Julho de 1997. Era para ser mais uma daqueles entrevistas coletivas seguidas de um almoço para a imprensa. Acho que era de algum piloto ou algo do gênero. Em eventos assim, uma das coisas que jornalista mais gosta de fazer na vida é reclamar! Reclama do salário, da pauta, do chefe, do computador que só dá trava na hora do fechamento… Foi numa destas sessões de “terapia em grupo”, graças ao amigo Milton Alves, então repórter da sucursal do “Globo”, em São Paulo, fiquei sabendo de um novo jornal esportivo que estava para nascer e ele conhecia quem estava envolvido no projeto. “Pô, me indica”, falei para ele.
E indicou mesmo. Dias depois, outro amigo, Lédio Carmona, hoje comentarista do Sportv, me telefonou e queria saber se eu estava interessado. Um novo jornal, nascendo do zero, um jornal apenas de esportes. Tinha uma carreira bem consolidada no Diário Popular, já tinha feito coberturas de Olimpíada, Pan-Americano e Mundial de basquete. Mesmo assim, disse que estava a fim de encarar o desafio.
Lédio disse então que seria procurado pelo Leão Serva, ex-secretário de redação da Folha de S. Paulo e que viria a ser o diretor de redação em São Paulo deste novo jornal. Leão me ligou, marcamos um café e depois um encontro num prédio perdido em pleno Bairro do Limão, ainda em obras. Lá seria a redação do Lance! Foi neste prédio em obras que eu aceitei embarcar na aventura que seria ajudar a criar, do zero, aquele que viria a ser o maior jornal esportivo no Brasil.
Este é um desafio que poucos jornalistas da minha geração tiveram oportunidade de ter. Na verdade, estávamos criando não um jornal, mas sim um “diário”, como gostava de falar o publisher e principal acionista do Lance!, Walter de Mattos Jr. Duas redações, no Rio de Janeiro e em São Paulo, com conceitos e realidades de jornalismo bem diferentes entre si.
Um grupo reduzido de jornalistas experientes comandando uma enorme quantidade de “focas” – como chamamos os jornalistas recém-saídos da faculdade ou ainda cursando o último ano. Todos com muito talento e que hoje seguem brilhando em outras redações, assessorias ou outros projetos de mídia. E não é que no final deu tudo certo?
E em algumas determinadas situações no dia-a dia dos pesados fechamentos, das mais engraçadas às mais bizarras, uma frase tornou-se meio que um mantra: “Isto é puro Lance!”.
Mas este não é um blog sobre jornalismo. Não vou discutir aqui o caminhos que o jornal traçou e suas perspectivas para o futuro.
Acredito que os 20 anos do Lance! precisam ser ressaltados por ter sido um veículo que sempre deu força e espaço aos esportes olímpicos. Bom, eu gostaria que tivesse sido mais espaço do que foi, mas não se pode minimizar a importância do Lance! na formação de toda uma geração de leitores que aprendeu a não gostar apenas de futebol e podia acompanhar nas páginas coloridas do jornal suas modalidades favoritas.
O Lance! formou uma geração de especialistas em modalidades olímpicas e isso para mim talvez seja seu maior legado. Jornalistas que aprenderam a cobrir uma Olimpíada ou título de Guga em Roland Garros com a mesma paixão que iam atrás de grandes histórias em um Campeonato Paulista de handebol ou em um Estadual de remo no Rio de Janeiro.
Só tenho a agradecer as duas passagens pela antiga redação da Bernardo Wrona e ter assinado nas páginas do Lance! algumas coberturas inesquecíveis, como a do Pan de Winnipeg-1999, os Mundiais de basquete feminino e masculino de 98 e por fim a Olimpíada Rio-2016.
Vida longa ao Lance!
PS: o amigo Rodrigo Borges, um dos editores do blog 2 Pontos, aqui do Lance! e integrante da talentosa geração de focas citada no texto, também trouxe suas lembranças dos 20 anos do Diário. Vale a pena conferir.
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