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Pan 2019

“É histórico então eu quero marcar história”

Bruno Brassaroto, do tiro com arco composto, vai a Lima e conta porque o pódio na modalidade é ainda mais especial

Bruno Brassaroto Tiro com Arco Composto
Heron Ledon/Divulgação

“Meu sonho é isso. Eu quero uma medalha e eu quero no Pan. Como é o primeiro e pode ser o último, é histórico, então eu quero marcar história. Eu quero fazer isso pelo meu país”. É bem claro o objetivo de Bruno Brassaroto nos Jogos Pan-Americanos de Lima. “E é uma expectativa real. Eu estou indo bem nos treinos, dá para conseguir”, afirmou o atleta de tiro com arco composto em entrevista exclusiva para o Olimpíada Todos Dia.

Bruno Brassaroto explica porque a medalha na sua modalidade pode ser ainda mais especial. “Esse ano, como é o primeiro, vai ser um evento teste. É o primeiro e pode ser o último, entendeu? É histórico”.

Ou seja, se ele conseguir a medalha, de ouro ainda por cima, está arriscado a ser o único medalhista de ouro na história do tiro com arco composto nos Jogos Pan-Americanos. “Chega até a disparar o coração, aqui”, afirma.

Não que seja “só” esse. Mas é o de hoje. “A gente está torcendo para ser um esporte olímpico, né? É um esporte muito difundido. O arco composto hoje é muito mais utilizado do que o recurvo, muito mais difundido”, explica, comparando com a variação do esporte, o tiro com arco recurvo. A expectativa é que o composto entre na agenda olímpica de Paris 2024.

Mas está longe. Por hora, o foco total é nos Jogos Pan-Americanos. “É uma experiência que vai ser incrível. Nunca teve (o tiro composto no Pan). Você participar de uma vila olímpica, com todos os tipos de atletas, multiesportivo, vai ser uma experiência incrível. Tanto é que foi a seletiva mais difícil que teve foi a para os Jogos Pan-Americanos”.

Bruno Brassaroto nos Jogos Pan-Americanos

Além da chave no individual masculino, Bruno Brassaroto vai competir ao lado de Gisele Melletti nas duplas mistas dos Jogos Pan-Americanos de Lima. O tiro com arco vai de 7 a 11 de agosto.

+ PÁGINA ESPECIAL DO TIRO COM ARCO NO PAN

Bruno Brassaroto Tiro com Arco Composto

Foco é a palavra de ordem (arquivo pessoal)

“Hoje o meu sonho é disputar uma final e ouvir o hino sendo cantado na parte mais alta do pódio”, reafirma. “Você chegar e ouvir o hino nacional, defendendo o seu país, e a bandeira subindo… Vou até preparar alguma coisa para, se acontecer, usar lá na hora”, fala, com emoção em cada palavra.

Mas não adianta ficar apenas sonhando. Bruno Brassaroto sabe disso, então faz o que todo atleta faz quando quer muito alguma coisa. Treina e traça estratégias para o arco composto dos Jogos Pan-americanos.

“São dez atletas classificados e o negócio é não pensar na medalha na hora em que você estiver lá. O negócio é pensar um combate por vez, só focando naquele combate, não pensar para a frente”.

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Dos dez, quatro estão no foco. “Dos Estados Unidos ainda não sei quem vai, porque não saiu a seletiva deles ainda, mas podem ser o James Lutz ou o Braden Gellenthien, que são tops no mundo hoje. Tem o colombiano também, o Daniel Muñoz, que é muito forte. Tem o Roberto Hernandez, de El Salvador, que é muito forte também. E o Rodolfo Gonzalez, do México”.

E como vencê-los? “O que precisa é ter foco. O tiro, todo mundo sabe fazer para um dez. O negócio é você repetir esse tiro quinze vezes em um combate para conseguir os 150 pontos. É a cabeça. A cabeça vai mandar em 90% num combate”, diz. “Você precisa ter a sua mente livre”.

