Logo após os Jogos Olímpicos Rio 2016, surgia em Atalaia do Norte, Amazonas, município de 20 mil habitantes que fica na divisa do Brasil com o Peru e a Colômbia, um projeto social chamado “Bom de Luta”, destinado a 80 jovens de 7 a 17 anos e idealizado pelo mestre Waldeci Silva, ex-atleta da seleção brasileira e atual presidente da Federação Amazonense de Wrestling.
Três anos depois, com a ajuda do professor cubano Luis Alberto Calistre, o projeto já rende seus primeiros frutos a nível nacional. Na atual edição dos Jogos Escolares da Juventude, em Blumenau (SC), três atletas disputaram o evento e formaram a maioria da delegação amazonense na categoria 12 a 14 anos: Rosa Monalisa da Silva conquistou a medalha de prata na categoria até 62kg, superando o bronze de Natal 2018; Maycol Kenedy foi o quinto (até 59kg); e Tayná Lopes parou nas quartas de final (até 52kg).
“Atalaia é um lugar muito calmo, não tem quase nada para fazer. Comecei a lutar em 2017 e já aprendi muita coisa. Treino de segunda a sexta, das 17h30 às 20h, numa quadra que só metade é coberta e com um tapete diferente do daqui”, conta Rosa Monalisa, cujos bons resultados já lhe fazem sonhar alto: “decidi ser lutadora e vou tentar a Bolsa Atleta no próximo ano. Se um dia eu seguir carreira, quero chegar bem longe e depois virar treinadora para ajudar outras pessoas a lutarem”, completa a jovem de 14 anos, que este ano foi terceira colocada em sua estreia internacional, no Mundial Escolar de Esportes de Combate, na Hungria.
O que Rosa não conta é que, para chegar a Blumenau, a equipe precisou viajar por quatro dias, sendo três de barco até Manaus, que fica a cerca de 1.100km de Atalaia do Norte. Na volta para casa, eles vão levar o dobro do tempo, já que estarão navegando contra a corrente.
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Apesar das dificuldades de deslocamento e da estrutura modesta no Estado do Amazonas, o “Bom de Luta” foi ampliado para uma cidade vizinha, Benjamin Constant, que também conta com o apoio da prefeitura local. Com a ajuda de bons profissionais, como o professor Calistre, o projeto já se coloca como uma das forças nacionais do wrestling nas categorias de base.
“Fico muito orgulhoso de ver como chegamos até aqui. Costumo dizer que existia uma mina de ouro ali, mas precisava saber como pegar esse ouro. Atalaia é uma cidade pobre, em que muitos meninos se perdem no caminho. Então, vou ficar ainda mais orgulhoso se souber que, algum dia, pelo menos um deles continuou treinando e pode ter uma vida melhor”, diz Calistre, que morou durante 11 anos na Venezuela e desembarcou no Brasil em 2017.
“O projeto nos traz esperança. Nunca tinha saído do Amazonas, nem viajado de avião. Estou achando tudo um espetáculo, porque nunca tinha participado de uma competição com tantos atletas. Ser lutadora é o que quero para a minha vida”, finaliza Tayná.
Os Jogos Escolares da Juventude são uma realização do Comitê Olímpico do Brasil (COB), com o apoio da Prefeitura de Blumenau e do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte).