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Polêmica sobre julgamentos de doping no Brasil é surreal e fora de hora

Marco Aurélio Klein, presidente da ABCD, que defende a criação de um único tribunal para julgar casos de doping no Brasil (Divulgação)

Marco Aurélio Klein, presidente da ABCD, que defende a criação de um único tribunal para julgar casos de doping no Brasil (Divulgação)

Como se  a reta final da organização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016 já não tivessem preocupações suficientes, seja com atrasos nas entregas de algumas instalações esportivas ou a crise do vírus Zika, eis que surge uma perigosa polêmica que pode trazer consequências catastróficas para a Olimpíada. Uma determinação da Wada (Agência Mundial Antidoping), que vem pedindo a diversos países que criem um tribunal único para julgar todos os casos de doping criou um impasse no Brasil que pode até mesmo descredenciar o laboratório de controle de dopagem, que voltou a ser reconhecido pela Wada no ano passado.

O problema é que o tempo corre contra. Se até 18 de março o Brasil não se adequar a esta regulamentação, a Wada deverá descredenciar novamente o laboratório brasileiro, inviabilizando os controles antidoping que serão feitos nas Olimpíadas e Paraolimpíadas. Estamos falando de mais de 5 mil controles feitos em um período de pouco mais de duas semanas de duração de cada evento.

>>> E mais: O jogo sujo do doping é uma séria ameaça na Rio-2016

Sem o laboratório funcionando, as amostras teriam que ser enviadas para países credenciados pela Wada, como por exemplo o Canadá. Para quem não se lembra, durante a Copa do Mundo 2014 o Brasil estava reformando o antigo Ladetec, que tinha perdido as credenciais um ano antes, e assim todos os exames foram feitos fora do país, acarretando um custo nada modesto.

O surreal em todo este episódio é que parece estar longe do fim. A regulamentação da Wada atinge em cheio a estrutura anacrônica do direito esportivo do país, repleta de caminhos para recursos e instâncias que possibilitem prolongar os processos. Além de centralizar as decisões em um único órgão, a agência mundial antidoping quer rapidez nas decisões de casos tão graves que afetam a credibilidade do esporte. Segundo o médico Eduardo De Rose, membro do comitê executivo da Wada, em entrevista ao site globoesporte.com, o Brasil permite que os processos durem até 60 dias, enquanto que a entidade exige que sejam somente 21 dias.

A polêmica que pode custar caro à Olimpíada do Rio motivou até uma nota oficial da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), defendendo a criação de um tribunal único para todas as modalidades esportivas e que isso é uma medida obrigatória da Wada, ressaltando que isso precisa ser definido obrigatoriamente até o próximo dia 18.

O braço-de-ferro parece não ter fim, como relatou o companheiro Fábio Suzuki no blog De Prima, pois os representantes de 34 tribunais esportivos de modalidades olímpicas vão ignorar tanto a ABCD quanto a própria Wada e pretendem manter os julgamentos de casos de doping em seus respectivos TJD e STJD.

Se a ameaça da agência mundial antidoping se confirmar e o laboratório brasileiro for mesmo descredenciado, será um prejuízo enorme para a Rio-2016 e um vexame de proporções incalculáveis para a imagem do país no cenário esportivo internacional.

 

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