Um detalhe que pode ter passado despercebido para quem não se liga muito em datas: esta quarta-feira (21) marca um mês do final dos Jogos Olímpicos Rio-2016. Com o encerramento também das Paralimpíadas, que ocorreu no último domingo, completou-se o ciclo dos grandes eventos poliesportivos que o Brasil se preparou para organizar e receber nesta década, incluindo aí até a Copa do Mundo de futebol, em 2014.
Mas se mega-eventos foram um inquestionável sucesso sob o aspecto esportivo e também para os torcedores, o mesmo não se pode dizer do gosto um tanto amargo que a “ressaca olímpica” vem causando por aqui. O exemplo mais recente disso é a crise envolvendo a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Nesta quarta-feira, o Ministério Público de São Paulo pediu o afastamento da diretoria da entidade, inclusive do presidente Coaracy Nunes, após longa investigação onde apura denúncias de desvio de recursos públicos e fraudes em prestações de contas de convênios junto ao Ministério do Esporte.
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A notícia é uma bomba no universo olímpico brasileiro, especialmente por se tratar de uma das confederações mais poderosas do esporte brasileiro, especialmente em termos de recursos financeiros. Segundo o MP-SP, no período de 2011 a fevereiro de 2016, a CBDA recebeu de verbas públicas federais (Lei Agnelo/Piva) e de oito convênios com o Ministério do Esporte um valor total R$ 38.294.452,49.
O problema é que segundo a investigação do MP, batizada de “Águas Claras’, a CBDA é investigada por superfaturamento de valores de passagens aéreas, desvio de dinheiro para compra de equipamentos e materiais para a preparação de atletas de maratona aquática, nado sincronizado e polo aquático, além de repasse de pagamentos para empresas de fachada. Pelo que levantou o MP, o prejuízo aos cofres da CBDA chegaria a R$ 1,5 milhão, pelo menos.
O órgão pediu o afastamento de Coaracy Nunes e de outros membros da diretoria da CBDA, inclusive do coordenador técnico de natação da entidade, Ricardo de Moura, apontado por muitos como o candidato de sucessão de Coaracy
Obviamente que o veterano dirigente, de quase 80 anos e longas três décadas no comando da entidade, negou todas as denúncias e prometeu processar os responsáveis pelas acusações. Ainda apontou como o candidato da oposição, Miguel Cagnoni, presidente da Federação Aquática Paulista, como o mentor de todo este caso. As eleições da CBDA estão previstas para o primeiro trimestre de 2017.
Não custa lembrar que a natação brasileira, a despeito de todo o investimento milionário no último ciclo olímpico, teve um desempenho pífio na Rio-2016, passando sem medalhas e praticamente vendo quase todos os integrantes da delegação alcançando marcas pessoais piores do que já tinham alcançado. O vexame só não foi pior graças à medalha de bronze de Poliana Okimoto na maratona aquática.
O fim da carreira esportiva como dirigente de Coaracy Nunes, pelo visto, promete ser melancólico.