Na última semana, a menos que você tenha passado uma temporada em Marte, é quase impossível que não tenha tomado conhecimento do clima de guerra entre atletas dos Estados Unidos e o presidente Donald Trump. E a coisa está longe de um final feliz.
O estopim foi uma entrevista do armador Stephen Curry, astro do Golden State , atual campeão da NBA. Por tradição, todas as equipes campeãs das ligas americanas costumam ser recebidas pelo presidente, na Casa Branca. Na última sexta-feira (22), Curry disse que não se sentiria à vontade de visitar Trump ao lado de sua equipe. Irritado com a manifestação, ainda na sexta, Trump cancelou o convite. Para piorar, ainda chamou Colin Kaepernick, da NFL, a liga de futebol americano, de “filho da puta”. O pecado mortal dele: ajoelhar-se na hora do hino americano, em protesto pela violência policial contra os negros.
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A ação provocou uma onda de protestos, com respaldo de outras estrelas da NBA, como LeBron James, chegando ao ápice na última rodada da NFL, quando todas as equipes, inclusive com apoio dos proprietários, fizeram protestos. O Dallas Cowboys, uma das equipes mais populares da liga, viu seu presidente, Jerry Jones, ajoelhar-se ao lado dos atletas.
Exaltado e elogiado por muitas pessoas, inclusive por entidades como o USOC, o comitê olímpico americano, o protesto contra a violência racial seria rejeitado se fosse feito nas Olimpíadas. Além disso, os responsáveis sofreriam pesadas punições. Como aliás, já ocorreu uma vez, nos Jogos de 1968, na Cidade do México.
Protesto histórico
A Carta Olímpica proíbe qualquer tipo de manifestação política nas Olimpíadas, seja individual, por equipes ou mesmo na plateia.Por isso, o COI (Comitê Olímpico Internacional) foi pego de surpresa com o protesto feito pelos americanos Tommie Smith e John Carlos, medalhistas dos 200 metros do atletismo em 1968.
O mundo também vivia um período conturbado naquele ano. Nos Estados Unidos, as tensões raciais estavam ainda mais fortes, especialmente após o assassinato do líder dos direitos civis Martin Luther King, meses antes.
Após a final dos 200 metros, Smith (ouro) e Carlos (bronze) planejaram fazer um protesto pelos direitos humanos no pódio. Receberam suas medalhas descalços, apenas com meias pretas, para representar a pobreza dos negros, além de vestirem luvas negras, símbolo do movimento Panteras Negras. Na hora do hino, ergueram os braços com as luvas nas mãos e abaixaram a cabeça. Foi marcante. Veja como foi:
Tão logo chegaram à Vila Olímpica, começaram a sofrer as consequências do protesto. Foram expulsos da delegação americana. O COI, presidido por um americano, Avery Brundage, reagiu com dureza também ao protesto, excluindo Smith e Carlos dos Jogos Olímpicos. Nos Estados Unidos, ambos sofreram ameaças de morte e foram duramente criticados por parte da imprensa americana. Só encontraram a redenção em 2005, ao serem homenageados pela Universidade de San José, na Califórnia, pela luta dos dois em favor dos direitos humanos.
Por mais que o COI busque se adequar aos tempos atuais, inclusive com a entrada de novos esportes, uma manifestação como as atuais, feitas pelos atletas americanos contra a violência racial e a postura bélica de Trump, seria punida com rigor. Podem apostar que sim.
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