Cheiro de pólvora e um vazio no ar. O tiro esportivo brasileiro saiu com dois bronzes dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, mas sem nenhuma vaga para Tóquio 2020. A expetativa era conseguir pelo menos uma vaga para a próxima Olimpíada e beliscar mais duas medalhas. As razões para o desempenho são muitas e ainda estão sendo avaliadas pela comissão técnica do Brasil, mas algumas são evidentes.
“Ainda vamos nos reunir e fazer um balanço geral. Estivemos presentes nas 15 disciplinas do tiro. E dessas 15, tivemos dois bronzes, além várias chances de ficar perto de outras medalhas, inclusive prata e ouro, e também de vagas olímpicas. Infelizmente não tivemos a sorte, que às vezes precisa acompanhar o atleta e a delegação. Chegamos tão perto em tantas ocasiões, temos um nível bom, mas pecamos na finalização, mais forte e caprichada para poder alcançar resultados”, disse o chefe brasileiro do tiro esportivo em Lima, Wissam Elias Maalouf.
No Pan de Toronto 2015, a equipe brasileira de tiro esportivo faturou três ouros (Felipe Wu, Cassio Rippel e Júlio Almeida) e uma prata (Emerson Duarte). Mas em Lima 2019, o Brasil ficou no quase por muito pouco na fossa olímpica com Roberto Schmits, que por um erro não conseguiu a vaga para Tóquio 2020. Júlio Almeida também flertou com uma vaguinha na pistola de ar e Emerson Duarte tomou uma punição e perdeu a chance de disputar a final, também na pistola. No skeet feminino, Georgia Furquim era esperada na final e também não se classificou.
Ainda segundo Wissam, esse detalhe entre o resultado e o quase já tem um grande vilão. “No tiro, temos muitas variáveis, mas o psicológico influencia muito na dinâmica, é um esporte individual, cada disparo é uma competição e, às vezes, você tem muito tempo entre um disparo, e entre esses intervalos a cabeça vai embora, ela te atrapalha demais, e a parte psicológica foi a que mais a gente sentiu nesses atiradores que chegaram perto de brigar por medalha, eles foram afetados no psicológico e não conseguiram alcançar um resultado maior.”
Sobre o psicológico e pressão, os atiradores brasileiros também seguiram essa mesma linha. “A gente sempre treina sozinho e são raras as vezes que dividimos os treinos. Chega a hora de definir na final e não estamos conseguindo desempenhar”, disse Emerson Duarte.
Já para Júlio Almeida, os treinos não são suficientes. “Não tem como treinar uma final. É chegar na hora e desempenhar. Temos que saber lidar melhor com o barulho, com a pressão e com a torcida. Ainda temos o que melhorar.”
Agora a delegação brasileira tentará alguma vaga para Tóquio nos dois próximos eventos da Copa do Mundo da ISSF (Federação Internacional de Tiro Desportivo). No tiro ao prato, a competição será na Finlândia, já a partir do dia 15 de agosto. Contudo, a CBTE não pagou para os atletas irem para a competição. Medalhista em Lima 2019, Roberto Schmits está na lista de saída, mas não foi para a Finlândia competir.
Já na pistola e carabina, a competição com vaga para a próxima Olimpíada será no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, de 26 de agosto a 3 de setembro. E a CBTE aposta todas as suas fichas na competição.
“Precisamos de resultado para seguir a diante, para motivar, para desenvolver o tiro, incentivar e inspirar os outros atletas e as próximas gerações. Temos a Copa do Mundo no Rio de Janeiro, é uma chance, é um pouco mais difícil, pois será em nível mundial, mas tem esperança. Vamos lutar até a última oportunidade”, conclui Wissam Elias Maalouf.
Um pouco mais difícil? Muito mais difícil com certeza. O Pan-Americano era o caminho mais fácil para Tóquio e a chance foi perdida. O fator psicológico foi determinante, mas outros elementos pesaram no desempenho e se arrastam há algum tempo no tiro desportivo.
“Tem muito empecilho legal a própria legislação diz que o atirador só pode ter arma a partir de 25 anos, você precisa entrar com uma liminar ou precisa do pai acompanhando, o próprio processo para realizar o esporte é complicado. é o CR, certificado de registro, junto ao exercito, para você comprar arma, munição, transitar com essa arma e munição, e isso tem um peso que faz parte do tiro e é problemático”, disse Maalouf.
E se a legislação dificulta o desenvolvimento do esporte, ela também complica para sua manutenção diária e renovação dos atletas. “O equipamento é todo importado, e se você quiser ter um desempenho satisfatório, tudo de ponta é importado. Vem tudo da Alemanha, da Itália e da Suíça, munição inglesa, tudo é muito caro, isso tudo dificulta a disseminação e isso se reflete na base. Para fazer uma base mais alta. A gente luta em várias frentes e uma delas é a própria legislação brasileira. Precisava uma lei específica para o tiro esportivo, do tiro olímpico, aquela lei que visa o equipamento exclusivo, com isenção de impostos, facilidade de entrada, abrir o mercado de munição. Tudo isso são fatores limitantes para uma base do tiro”, concluiu Maalouf.
Caso o Brasil não consiga nenhuma vaga conquistada para Tóquio 2020, a CBTE espera ganhar algum convite por parte da ISSF (Federação Internacional de Tiro Desportivo). Essa possível vaga viria para o melhor ranqueado brasileiro.