A semana que acabou de se encerrar trouxe dois casos bastante emblemáticos para mostrar como funcionam as coisas no universo do esporte olímpico brasileiro. O primeiro veio à tona na última sexta-feira (13), em uma reportagem do jornal “O Globo” assinada pela repórter Carol Knoploch, com potencial para virar um escândalo: o cancelamento da naturalização de uma das atletas classificadas para compor a equipe feminina de esgrima, Emese Takács, húngara de nascimento e segunda colocada no ranking nacional de espada.
Aos 38 anos, Takács havia sido confirmada, pela CBE (Confederação Brasileira de Esgrima), no começo da semana passada, como um dos 13 integrantes que irão compor a equipe brasileira nas Olimpíadas Rio-2016. O problema é que, de acordo com a reportagem do “Globo”, uma juíza de Curitiba suspendeu provisoriamente a naturalização de Takács, ao solicitar esclarecimentos da atleta sobre o processo para torná-la cidadã brasileira. Além de questionar o período de permanência da atleta no país, a ação questiona até mesmo um casamento da atleta com um brasileiro, que aceleraria a autorização para que Takács fosse considerada brasileira.
O caso é tão surreal que lembra até um sucesso do cinema nos anos 90, chamado “Greencard – Passaporte para o Amor”, em que um músico francês (Gérard Depardieu) forjava um casamento com uma americana (Andy MacDowell) apenas para ter o visto de permanência nos Estados Unidos, mas que nem se encontrava com ela. No final, os dois acabavam se apaixonando e ficando juntos.
Não é segredo para ninguém que a esgrima brasileira não possuí nível técnico para encarar de igual as principais forças da modalidade na Rio-2016, com exceção de Renzo Agresta, que vem obtendo bons resultados nos últimos anos no sabre. E a estratégia para “bombar” a equipe brasileira foi promover a naturalização de alguns atletas (além de Emese Takács, também compõe a equipe feminina a italiana Nathalie Moullhausen, filha de mãe brasileira). Seria o fim da picada se for comprovado o “jeitinho” que a CBE tentou encontrar para não dar vexame na Olimpíada.
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Outro fato emblemático aconteceu neste último sábado (14), durante o Ibero-Americano de atletismo, que serve como evento-teste da modalidade, no estádio do Engenhão. Irritada com seu desempenho nas eliminatórias dos 100 m rasos, Rosângela Santos esbanjava mau humor ao ser abordada pelos repórteres. Até que resolveu rebater uma pergunta feita pelo repórter Vinicius Nicoletti, da Band, que a questionou sobre a má fase dos velocistas masculinos do Brasil, ainda sem índice nos 100 m, ao contrário das mulheres.
“Essa pergunta é irrelevante…é cada pergunta que vocês me fazem. Me pergunta como eu fui na prova, do meu desempenho”, sem nem deixar que o repórter completasse a pergunta. “Rosângela, você pode não responder, mas eu decido as perguntas eu vou fazer. É meu trabalho. Eu não te ensino a correr, e você não me ensina a perguntar. Ok?”
Foi quando veio a cereja no bolo. “Nossa, quem é você? Ninguém assiste a Band”, disparou, em um show de arrogância. Aos jornalistas da imprensa escrita, já chegou dando piti. “Se for falar de Ana Claudia eu já nem falo. Nem de doping, nem de revezamento. Não falo nada agora. Estou avisando agora”, disse a velocista, de acordo com o site “globoesporte.com”.
Rosângela Santos vem sendo, ao lado de Ana Claudia Lemos, uma dos destaques da boa equipe do revezamento 4 x 100 m rasos feminino, só que ela nem é a mulher mais rápida do Brasil (o recorde pertence a Ana Claudia, com 11s01). O lamentável comportamento da atleta precisa ser avaliado com urgência, tanto pelos dirigentes do COB (Comitê Olímpico do Brasil) quanto pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo). Até porque esse show de grosserias tolas pode esconder também a falta de preparo psicológico para lidar com a pressão de competir em casa em agosto próximo.