Existe um tema um tanto delicado de ser tratado no atletismo brasileiro, mas a meu ver, é cada vez mais necessário falar sobre ele. A preocupante fase irregular pela qual passa o campeão olímpico do salto com vara, Thiago Braz.
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De todas as 19 medalhas conquistadas pelo Brasil na Olimpíada Rio-2016, eu arrisco a dizer que nenhuma foi tão surpreendente e emocionante quanto aquele ouro de Thiago Braz. Quem acompanhou aquela prova, ao vivo no Estádio do Engenhão, ou pela TV, não se esquece. Uma disputa que se arrastou por horas, contra o francês e então campeão olímpico Renaud Lavillenie. Um salto espetacular, a marca incrível de 6,03 m, novo recorde olímpico, e medalha de ouro assegurada.
Pela primeira vez desde Joaquim Cruz, em Los Angeles-1984, o atletismo masculino do Brasil tinha um campeão olímpico. O que seria motivo de festa e esperança de grandes resultados para o ciclo olímpico de Tóquio-2020 tornou-se motivo de apreensão nos últimos anos.
Simplesmente porque Thiago Braz passou a viver uma verdadeira montanha russa alternando bons resultados com participações em provas onde terminava sem conseguir nenhuma marca válida.
É importante que sejam feitas algumas contextualizações. Em 2017, o ucraniano Vitaly Petrov, então seu treinador (atualmente atua como consultor do atleta) definiu junto com a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) uma mudança radical na rotina de treinos do atleta. A proposta de Petrov era aumentar a carga de força dos treinos de Thiago para torná-lo não apenas bicampeão olímpico, mas também recordista mundial do salto com vara.
Lesões e falta de resultados
O plano, contudo, não vem dando certo. Primeiro, por causa de uma lesão que o deixou fora do Mundial de 2017. Depois, os resultados começaram a não aparecer, a ponto do brasileiro ter ficado quatro provas seguidas em 2018 ser obter marca. Ou seja, queimando todas as tentativas. Neste ciclo olímpico, isso já ocorreu em oito das 34 provas oficiais que Thiago Braz disputou, ou 23,5% delas. Não é um número desprezível.
Foi o que ocorreu nesta quinta-feira (30), em uma etapa da Liga Diamante, realizada em Estocolmo. O campeão olímpico acabou eliminado sem ter conseguido superar o primeiro sarrafo, que estava em 5,36 m.
A experiência me ensinou a ter um certo cuidado ao falar de resultados no salto com vara. Presenciei ao vivo a eliminação de Fabiana Murer, então favoritíssima à medalha de ouro, na Olimpíada de Londres-2012. E de uma forma bizarra, não conseguindo nem fazer o último salto.
Fabiana foi massacrada em redes sociais por torcedores e criticada ironicamente nos bastidores por alguns colegas jornalistas. Até que dois meses depois daquela eliminação, pude entrevistá-la para tentar descobrir os motivos de seu fiasco. De forma técnica, sem apelar para desculpas esfarrapadas, Fabiana explicou que o vento que fazia naquela manhã no Estádio Olímpico de Londres, tornava muito arriscado fazer o último salto.
A prova desta sexta-feira em Estocolmo também teve no clima um adversário a mais. Ventou muito forte na hora da prova, tanto o grego Konstantinos Filippidis, que já foi campeão mundial indoor (pista coberta) também foi eliminado sem conseguir uma marca válida.
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O lado bom desta irregularidade é que Thiago Braz também mostra potencial para conseguir grandes marcas. Na etapa de abertura da Liga Diamante deste ano, em Doha (QAT), ele ficou em segundo lugar com 5,71 m. Foi seu melhor resultado em pista descoberta desde 2018.
Agora treinado novamente por Elson Miranda, que o descobriu para o atletismo, Thiago Braz ainda tem tempo para superar essa fase irregular. E quem sabe, transformá-la em uma sequência de bons resultados rumo a um novo pódio olímpico em Tóquio.