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Seleção Brasileira

Fabiana Murer paga preço alto pela nossa monocultura esportiva

A eliminação de Fabiana Murer nos Jogos Rio-2016 possivelmente trará como consequência uma série de críticas típicas de quem não entende o esporte olímpico

Fabiana Murer não conseguiu passar pelas eliminatórias do salto com vara, mas não merece ser massacrada (Foto:

Fabiana Murer não conseguiu passar pelas eliminatórias do salto com vara, mas não merece ser massacrada (Foto: Washington Alves/Exemplus/COB)

Já passava da uma da madrugada desta terça-feira e enquanto deixava a tribuna de imprensa do Estádio Olímpico do Engenhão, após acompanhar a sensacional vitória de Thiago Braz na final do salto com vara masculino, quando conquistou a primeira medalha de ouro do Brasil no atletismo olímpico desde 2008, conseguia escutar cantos comuns em qualquer partida decisiva de futebol neste país. “É campeão! É campeão!” Em apenas quatro horas, o salto com vara, de forma muito justa, diga-se de passagem, havia se tornado um assunto de preocupação e orgulho nacional.

Agora, sejamos justos: se alguém por estas bandas, exceção feita aos fanáticos, conhece alguma coisa ou tem admiração pelo salto com vara, deve isso à paulista Fabiana Murer, que nesta terça-feira encerrou de forma melancólica sua participação nos Jogos Rio-2016, ao ser eliminada ainda na fase qualificatória do salto com vara feminino. Ela não conseguiu superar a barreira dos 4m55, terminando assim sem marca. Foi superada até por outra brasileira na prova e também eliminada, Joana Costa, que fez 4m15.

>>> Frustrações olímpicas: lembre as três falhas de Fabiana Murer em Jogos

Fabiana completa uma trilogia de insucessos olímpicos, que começaram em 2008 com o bizarro episódio da vara perdida pela organização na Olimpíada de Pequim-2008 na final e passou pela desclassificação na eliminatória em Londres-2012, quando não conseguiu encaixar seus saltos em um dia de fortes ventos no Estádio Olímpico. Justamente em casa, na competição que marcaria sua despedida defendendo o Brasil, um novo fiasco. O motivo desta vez foi não ter se recuperado a tempo de uma hérnia de disco cervical, problema que ela descobriu há menos de um mês.

Seria fácil e até óbvio que torcedores descontassem sua frustração apontando um caminhão de críticas neste momento para Fabiana Murer. Crueldades como chamá-la de “amarelona” não chegariam a me espantar, assim como se alguém a classificasse como uma atleta “azarada” e que “sempre falha na hora H.”

Talvez boa parte destes “críticos” só começaram a se interessar pelo salto com vara justamente quando foram apresentados a este esporte, vejam vocês…por Fabiana Murer! Alguém que tem no currículo algumas das principais conquistas do atletismo brasileiro em quase 20 anos, como o Mundial de 2011 em Daegu (Coreia do Sul); o Mundial indoor de Doha (Qatar) em 2010; o bicampeonato da Liga Diamante, o mais importante circuito de provas da Iaaf (Associação das Federações Internacionais de Atletismo) em 2010 e 2014; e três medalhas em Jogos Pan-Americanos, sendo um ouro (2007) e duas pratas (2011 e 2015).

Acusar Fabiana Murer de fracassada é simplesmente fruto da nossa monoculura esportiva, onde está enraizado o culto aos vencedores e quase que o desprezo absoluto aos que ficaram longe das glórias. Significa também menosprezar tudo o que ela conseguiu pelo anêmico atletismo brasileiro, que vem sobrevivendo de talentos e estrelas esporádicas há muitos anos.

Talvez seu maior erro nesta Rio-2016 foi não ter escutado e percebido os limites do próprio corpo e ter aberto mão de sua participação, por não estar 100% recuperada de algo seríssimo que é uma hérnia de disco. Um erro cometido pelo desejo insano de provar que ela merece o reconhecimento por tudo que fez em sua carreira. Talvez quando começarmos a entender o esporte olímpico da forma como ela precisa ser visto, Fabiana Murer tenha o seu devido valor.

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