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Já passou da hora de limpar o jogo no esporte brasileiro

Ação da PF sobre a compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 chega no presidente do COB, Carlos Nuzman

Unfair play. Em tradução para o português, “Jogo sujo”

Sempre tive curiosidade em saber quem batiza as operações da Polícia Federal. O responsável por dar o nome à ação que se desenrola no Rio de Janeiro nesta terça-feira e que está na casa do presidente do COB, Carlos Nuzman, foi extremamente feliz.

O dirigente é um dos alvos da operação, com mandado de busca e apreensão em sua residência. A Polícia Federal, em conjunto com a polícia francesa, investiga a compra de votos para a eleição do Rio de Janeiro para os Jogos de 2016. A PF tem ainda mandado de prisão contra o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, que seria o responsável por depositar cerca de US$ 2 milhões na conta de Papa Diack, filho de Mamine Diack, ex-membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) e ex-presidente da Iaaf (Associação das Federações Internacionais de Atletismo).

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É importante ressaltar que não se trata de uma surpresa que finalmente as investigações tenham chegado até Nuzman. Para falar a verdade, até demorou. Em março, o jornal “Le Monde” publicou a denúncia de compra de votos para a escolha da sede da última Olimpíada. Até então, apesar da ligação do “Rei Arthur” com Sérgio Cabral, ex-governador do Rio que foi investigado pela Lava Jato e está preso, por corrupção e lavagem de dinheiro, não existia nada que respingasse na Rio-2016.

Só que uma outra reportagem, esta feita pela Agência Sportlight, do jornalista Lúcio de Castro, demonstra, com documentos, uma movimentação de Carlos Nuzman pelo continente africano em busca de votos, além de uma participação em um evento patrocinado por Diack no Mundial de atletismo de Berlim, em 2009. Neste último, Cabral e o ex-prefeito Eduardo Paes marcaram ponto, junto com Nuzman.

Passaporte apreendido

Entre as consequências imediatas da ação da PF desta terça-feira – lembrando que há policiais fazendo busca e apreensão de documentos na sede do próprio COB – está o impedimento de Carlos Nuzman em viajar para Lima, no Peru, onde na próxima semana será realizada a Assembleia Geral do COI. Como o dirigente brasileiro terá que entregar seu passaporte às autoridades brasileiras, não poderá participar do evento que refenderá Paris e Los Angeles como sede dos Jogos de 2024 e 2028. Nuzman também não poderá participar de uma das comissões que fazem parte da organização dos Jogos de Tóquio-2020.

Sem nenhum outro cargo de relevância no esporte internacional – no último dia 25, sem alarde, comandou a sucessão da Odesur, entidade que organiza o esporte olímpico na América do Sul – e agora envolvido em uma grave investigação internacional, Carlos Nuzman vive seu pior momento. Justamente um ano depois da Rio-2016, que tem seu custo final ainda desconhecido totalmente, embora tenha passado dos R$ 40 bilhões, e ainda com muitos débitos com fornecedores.

Em relação ao esporte nacional, o cenário não melhora muito, com diversas confederações sofrendo com a falta de recursos e patrocinadores minguando. O reflexo já é sentido em diversas competições, principalmente nas modalidades com menor repercussão e muita desorganização. Nem preciso lembrar que 2017 foi o ano em que um dos dirigentes mais antigos em atividade, Coaracy Nunes, da CBDA, passou uma temporada na prisão.

A limpeza no esporte brasileiro já passou da hora de acontecer.

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