Pode parecer irônico que o Brasil, um país que está apenas começando a amadurecer sua vocação de nação poliesportiva, esteja às vésperas de participar de uma Olimpíada (realizada em seu próprio território) sem dois de seus mais importantes atletas. Para piorar, o motivo da ausência não tem como causa uma contusão, suspensão ou indisciplina. O mais duro de tudo isso é que caso estas ausências se confirmem, não se poderá falar em injustiça.
Uma das mais significativas poderá ser a de Cesar Cielo, o primeiro brasileiro campeão olímpico na natação, ao levar a medalha de ouro nos 50 m livre, nos Jogos de Pequim 2008. Reportagem publicada pelo jornal “O Globo” na última terça-feira, deu mais combustível para quem duvida das reais condições de Cielo assegurar uma vaga na Rio 2016. Uma declaração de Ricardo de Moura, coordenador técnico da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), reforça o risco do atleta de Santa Bárbara D’Oeste (SP) não disputar sua terceira Olimpíada.
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“Tem que reverenciar o Cielo, e vamos reverenciar. Só que ele mesmo cansou. Tem um filho agora, mudou. Os valores, os conceitos, mudaram. Eu estive com ele nos EUA. Está bem melhor, mas tem perfeita noção… O grande adversário dele, é ele mesmo”.
Quem acompanha mais de perto a natação sabe que o drama de Cesar Cielo não é recente. A temporada de 2015 foi talvez a pior de sua carreira. No Mundial de Kazan, na Rússia, depois de um fraco resultado nos 50 m borboleta, quando terminou em sexto lugar, abandonou a competição reclamando de uma lesão no ombro esquerdo, depois constatada. No final do ano, na primeira seletiva olímpica, fez um resultado ruim nas eliminatórias dos 100 m, ele simplesmente abandonou a competição.
No início deste ano, sem fazer alarde, viajou para o Arizona (EUA), onde passou a treinar novamente com o técnico australiano Scott Goodrich, reeditando uma parceria que já lhe rendeu duas medalhas de ouro no Mundial de 2013, em Barcelona. A retomada ainda não deu resultado, embora ele tivesse chegado bem perto do índice olímpico nos 50 metros livre. No início de abril, ele marcou 22s28 em uma prova no Texas, um centésimo acima da marca exigida pela CBDA para a distância (22s27).
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Agora, a última chance para o nadador (que nos Jogos de Londres 2012 foi bronze nos 50 m) assegurar sua vaga olímpica será no Troféu Maria Lenk, que irá testar as instalações no Centro Aquático Olímpico. Problema é que se as palavras de Ricardo de Moura se confirmarem, são grandes as chances de Cesar Cielo ver a Olimpíada do Rio do lado de fora da piscina.
Outra possível ausente na delegação brasileira nos Jogos do Rio deve ser Fabiana Beltrame. Melhor remadora do Brasil, ele conquistou um até então inédito título mundial em 2011, poucos meses depois de ter sido mãe, no single skiff peso leve, prova não olímpica.
Para este ciclo olímpico, ela buscou uma parceira para competir no double skiff leve, mas não teve sucesso. Por isso, acabou disputando o Pré-Olímpico das Américas, realizado no Chile., no single skiff pesado, quando ficou com a prata.
O problema é que o Brasil tem assegurada apenas duas embarcações na Olimpíada, por ser o país-sede. E no mesmo Pré-Olímpico, o double skiff formado por Fernanda Nunes e Vanessa Cozzi venceu sua prova. Com isso, a CBR (Confederação Brasileira de Remo) acabou designando o barco da dupla como a dona da vaga olímpica do país.
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Fabiana ainda alimenta uma esperança, que foi um pedido feito pela CBR e também pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), para que a Fisa (Federação Internacional de Remo) conceda um convite, que viria das vagas remanescentes de países que abriram mão de disputar a Olimpíada. Mas até pelos recentes problemas de relacionamento da Federação Internacional com os organizadores da Olimpíada, em relação às instalações do remo, é pouco recomendável confiar muito na chegada deste convite.
O tempo corre cada vez mais rápido para Cesar Cielo e Fabiana Beltrame, e a distância deles para a Rio 2016 infelizmente é cada vez maior.