Bruno Brassaroto Tiro com Arco Composto

“Sou um patriota” (arquivo pessoal)

Tiago Pereira, Hugo Calderano e Marquinhos

Dois atletas inspiram Bruno Brassaroto nos Jogos Pan-Americanos. Primeiro o nadador Tiago Pereira, o maior medalhista da história da competição com 23, feito que lhe rendeu o apelido de Mr. Pan. “É o Rei do Pan. Tem muita medalha pan-americana”, diz Bruno.

Dos que vão a Lima, atenção especial para o mesatenista Hugo Calderano. “Eu queria acompanhar o Calderano. Esses dias vocês fizeram uma reportagem sobre ele e eu comecei a pesquisar. O cará é f… mesmo”, disse. “E o Marquinhos, o Marcos D’Almeida. É grande chance de medalha também no recurvo. E é um amigo meu pessoal. A gente conversa muito”.

+ PÁGINA ESPECIAL DE HUGO CALDERANO

De Marcos D’Almeida, além de inspiração, pega conselhos. “Você começa a pegar experiência com quem é mais experiente e ele é muito mais experiente que eu. Ele me disse assim: ‘meu, quando entrar na linha de tiro, entra para atirar dez. Não entra para atirar nove, não entra para fazer um tiro errado, para rifar flecha’. Legal isso daí. É uma coisa que eu estou trazendo para mim”.

Estadual, Nacional e o Pan

Bruno Brassaroto é paranaense. Não vive do esporte, o sustento vem de uma distribuidora de máquina agrícola. Ainda assim, treina o arco composto todos os dias à noite e nos finais de semana. “Eu treino umas cinco horas por dia no final de semana”.

Pratica em uma associação em sistema de troca. “A gente atende mais de 70 crianças carentes com o arco e flecha. A gente dá aula, o equipamento e, em troca, eles cedem o espaço. Um espaço pequeno, mas são os 50 metros que eu preciso para atirar”.

Sua história no tiro com arco composto não é antiga, antes estava no tiro esportivo de carabina de pressão. “Em 2015 eu comprei meu primeiro arco, só que a gente atirava por brincadeira. Daí em 2016 eu falei assim: ‘meu, vamos ver o que que dá’. Aí eu comprei meu primeiro arco para competição e me filiei aqui no Paraná mesmo. Sempre no arco composto”.

Bruno Brassaroto Tiro com Arco Composto

“Quando entrar na linha de tiro, entrar para atirar dez” (arquivo pessoal)

Primeiro começou a se meter nos combates estaduais, se destacou e foi para o Brasileiro, onde já foi vice-campeão em 2017 e terceiro lugar no outdoor em 2018. “No indoor no ano passado eu fui vice e, neste ano, pelo ranking, eu vou pegar em primeiro lugar. São cinco etapas e eu bati o recorde brasileiro esse ano no indoor e nas outras etapas eu fiquei na frente dos outros atletas. Se eu não vacilar nessas duas últimas etapas eu consigo garantir o primeiro lugar”.

O recorde que ele cita foi batido em abril. “Era do Roberval dos Santos, 590 pontos, e eu consegui bater com 592 pontos. Em Londrina, no Paraná”, orgulha-se.

“No começo a gente vai colocando objetivos. Primeiro o estadual, depois o nacional, mundial”, conta. “Esse ano eu passei na seletiva para as etapas da World Cup e fui ao Mundial da Holanda”, acrescenta. Agora são os Jogos Pan-Americanos. “O que era para ter feito a gente já conseguiu fazer. São sucessões de erros, sucessões de acertos durante muitos anos para chegar nisso”, afirma.

“Eu só quero que todo mundo que vai acompanhar o Pan torça para o Brasil, independente do esporte, torça para o Brasil ser campeão e trazer o maior número de medalhas para cá”, completa Bruno Brassaroto, o representante do Brasil no tiro com arco composto dos Jogos Pan-Americanos.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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