Este deveria ser um post para exaltar um feito histórico. Não é todo dia, afinal, que um brasileiro consegue brilhar no centenário torneio de Wimbledon. O triunfo neste sábado no torneio de duplas transformou Marcelo Melo no primeiro homem do Brasil a conquistar este título, algo que só a lenda Maria Esther Bueno havia feito, 51 anos atrás. De quebra, ainda retomou a liderança do ranking mundial da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) em duplas.
Ver a expressão de alegria de Melo comemorando aquilo que classificou como “sonho de criança” contagia até aqueles com corações mais duros.
O feito de Marcelo Melo seria, em qualquer outro país, alvo de homenagens e consolidaria a força da modalidade. Afinal, com o de sábado o Brasil já somo quatro títulos de duplas em torneios Grand Slam, os principais do circuito: Austrália Open e US Open, com Bruno Soares, e Roland Garros e Wimbledon, agora com Melo.
Mas infelizmente, quando se trata de esporte brasileiro, especialmente o olímpico, os momentos de alegria são efêmeros demais. Em compensação, não faltam motivos para decepções e indignações.
E não falo aqui de desempenhos esportivos. Isso faz parte da essência da competição, onde um dia você está no auge e em outro acaba sofrendo com as derrotas. O problema é mais embaixo (ou em cima…).
O que de fato significará para o tênis brasileiro a incrível conquista de Marcelo Melo na grama de Wimbledon? Pouco ou quase nada, eu diria. Pessimista, eu? Então responda com sinceridade: qual foi o reflexo dos anos de glória de Gustavo Kuerten para o tênis nacional? Zero, ou quase isso.
Somos o país da monocultura esportiva, é bom que nunca se esqueçam disso. Aquela balela que quiseram nos vender que após a Rio-2016 o Brasil se tornaria um país olímpico, bem, é isso mesmo, uma grande balela. Basta ver os perrengues que diversos atletas e modalidades estão passando neste primeiro ano pós-olímpico.
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São vários os casos de perda de patrocínio ou queda radical de investimentos. Em todas as modalidades. Além disso, pipocam a cada dia casos e casos de confederações envolvidas em investigações por mau uso de verbas públicas. Valores do Bolsa Atleta reduzidos. Suspensão de competições internacionais por calote financeiro e ameaças de intervenção. Até cadeia alguns cartolas tiveram que encarar.
O maravilhoso Parque Olímpico da Barra, assim como o Parque Radical de Deodoro, que custaram centenas de milhões de reais para receberem a Olimpíada, ainda vivem um grande ponto de interrogação sobre o chamado “legado olímpico”. O próprio Estádio Olímpico de Tênis até agora recebeu dois eventos de… vôlei de praia! A CBT (Confederação Brasileira de Tênis) ainda tenta negociar com a ITF (Federação Internacional de Tênis) que o Rio Open possa ser transferido para lá.
Somos o país que não gosta de esporte mas sim de quem ganha. Um lugar onde durante três anos as pessoas mal sabem o que fizeram os atletas olímpicos mas que quando a Olimpíada começa, posam de “especialistas” e cobram com toda força (nas redes sociais, é claro) o desempenho dos atletas.
Para vocês verem como é insano este país que tem pela primeira vez um homem entre os campeões de Wimbledon, não foram poucos destes “especialistas” que cobraram, ironizaram e até ofenderam a ESPN pelas redes sociais, uma das que tinha os direitos de transmissão, por exibirem os jogos de duplas dos brasileiros (inclusive de Bia Haddad, outra grata surpresa no torneio), ao invés das partidas dos astros mais badalados.
Fico sinceramente em dúvida se este país “olímpico” merece um feito incrível como o de Marcelo Melo.