Depois de Togo Renan Soares, o Kanela, nenhum técnico teve tanta importância no basquete brasileiro do que Ary Vidal. Foi com ele que a seleção brasileira masculina subiu no pódio pela última vez em um Campeonato Mundial, com o bronze em 1978, nas Filipinas.
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Foi com Vidal, morto em 2013 por complicações de um AVC, que o basquete brasileiro teve talvez sua vitória mais relevante nos últimos 30 anos, com o ouro no Pan de Indianápolis-1987. Foi pelas mãos de Ary Vidal que surgiram craques como Oscar, Mascel, Israel, Guerrinha, Cadum, Pipoka, Maury e tantos outros. Jogadores que fizeram a modalidade viver um período no qual o Brasil entrava nas competições para brigar por medalhas, não apenas como coadjuvante.
O que talvez muitos não saibam é que Ary Vidal teve uma carreira brilhante em clubes. E foi inspirado naquela que talvez tenha sido seu maior feito, o jornalista gaúcho Guilherme Mazui Roesler escreveu o livro “Corinthians do Ary Vidal”. Repórter do portal G1, Roesler relembra a trajetória do treinador no comando do Pitt/Corinthians, de Santa Cruz do Sul, na conquista do título brasileiro de basquete de 1994. Há 25 anos, um time gaúcho quebrou a hegemonia dos clubes de São Paulo, Rio e Minas no basquete masculino.
Como surgiu a ideia de fazer o livro?
A ideia do livro nasceu há 10 anos, em 2009. Eu trabalhava no jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz, terra do Corinthians, e fiz uma série de reportagens para marcar os 15 anos do título brasileiro. Tive a oportunidade de entrevistar Ary e Waldir Boccardo [auxiliar técnico], busquei os atletas da época, dirigentes etc. O assunto também foi o tema da minha monografia da conclusão do curso de jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Como jornalista, sempre tive o sonho de fazer um livro-reportagem, considerava um desafio profissional. A apuração da série e da monografia despertou o desejo de unir meu sonho com o basquete.
Você acompanhou bem a conquista do título de 1994?
Poucas lembranças, pois eu tinha 6 anos de idade (tenho 31 atualmente) e não morava em Santa Cruz à época. Lembro da mobilização no Estado, de cenas na TV e nos jornais com aqueles jogadores de verde (temos no Rio Grande do Sul um Corinthians que usa verde, hehehe) e um técnico elétrico à beira da quadra.
Depois, morando em Santa Cruz a partir de 2001, peguei os últimos anos do Corinthians na Liga Nacional e o basquete local já em decadência. Ouvia histórias maravilhosas sobre os grandes jogos, grandes atletas, a atmosfera local e fui ficando cada vez mais curioso pela história. Isso também ajudou a despertar a ideia do livro.
Qual foi o significado do título de 94 para o basquete do Rio Grande do Sul? E qual o legado que este título deixou?
Mostrou que o Rio Grande do Sul também gosta de basquete. Temos a rivalidade e a paixão pela dupla Gre-Nal muito enraizada. O “Corinthians do Ary Vidal” uniu gremistas e colorados, mobilizou um Estado. O gaúcho é muito orgulhoso das coisas da terra, creio que o Corinthians elevou ainda mais a autoestima, o sentimento de que mesmo contra grandes adversários é possível vencer.
Sobre o legado, o título mostrou que é possível fazer basquete de alto nível no Rio Grande do Sul, que é possível enfrentar as grandes potências do esporte, que à época estavam mais concentradas em São Paulo. Atualmente, o legado é deixar aquela esperança de que se pode repetir a façanha do time do Ary. É uma esperança que já apareceu em Lajeado, Canoas, Caxias do Sul. O Corinthians serve de inspiração até hoje.
Veja imagens de Ary Vidal no Pitt/Corinthians:
Quais foram os maiores obstáculos que você encontrou para fazer o livro?
Creio que a busca pelo material e conseguir amarrar uma linha do tempo. O livro se concentra entre 1990 e 1994, da chegada do Ary ao Corinthians, até então uma equipe amadora, ao título brasileiro. Os vices de 1996 e 1997 estão no posfácio.
Pesquisei todos as edições da Gazeta do Sul e de Zero Hora de janeiro de 1990 a abril de 1994 a fim de traçar uma linha do tempo e cruzar as informações com as memórias dos entrevistados. Fiz quase 50 entrevistas.
Busquei arquivos do Correio do Povo e dos jornais O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, vídeos no YouTube e no acervo da RBS TV, mais livros, documentos, reportagens em sites. Tive a sorte de conseguir uma editora, a Editora Gazeta, de Santa Cruz do Sul, que acreditou no projeto desde o início.
Houve algum apoio financeiro do próprio clube para produzir o livro?
Não tive apoio financeiro durante a pesquisa. Fiz algumas viagens por conta, usei horas livres e períodos de férias para pesquisar, já que tinha uma base de material levantada em 2009. O acesso aos arquivos dos jornais e da RBS TV foi excelente, o clube deu apoio com as informações disponíveis. Procurei a editora quando tinha o livro praticamente escrito, então uns oito anos do projeto foram em carreira solo.
Você chegou a entrevistar alguma vez o Ary Vidal? Qual você acha que tenha sido a principal contribuição dele para este título?
Sim, tive a oportunidade de entrevistar o Ary em 2009, mais de uma vez. Também o entrevistei em 2012, no Rio de Janeiro, oportunidade na qual conversei com o Waldir Boccardo, que era auxiliar daquele time. A mulher do professor Ary, Heloisa, me auxiliou com informações durante todo o projeto, inclusive com fotos da vida do Ary.
Ary era a alma do projeto e do time do Corinthians. Além de excelente técnico, sabia observar detalhes e era um exímio motivador e orador. Ele foi o embaixador da causa do basquete no Rio Grande do Sul, decisivo para despertar no Estado o desejo de ter o melhor time de basquete do Brasil.
Por conhecer os principais técnicos e jogadores da época, e ter o auxílio do Boccardo para preparar a defesa do time, Ary consegui levar uma equipe desacredita ao título. O Corinthians de 1994 não tinha jogadores de seleção e, da dupla de norte-americanos, apenas Alvin Frederick era um nome consolidado. Brent Merritt estava na primeira temporada no Brasil.
Ary conseguiu manter, principalmente a partir das semifinais e finais daquela Liga, o time aceso, sem medo de encarar equipes paulistas mais fortes. Ary fez um time mediano no papel, que ele chamava de “fusquinha”, acreditar que poderia ultrapassar os bólidos de “Fórmula-1” de São Paulo.
Por que esse título “Corinthians do Ary Vidal”?
O título “Corinthians do Ary Vidal” foi inspirado em uma marchinha de carnaval criada pela torcida da Pitt/Corinthians. “Corinthians do Ary Vidal vai ser campeão nacional”, dizia o verso em fevereiro de 1994, quando a equipe não figurava entre os favoritos ao título. Dois meses depois, a Pitt/Corinthians deixou os favoritos paulistas para trás e conquistou o Brasil. Na festa, a torcida atualizou a marchinha, que ganhou nova versão: “Corinthians do Ary Vidal já é campeão nacional”.
Serviço:
Livro: “Corinthians do Ary Vidal”
Autor: Guilherme Mazui Roesler
Editora: Editora Gazeta
Páginas: 383
Lançamento: 16 de abril, às 20h, no Memorial da Unisc em Santa Cruz do Sul (RS)
Valor: R$ 70
Contato para interessados: circulacao@editoragazeta.com.br ou (51) 3715 7989
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