Única brasileira a ter uma medalha em Mundiais de wrestling (foi prata em 2014), a lutadora Aline Silva está preparando seu retorno às competições. É o fim de uma fase cheia de problemas em sua carreira. Há mais de um ano ela está afastada do tapete, após passar por dois graves problemas físicos. Um deles que lhe fez correr risco de vida, uma trombose na perna esquerda.
Depois, uma lesão no joelho direito a obrigou a passar por uma cirurgia. Em março, ela estará liberada definitivamente pelo médico para voltar a competir.
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A completa recuperação física não é a única preocupação de Aline Silva atualmente. Ela se mostra bastante pessimista com o atual cenário do esporte brasileiro, em particular o esporte olímpico. O fim do Ministério do Esporte (rebaixado à condição de Secretaria Especial) no governo Bolsonaro e o corte profundo que sofreu o programa Bolsa Atleta a deixam aflita.
“Estou muito triste e preocupada com esta situação. Estou bem pessimista, não sei como o governo irá lidar com essa situação de agora em diante, mas eu queria que olhassem com mais carinho para o esporte”, disse Aline Silva, na segunda entrevista da série “Bate Bola Olímpico”.
Confira abaixo o papo com Aline Silva
Como está sendo seu processo de recuperação?
ALINE SILVA – Está sendo uma recuperação muito boa, dentro do previsto. Tenho sofrido um pouco para dobrar novamente o joelho, ganhar amplitude, mas o fisioterapeuta disse que está tudo dentro do normal, eu que sou um pouco ansiosa. Estou me sentido mais forte do que antes de lesionar o joelho, porque acabei passando um ano inteiro parada. Primeiro a trombose, logo na sequência o joelho. Estou agora treinando muito a parte física, que era uma coisa que sabia no ciclo olímpico anterior que poderia fazer a diferença para mim na hora da luta. Era uma coisa que me faltava um pouco, então tenho me sentido muito bem, mais forte até do que antes da lesão.
Quando você teve a trombose, chegou a temer que não pudesse mais competir?
Na ocasião da trombose, eu não tinha caído muito na real do quanto sério era o problema. Já desconfiava da trombose lá nos Estados Unidos [estava fazendo um período de treinos lá] e decidi voltar para o Brasil mesmo assim. Não levei tão a sério quanto deveria. Mas em momento algum pensei que aquilo poderia me impedir de lutar. A lesão no joelho foi algo que me preocupou mais do que a trombose neste sentido. Eu temi sim em relação à trombose quando fui ao médico e entendi a gravidade da doença. Aí temi pela minha vida mesmo.
Como está sua expectativa para o Pan-Americano da modalidade, em Buenos Aires, em abril? E você já está com vaga assegurada para os Jogos Pan-Americanos de Lima?
O Pan da Argentina ainda está complicado para mim. A Confederação está sem patrocinador, tem problemas com falta de verba e não vão levar equipe completa. Este Pan da Argentina é classificatório para os Jogos Pan-Americanos de Lima, em que já estou classificada. Até entendo a estratégia da Confederação, de levar apenas os atletas que ainda precisam conquistar a vaga. Por tudo isso, não sei se conseguirei ir a este Pan da Argentina, até porque eu não participei da seletiva em janeiro, pois ainda não estava liberada da cirurgia. Só estarei liberada de fato em março.
Acredita que consiga um lugar na delegação que vai para os Jogos de Tóquio? Quais as principais dificuldades que você vê para alcançar essa meta?
Estou muito confiante de conseguir esta vaga para Tóquio. Um das maiores dificuldades será voltar ao ritmo de competição em que estava antes dos Jogos do Rio. No último ciclo olímpico, nesta época, estava em segundo no ranking mundial. Agora, fiquei mais de um ano fora, se juntar a trombose e a lesão no joelho. Então, o meu desafio agora é o ritmo de competição. O lado positivo é que estou me sentindo muito bem fisicamente, embora tenha ficado muito tempo sem competir com as minhas adversárias. Mas estou bem confiante e otimista para conseguir esta vaga.
Como avalia o atual momento do esporte brasileiro, em que patrocínios de estatais não estão sendo renovados e o governo federal acena diminuir a Bolsa Atleta?
O esporte tem sido deixado de lado com a desculpa de que precisamos olhar para a segurança, saúde, que são de fato setores que precisam muito de atenção no país. Mas eu tenho certeza que o esporte ajuda muito a solucionar problemas de segurança. Esporte é inclusão social, é tirar as crianças da rua, é dar qualidade de vida para a população. O esporte é algo que previne, é um trabalho a longo prazo, que pode surtir mais resultados do que ter polícia na rua matando.
Milhares de atletas vão ser obrigados a abandonar o esporte porque não conseguirão seguir treinando pela falta do Bolsa Atleta. Isso com certeza será uma perda muito grande. Avançamos bastante antes dos Jogos Olímpicos do Rio e agora estamos retrocedendo anos-luz.
Esporte não significa apenas medalhas, só Olimpíadas. Precisamos entender e compreender melhor o esporte e a função dele na sociedade e lhe dar a atenção necessária.
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