Ninguém pode dizer que ficou surpreso. Mas a divulgação da matriz dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016, anunciada nesta quarta-feira (14), assusta. A Aglo (Autoridade de Governança do Legado Olímpico), ligada ao ministério do Esporte, divulgou a última versão da Matriz de Responsabilidades dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016. Mas nem na hora de prestar as contas, a coisa é feita com a transparência necessária.
Na versão divulgada na coletiva, o gasto total, com todos os entes envolvidos, chegou a R$ 41,03 bilhões. No final do dia, porém, o site globoesporte.com divulgou que o preço subiu: R$ 43,17 bilhões, por conta de atualização do Plano de Políticas Públicas da Rio-2016. Isso engloba obras de infraestrutura da cidade para os Jogos, como Porto Maravilha, a ampliação do elevado do Joá, BRT e obras da linha 4 do metrô.
De qualquer forma, o número de R$ 43 bilhões é impressionante. Deste total, R$ 7, 23 bilhões, segundo a Aglo, apenas para a construção e adequação das arenas esportivas. Difícil não se revoltar diante do cenário político do país, onde delações premiadas desnudam a corrupção que deita e rola por aqui, respingando inclusive nos mega-eventos que o Brasil organizou (Copa e Olimpíada), com favorecimentos a determinadas empreiteiras. Sem falar que um dos políticos responsáveis pelos Jogos, o ex-governador Sérgio Cabral, faz uma longa temporada no presídio de Bangu, condenado recebimento de propinas, entre outros crimes.
Revolta também saber que uma entidade criada exclusivamente para fiscalizar e divulgar os gastos dos Jogos Rio-2016, a APO (Autoridade Pública Olímpica), encerrou suas atividades em março deste ano sem cumprir sua obrigação. Também causa indignação que um dos chamados legados olímpicos, a transformação da Arena do Futuro em quatro escolas municipais, não deverá sair do papel.
Mas certamente haverá quem veja na divulgação do custo final dos Jogos algum motivo para ficar menos deprimido. Ao analisar os custos finais de todas as Olimpíadas realizadas no século 21, perceber-se que a Rio-2016 está longe de ser a mais cara. Confira abaixo:
1 – Pequim-2008 – R$ 61,8 bilhões
2 – Atenas-2004 – R$ 49,2 bilhões
3 – Rio-2016 – R$ 43,1 bilhões
4 – Londres-2012 – R$ 40,8 bilhões
Importante lembrar dois detalhes: não estou incluindo neste levantamento os Jogos Olímpicos de inverno, que tem a edição de Sochi-2014 como o mais caro evento já organizado na história do COI (Comitê Olímpico Internacional), em estimados US$ 50 bilhões (mais de R$ 160 bilhões). Além disso, os próprios custos de Atenas-2004 não são totalmente confiáveis, pois existem gastos da organização do evento que ainda não foram contabilizados.
De qualquer forma, a “medalha de bronze” nas contas olímpicas para o Rio de Janeiro está longe de ser um prêmio a ser exibido com orgulho no futuro, por tudo o que envolveu (e ainda envolve) a organização da Olimpíada e Paralimpíada Rio-2016.
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