Nunca uma eleição de entidade esportiva reuniu personagens de tanta história como a que ocorreu nesta quarta-feira (19), quando Sebastian Coe derrotou Serguei Bubka no pleito que definiu o novo presidente da Iaaf (Associação das Federações Internacionais de Atletismo). O britânico Coe, bicampeão olímpico nos 1.500 m (Moscou 1980 e Los Angeles 1984) e com atuação elogiada na organização dos Jogos de Londres 2012, superou o ucraniano Bubka, seis vezes campeão mundial do salto com vara e ainda recordista da prova, por 115 votos a 92. A eleição ocorreu em Pequim, onde nesta sexta-feira à noite (pelo horário de Brásília) começará o Mundial de atletismo.
“Esta pode ser minha última corrida. Vocês têm a decisão em suas mãos. Quero representar o atletismo no movimento olímpico e não o movimento olímpico no atletismo. Sua luta é a minha luta”, disse Coe, após a divulgação do resultado da eleição.
Mais do que um jogo de palavras, o dirigente inglês precisará colocar toda a sua energia e tirar os “esqueletos do armário” da Iaaf em um tema extremamente polêmico: as denúncias de casos de doping encobertos pela entidade na última década.
Nas últimas semanas, o mundo do atletismo ficou abalado com as denúncias feitas pelo jornal britânico Sunday Times e pela rede de TV alemã ARD, que denunciam possíveis casos omitidos de doping em cerca de um terço de 12 mil análises procedentes de uma base de dados da IAAF, um terço das medalhas conquistadas em Mundiais e Olimpíadas nas provas de meio-fundo até a maratona entre 2001 e 2012.
Coincidentemente, o período abrange o mandato do antecessor de Coe na presidência da Iaaf, o senegalês Lamine Diak, que ocupava o cargo desde 1999.
Se as denúncias forem comprovadas, é provável que muitos livros de recordes e da história do atletismo precisem ser atualizados, com a alteração de nomes de diversos medalhistas. Uma vergonha sem precedentes no esporte mundial.
Se Coe pretende obter o mesmo sucesso que teve em sua carreira esportiva, precisará cortar a própria carne, sem dó. O inglês Moe Farah, ouro nos 10.000 m em Londres 2012, disse que Coe é o único em condições de salvar o atletismo. E o próprio dirigente, que carrega o titulo de lorde britânico, sabe que a tarefa será árdua.
“Essa luta é muito importante, mas não quero que pensem somente no atletismo, porque é um problema universal em todos os esportes. Mas devemos reconhecer que há uma opinião geral de que há lacunas e provavelmente um sistema independente vai permitir acabar com qualquer dúvida”, disse o novo mandatário da Iaaf.
Essa sem dúvida será a corrida mais difícil da vida de vida de Sebastian Coe.
Reveja abaixo uma das duas medalhas de ouro olímpicas conquistadas por Coe, nos 1.500 m das Olimpíadas de Moscou 1980