Depois de ganhar a medalha de ouro, Rafaela Silva pediu e foi prontamente atendida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). A judoca campeã olímpica, mundial e, agora, dos Jogos Pan-Americanos foi a porta-bandeira da delegação nacional na cerimônia de encerramento em Lima. A justa homenagem fechou a melhor participação brasileira na história da competição. Foram ao todo 171 pódios, que levarm o país à segunda colocação do quadro de medalhas pela primeira vez em 56 anos com 55 de ouro, 45 de prata e 71 de bronze.
Antes de Lima, o Brasil só tinha terminado como vice-líder do quadro de medalhas em 1963, ano em que a sede dos Jogos Pan-Americanos foi São Paulo. O desempenho superou também as marcas obtidas no Rio de Janeiro, em 2007, que até então era a edição mais medalhada do país com 157 pódios (65 ouros, 40 pratas e 52 bronzes).
“Eu vejo o Brasil, mesmo com todas as dificuldades do nosso cenário econômico, evoluindo em vários esportes, conseguindo boas marcas, trazendo alegrias para a população – acho que o papel do esporte também é esse. Eu entendo hoje que o Brasil tem uma posição de destaque, a gente consolidou essa posição mais uma vez, alcançamos um resultado inédito e saímos daqui bem satisfeitos”, analisou o diretor geral de esportes do COB, Jorge Bichara.
Pela quarta edição seguida dos Jogos Pan-Americanos, a natação foi a modalidade que mais contribuiu para o Brasil. Da piscina do centro aquático de Videna vieram 30 medalhas, das quais, dez de ouro. A sempre tradicional vela brasileira foi campeã de cinco das 11 classes que foram disputadas em Lima. Já o atletismo subiu seis vezes no lugar mais alto do pódio, enquanto a ginástica artísica, com cinco ouros, ficou pela primeira vez na liderança do quadro de medalhas da modalidade.
As campanhas da natação e da ginástica artística em Lima foram as melhores do Brasil em todos os tempos. Mas, isso se repetiu também em mais nove modalidades na capital peruana: badminton (um ouro e quatro bronzes), canoagem slalom (quatro ouros e um bronze), ciclismo BMX (duas pratas), ciclismo mountain bike (uma prata e um bronze), hipismo saltos (dois ouros), maratona aquática (um ouro e um bronze), taekwondo (dois ouros, duas pratas e dois bronzes) e triatlo (dois ouros e duas pratas). Além disso, atletismo, boxe, ciclismo estrada, esqui aquático, remo, tênis e tiro com arco tiveram desempenhos melhores em 2019 do que tiveram quatro anos antes em Toronto.
Mas, como explicar a histórica campanha brasileira em Lima num contexto de redução de investimentos e com algumas confederações importantes como a de handebol e a de Esportes Aquáticos a beira da falência? Jorge Bichara explica que o Comitê Olímpico Brasileiro abraçou algumas modalidades em crise e otimizou os recursos. No último ano, dos R$ 250 milhões de orçamento do COB, 80% foram destinados à preparação e desenvolvimento dos atletas.
“O COB estabeleceu na sua nova gestão um plano estratégico para otimizar os recursos existentes, buscar captar novos parceiros, reduzir custos internos de forma que tudo que nós tenhamos de recursos ou que a gente possa prover de serviços, que tem a ver com qualificação de recursos humanos, com área de ciência do esporte e com serviços da área médica e fisioterapeuta, sejam bem utilizados, tenham como ser mensurados em relação à sua efetividade, que permitam pra gente um maior controle sobre esse investimento que está sendo feito. Acredito que o resultado obtido dentro dos Jogos traduz um pouco isso num momento difícil da economia mundial e brasileira. Foi um resultado extramamente significativo, que é fruto da eficiência da aplicação desse recurso”, explica Bichara, que aponta também outros motivos para o bom resultado em Lima.
“Nós precisamos ainda evoluir bastante dentro da nossa estrutura interna, porém, o trabalho hoje é realizado pelos clubes, pelo Comitê Olímpico, pelas confederações, com suporte das bolsas do governo e a participação das forças militares. Essa combinação permite que um grupo de atletas ainda se mantenha em alto nível de treinamento e consiga manter marcas interessantes a nível internacional”.
Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, o Brasil conquistou 29 vagas diretas para a Olimpíada de Tóquio em nove modalidades diferentes: handebol feminino (14 atletas), adestramento (3), CCE (3), saltos (3), pentatlo feminino (1), tênis masculino (1), tênis de mesa (1) e vela (2).
As vagas garantidas na capital peruana se juntam a outras 74 já obtidas pelo país para os Jogos do ano que vem: futebol feminino (18), maratona aquática (1), natação (12), rugby 7 (12), vela (5), vôlei feminino (12) e vôlei masculino (12).
Com o fim dos Jogos Pan-Americanos, todas as atenções se voltam para a preparação para Tóquio. No Japão, o plano é superar o desempenho obtido na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, que é o melhor da história até hoje com sete ouros, seis pratas e seis bronzes.
“Eu entendo que, para a gente manter o patamar do Rio, de 12 modalidades medalhistas, temos que ter pelo menos esse potencial acima de 20 modalidades. Se a gente coneguir chegar nos Jogos do ano que vem com potencial, a gente passa a ter chances de conseguir um resultado igual ou melhor do que o do Rio”, finaliza Bichara.