira e a última palavra, mas aqui o Guedes (técnico da Seleção Brasileira de vôlei sentado) me deixa bem a vontade, pedindo a minha opinião, perguntando o que eu acho, acaba sendo uma troca muito grande de informações entre a gente durante a maior parte do tempo”, finaliza Fernando Guimarães.