“Ai, como vai ser? Eu tenho vergonha.” Desconfiada, evitando olhar diretamente, uma timidez até natural para quem tem 17 anos e que precisa encarar a imprensa. Luana Carvalho, judoca do Rio de Janeiro, está tensa com uma simples entrevista, nem parece a mesma atleta que amassa as adversárias dentro do tatame, com olhar fixo e esbanjando confiança.
No judô desde os 10 anos, a carioca tem uma carreira meteórica, sempre muito à frente de sua idade. Neste ano, ela integrou a seleção brasileira que disputou o Grand Slam de Brasília, um evento enorme. “Teddy Riner, vi ele, estava do meu lado. Lutou um dia depois de mim. Eu pensei, caraca, eu estou chegando mais perto.” E está mesmo.
Mas na mesma temporada em que disputou os GS de Brasília, Luana Carvalho finaliza sua participação nos Jogos da Juventude, duas competições de níveis diferentes em vários aspectos. A judoca é muito superior nos JEJs, mas ainda sem bagagem para um evento como o Grand Slam.
“Ah, lá em Brasília só tinham as tops. Eu enfrentei uma canadense (Kelita Zupancic, 29 anos), uma mulher experiente, que roda o mundo. Estava muito nervosa, a torcida gritando meu nome, foi uma loucura. Fiquei triste porque queria ter avançado, mas feliz por participar com tão pouca idade. Eu era a mais nova da competição!”
Porém não se engane. Não há talento sem esforço, repetição e vontade. “Vou na escola de manhã. Chego em casa meio dia e meia, uma hora. Me arrumo, almoço, vou para o treino. Começa umas 15h e saio às 22h.”
Fora que Luana Carvalho entrou no judô por causa dos amigos, não foi algo que ela tinha vontade ou foi descoberta por alguém. “Entrei mais por diversão, não esperava chegar aonde eu estou. Meu amigos da escola faziam judô e me indicaram. No começo apanhava bastante, chegava em casa sempre com a boca machucada. Mas eu fui ficando, competindo, fui gostando e querendo mais e mais. Quando eu vi, já era uma atleta profissional.”
Essa é Luana Carvalho. Ela aprende rápido e se adapta. Antes desconfortável com as perguntas, a judoca não demora muito para se soltar. O sorriso antes acanhado, agora se abre e a timidez se desfaz. “Esse é o meu quarto JEJ. Fui campeã na Paraíba, em Brasília e no Rio Grande do Norte no ano passado. Vim buscar o tetra. Treinei bastante. Estou confiante”.
Só que não. Na final da edição 2019 em Blumenau, a judoca foi superada na final. Um golpe duro em sua caminhada. “Treinei tanto, dá vontade de desistir de tudo. Fui me afundar num pote de açaí pra ver se esqueço”.
Digerindo a derrota e o açaí, a jovem atleta vai amadurecendo o que acaba de acontecer. “Bom, pelo menos eu não perdi para qualquer uma. Ela é boa. Esteve comigo nas viagens internacionais.”
E isso não é mentira. Maria Eduarda Diniz tem seus méritos. Ela lutava na categoria até 63kg, mas resolveu subir de categoria, já que tem dificuldades para bater o peso.
Estamos no fim da temporada. Luana Carvalho, em Blumenau, finalizou seu último campeonato. O ano foi longuíssimo e desgastante. “Eu quase não parei em casa. Minha mãe que fala, ‘menina, você não fica mais aqui’. Realmente. Eu viajei para seis países diferentes ao longo do ano, fora as muitas viagens aqui no Brasil”.
O técnico dela, o professor André Amorelli, comentou a temporada e a queda na final. “Faz parte do aprendizado. Ela teve um ano fantástico. Mundial Escolar, Mundial Cadete, já foi chamada para a seleção aos 17 anos. Ela praticamente não foi na escola com tantos compromissos. E a derrota aqui não apaga isso. Mas ela lutou mal. Ficou presa no estilo da adversária e não soube reagir.”
E a reação natural após uma derrota dolorida é ficar para baixo mesmo. Aos 17, Luana Carvalho está aprendendo isso dentro do tatame. O esporte educa, às vezes da forma mais dolorida.