Toda vez que pinga na minha caixa de entrada do e-mail nova mensagem do COI, mesmo sem ver o assunto já posso imaginar que possivelmente o tema será doping. Desde meados de 2015, quando começaram as reanálises de exames dos Jogos Olímpicos de Pequim-20078 e Londres-2012, nove em dez comunicados do COI diz respeito a algum atleta que perdeu sua medalha por uso de substância proibida.
Desta vez, a trapaceira desmascarada foi uma ucraniana, Viktorya Tereshchuk, do pentatlo moderno, que em novo exame foi flagrada usando a substância turinabol em Pequim-2008, quando ficou com a medalha de bronze. Tereshchuk foi imediatamente desclassificada.
Já notificado da decisão, o comitê olímpico ucraniano deverá providenciar a devolução da medalha e diploma de participação. Possivelmente, a UIPM (União Internacional de Pentatlo Moderno) deverá anunciar que a quarta colocada, Anastasiya Samusevich-Prokopenko, de Belarus, deverá herdar o bronze.
Notícias como essa tornaram-se comuns, infelizmente, dentro do noticiário olímpico. O COI está reescrevendo a história das Olimpíadas por conta da descoberta de inúmeros casos positivos. A Rússia está envolvida na maioria destes casos, por conta de um esquema de doping apoiado pelo governo, segundo apontou um relatório independente da Wada (Agência Mundial Antidoping).
Mas será que só os russos são os culpados?
No último final de semana, uma reportagem publicada pelo “The Sunday Times” mostrou que um relatório da USADA (Agência Norte-Americana Antidoping) apontou que o treinador Alberto Salazar dava uma quantidade acima do permitido de determinados medicamentos a seus atletas. Isso resultaria em um aumento de performance dos comandados de Salazar. Entre seus atletas, está simplesmente Mo Farah, o britânico atual bicampeão olímpico dos 5.000 e 10.000 m, em Londres-2012 e Rio-2016.
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Obviamente que Farah negou o uso de substâncias proibidas e disse estar “profundamente frustrado por precisar reafirmar que nunca fez nada de errado”. Os documentos que serviram de base para a reportagem do “Sunday Times” foram divulgados pelo grupo Fancy Bears, formado por hackers russos que vêm invadindo sites de comitês olímpicos ou até mesmo da Wada. O objetivo é mostrar que o doping não é exclusividade dos atletas russos.
Neste semana, em uma audiência no Congresso dos EUA que tratava sobre o combate ao doping, Michael Phelps, o maior ganhador de medalhas da história das Olimpíadas (28 no total), foi categórico: ele disse que, ao longo de sua carreira, acredita nunca ter competido sempre contra atletas limpos. Ele se diz frustrado com o nível atual de trapaça do esporte.
Por fim, para responder a pergunta do título do post: não dá mesmo para sonhar em um esporte sem doping.