O ano de 2019 será inesquecível para a dupla Evandro Fernandes e David Lopes, da Escola Estadual Camilo Dias, de Boa Vista (RR). No último mês de agosto, os atletas de 16 anos foram campeões nacionais de vôlei de praia em campeonato promovido pela Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE) e garantiram vaga para disputar o Mundial Escolar, na Itália, naquela que seria a primeira viagem internacional dos jovens. Apesar da pouca experiência, a parceria voltou para casa com o título e foi recebida com festa na capital de Roraima, com direito a carreata pelas ruas da cidade. Para encerrar a temporada, os dois estreiam nos Jogos Escolares da Juventude, em Blumenau (SC).
Mesmo com as conquistas recentes, Evandro e David estão longe de treinar em boas condições e sofrem com a falta de material. Não bastasse isso, até os horários das aulas são um empecilho para os atletas.
“Eu estudo à tarde, e o David pela manhã. Treinamos lá pelas 18h, quando não estamos mais na escola”, diz Evandro, que até o início do ano treinava apenas duas vezes por semana com o parceiro.
Como a escola não possui iluminação adequada, as sessões de treinamento são comandadas em praças públicas por Wallace Souza, que também é professor de matemática dos jovens.
“Tenho licenciatura em Matemática e sigo dando aulas. Mas como a escola não tinha professor de Educação Física, fiz um magistério e me habilitei a trabalhar na área”, explica o treinador, que está há cinco anos na Camilo Dias e procura ajudar os meninos de todas as formas: “não temos material para treinar, e o Wallace compra algumas bolas (de vôlei de quadra). Às vezes, ele ajuda também com a condução”, conta David, que viu a preparação para os Jogos Escolares ficar comprometida por conta dos problemas de saúde dos pais do treinador.
“Depois que voltamos do Mundial Escolar, minha mãe foi internada e meu pai já está no hospital, em fase terminal. Precisei arranjar uma cuidadora, mas fico até com medo de acontecer alguma coisa com ele enquanto estou em Blumenau. Por isso, infelizmente, não atingimos a quantidade de treinos que precisávamos e fiquei sem dinheiro para comprar as bolas. Precisamos até pegar uma emprestada para fazer o aquecimento”.
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Mas as dificuldades não param por aí. Entre trajetos de ônibus e avião, fora o tempo de espera nos aeroportos, o trio levou dois dias para chegar a Blumenau. Mesmo com tantas adversidades, eles não lamentam: “todas essas coisas são apenas alguns obstáculos. Não desistimos na primeira dificuldade e mostramos que é possível realizar os nossos sonhos”, afirma Wallace.
Todas essas vitórias também aconteceram sem qualquer tipo de preparação física orientada. Evandro e David só passaram a treinar em uma academia há três semanas, após receberem o apoio de uma academia de ginástica em Boa Vista, que se sensibilizou com o título mundial dos jovens.
“Como eles disputaram muitos jogos recentemente, o pessoal da CBDE sugeriu que fosse realizado um trabalho de fortalecimento muscular. Aí corremos atrás de ajuda, fomos nas rádios e conseguimos esse patrocínio da academia”, vibra Wallace.
Desde que voltou do Mundial Escolar, Evandro também precisou arranjar um emprego para ajudar a mãe com as despesas de casa e se tornou funcionário da área administrativa da empresa que recolhe o lixo em Boa Vista. Mais um motivo de orgulho para o treinador.
“O que me impressiona nesses meninos é a dedicação. Não é qualquer coisa que fica empatando o sonho deles. Vamos continuar trabalhando para que eles tenham grandes oportunidades na vida”.
Os Jogos Escolares da Juventude são uma realização do Comitê Olímpico do Brasil (COB), com o apoio da Prefeitura de Blumenau e do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte).
