Quando foram convidados a bater uma bola com a Seleção Brasileira de futsal na Vila Olímpica de Buenos Aires, os meninos que emocionaram o mundo ao sobreviver duas semanas presos em uma caverna no interior da Tailândia fizeram questão de tirar seus agasalhos e exibir o uniforme de seu time, os Javalis Selvagens. O orgulho de mostrar as cores da equipe só não era maior que a alegria estampada nos sorrisos dos garotos.
No dia 23 de junho deste ano, 12 meninos entre 11 e 16 anos foram passear com seu técnico em uma caverna na região Tham Luang Nang Non, no norte da Tailândia, e acabaram surpreendidos por uma inundação. Eles só foram localizados com vida em 2 de julho. O resgate dos adolescentes mobilizou autoridades tailandesas e voluntários do mundo inteiro, sendo concluído apenas no dia 10 de julho, depois de uma operação tão complexa quanto delicada. Durante o resgate, um mergulhador da Marinha tailandesa morreu, mas todos os meninos e o treinador conseguiram sobreviver.
O drama, que ganhou os noticiários do mundo inteiro, também foi acompanhado pelos garotos brasileiros que tinham acabado de carimbar uma vaga para os Jogos Olímpicos da Juventude, na capital da Argentina. O que nenhum dos dois grupos de meninos imaginava é que, dali a menos de quatro meses, eles estariam trocando passes e abraços.
Sem falar a mesma língua, mas apaixonados pelo esporte, brasileiros e tailandeses fizeram uma roda de controle de bola e tiraram fotos fazendo um símbolo com as mãos que significa “Unidos no Coração”. Os Javalis Selvagens ainda ganharam uma flâmula da Seleção Brasileira e cada menino tailandês foi presenteado com uma pelúcia do Ginga, o mascote do Time Brasil.
“Só de ver eles brincando agora, alegres e felizes, é muito bom. Eles quase morreram, né? Ficaram presos e para a gente é gratificante participar de eventos assim. A gente vai até entrar mais alegre na competição. Essa história deles é motivação para qualquer um. Se eles sobreviveram duas semanas em uma caverna, em condições extremamente precárias, por que a gente não pode se superar dentro de quadra e ir para cima dos adversários, né?”, disse Mateus Barbosa, um dos goleiros da Seleção Brasileira sub 18 de futsal.
Para o técnico da Seleção, Daniel Júnior, o encontro veio no momento mais oportuno possível, nos Jogos da Juventude, que propagam justamente a integração dos povos por meio do esporte. “Todos acompanhamos, torcemos naquele momento pela saída deles da caverna. Então isso traz mesmo um sentimento de superação, de acreditar que vai acontecer algo melhor ali na frente. E tem esse caráter de amizade, de companheirismo. Esses serão valores que serão transmitidos”, opinou Daniel.
Convidados especiais
Os Javalis Selvagens são convidados especiais do Comitê Olímpico Internacional (COI) para os Jogos da Juventude Buenos Aires 2018. Na Argentina, já participaram de um jogo festivo contra o time sub 13 do River Plate, no mítico estádio Monumental de Nuñez, e assistiram a provas do BMX no Paseo de La Costa ao lado de Thomas Bach, presidente do COI. “Os garotos estão muito animados e agradecidos por estarem aqui”, disse Werachon Sukondhapatipak, chefe da delegação tailandesa nos Jogos, ao site do Comitê Internacional.
“Eu estava em contato com membros do COI na Tailândia durante o resgate e poder vê-los aqui, aproveitando a vida e curtindo o esporte, é uma grande satisfação”, disse Bach. “O esporte é isso. Essa determinação de nunca desistir, de ter fé que você pode conseguir. Essa foi a razão pela qual os convidamos a vir, porque isso é o espírito olímpico em seu melhor”, completou o presidente do COI em entrevista ao site da entidade.
O convite do COI foi o que motivou o Comitê Olímpico Brasileiro a fazer a ação que uniu brasileiros e tailandeses em Buenos Aires. A Seleção de futsal estreia nesta segunda, a partir das 18h, contra a Rússia, mas fez questão de participar da atividade. E os brasileiros vão levar o exemplos dos Javalis Selvagens não apenas para as quadras da competição. “O exemplo que eles trouxeram para a gente é perseverança, luta pela vida, humanidade. Nos deixaram muito emocionados, porque é diferente de qualquer coisa que a gente pense relacionado ao esporte. A medalha é importante, mas momentos como esse de integração fazem tudo valer a pena”, resumiu Sebástian Pereira, chefe de missão do Brasil em Buenos Aires.