No último mês de fevereiro, quando esteve na redação do LANCE! para gravar uma entrevista, a ex-jogadora de basquete e comentarista da ESPN, Magic Paula, mostrava-se preocupada com o cenário que o universo do esporte olímpico do Brasil teria pela frente após a realização da Olimpíada Rio-2016. E não pegou leve ao comentar sobre sua expectativa nada animadora a respeito do futuro.
“Acho que vai ser uma ressaca brava. Vai coincidir com o término de um evento sobre o qual se tinha uma expectativa enorme e a situação econômica complicada do país. Porém, creio que poucos se deram conta”
Bem, a tal “ressaca” começou mais cedo do que se poderia imaginar. Nesta quarta-feira (31), a CBE (Confederação Brasileira de Esgrima) verá encerrado programas de incentivo que foram importantes na preparação de atletas no último ciclo olímpico. Estes programas ajudaram a bancar despesas de alimentação, transporte e, principalmente, participações em competições internacionais e estágios de treinamento.
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Coincidência ou não, a esgrima brasileira, com currículo meramente coadjuvante na história olímpica do país, colecionou bons resultados na Rio-2016, com a presença de dois atletas – Nathalie Moellhausen, na espada feminina, e Guilherme Toldo, no florete masculino – entre os oito melhores nas respectivas armas.
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Mesmo não tendo o nome citado no documento enviado a atletas e treinadores e reproduzido na imagem acima, o blog apurou que se trata do final do investimento da Petrobras, cujo convênio, iniciado em 2011, apoiava um total de cinco modalidades (além da esgrima, boxe, taekwondo, levantamento de peso e remo). Diante da crise financeira pela qual a empresa vem passando nos últimos anos, tal programa foi revisto e teve valores reduzidos.
A confirmação do fim do apoio da Petrobras veio por meio de um documento, assinado pelo presidente da CBE, Gerli dos Santos, enviado a atletas e treinadores. Embora datado de 28 de junho (portanto, mais de um mês antes da Rio-2016), apenas nesta terça-feira (30) foi enviado para os filiados. A empresa ainda não se manifestou oficialmente.
Trata-se do primeiro ato oficial de retirada de investimentos nas modalidades olímpicas do Brasil após a Rio-2016. Outras certamente ocorrerão, a lembrar até um comunicado publicado pela CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), no dia 3 de agosto (ou seja, apenas dois dias antes da abertura da Olimpíada!), já prevendo os tempos difíceis que virão pela frente, conforme reproduzido abaixo:
7 – Não podemos prever o futuro. Alguns contratos de patrocínio e projetos importantes estarão vencendo no decorrer dos próximos meses. A CBDA, como gestora dos esportes aquáticos no Brasil, confia em conseguir os recursos suficientes para continuar a preparação futura. Tóquio 2020 já terá o início de preparação no dia 23 de agosto de 2016, ou seja, um dia após o término dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
8 – A CBDA irá cumprir, como sempre, um projeto de despesas que seja compatível com seus orçamentos e receitas.
9 – Esperamos poder contar com os recursos disponíveis para enfrentar os novos tempos.
Vale lembrar que a despeito do que declarou o próprio ministro do Esporte, Leonardo Picciani, no último dia 21, ao fazer um balanço da Olimpíada e assegurar a manutenção dos programas Bolsa Atleta e Bolsa Pódio para o próximo ciclo olímpico, os comentários nos bastidores é que haverá uma revisão bem rigorosa nesta distribuição de recursos, para dizer o mínimo.
Não foi à toa que durante a entrevista de balanço no último dia 22, o superintendente executivo do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Marcus Vinicius Freire, falou mais de uma vez que a entidade já estava trabalhando para a manutenção dos investimentos e programas junto ao ministério do Esporte.
Pelo jeito, a ressaca prevista por Magic Paula poderá ficar ainda pior.