A semana mais triste para o esporte olímpico do Brasil se encerrou neste domingo. A imagem de Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e também do Comitê Organizador Rio-2016, sendo levando para prestar depoimento na Polícia Federal foi emblemática. A acusação de ter trabalhado como uma das peças que ajudou a comprar votos que deram ao Rio a vitória na eleição de 2009 diz muito sobre a atual situação do esporte olímpico do país.
Não custa lembrar que na ressaca pós-olímpica, após o final da Rio-2016, diversas confederações perderam patrocínio, outras são alvo de investigação por mau uso de dinheiro público, algumas tiveram dirigentes presos e dezenas de atletas sofrem com problemas para realizarem treinamentos no exterior ou mesmo competir.
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A saída para uma situação que mistura decepção, indignação e desalento passa necessariamente por uma reforma absoluta no esporte olímpico brasileiro. Mas mesmo abalado com denúncias tão fortes, não me parece que Nuzman tenha algum tipo de ameaça de perder o poder no COB, ao menos enquanto as investigações não apresentarem provas mais contundentes contra ele.
A alternativa desta mudança partir das confederações também é uma ilusão. Todos estes cartolas são coniventes com o sistema atual ou preferem se calar diante da forma de gestão do esporte olímpico brasileiro. Como o COB é quem faz a distribuição das verbas da Lei Agnelo/Piva, que reserva 2% da arrecadação das loterias, não precisa pensar muito para saber os efeitos que uma oposição ao presidente do COB poderia causar a estas entidades.
A força dos atletas
Talvez o início desta mudança esteja na base da pirâmide, nos donos do espetáculo. Os atletas olímpicos brasileiros, que em sua maioria preferem se calar para evitarem retaliações, não têm noção da força que possuem. Vozes isoladas, como a da nadadora Joanna Maranhão, do ex-tenista Fernando Meligeni, ou de Murilo Endres, do vôlei, costumam colocar o dedo na ferida e exigir mudanças na estrutura do esporte do país. É pouco, quase nada, mas já é alguma coisa.
A maior prova de que os atletas têm muito poder, está nas palavras do ex-jogador Raí, ídolo do São Paulo e campeão do mundo com a Seleção Brasileira na Copa de 1994. Presidente de Atletas pelo Brasil, associação criada há dez anos para tentar reconstruir o sistema de esporte do país, incluindo também o esporte educacional, Raí foi entrevistado pelo programa “Convocadas”, da Rádio Globo, justamente no dia em que a PF fez as buscas na casa de Nuzman e na sede do COB.
Durante a entrevista, Raí lembrou que graças ao trabalho da Atletas pelo Brasil, foi feita uma importante mudança na Lei Pelé, que agora faz uma série de exigências para entidades que utilizam dinheiro público. Agora, a nova legislação pede gestão transparente, participação de atletas em cargos de direção e a limitação do mandato dos dirigentes, para apenas uma reeleição. Esta talvez tenha sido a maior conquista. “Se esta lei tivesse sido aprovada há 30 anos, não teríamos Nuzmans, Ricardos Teixeiras e outros”, disse Raí.
Pode ser utopia, eu sei. Mas que os atletas brasileiros tenham coragem para comandar esta revolução.
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