O vôo para Atlanta, em 1996, foi longo. Primeira cobertura olímpica “in loco”, ansiedade a mil, o destino final seria Nova York e depois Nova Jersey, onde a Seleção Brasileira de futebol faria seu último amistoso preparatório contra um combinado de jogadores da Major League Soccer (MLS).
Depois de encarar mais de dez horas de vôo e passar pelos cansativos procedimentos de alfândega, a única coisa que você quer é ir logo para seu hotel, tomar um banho e já partir para a batalha. Mas notícia não escolhe hora. Pois na hora em que eu deixava a área de bagagem do Aeroporto John F. Kennedy, eis que vejo saindo ao meu lado a equipe brasileira de tênis de mesa, todos ainda abalados pela trágica morte de seu principal jogador, Claudio Kano.
Considerado por muitos como o melhor jogador da história do tênis de mesa brasileiro, tendo inclusive jogado na liga profissional da Suécia, Kano perdeu a vida em um acidente de moto, horas antes de embarcar com a delegação para os Estados Unidos. Sua moto foi atingida por um carro na Marginal Pinheiros, morrendo na hora.
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Talvez quem mais tenha sentido o baque tenha sido aquele que se tornou o herdeiro do legado de Kano na Seleção Brasileira, Hugo Hoyama. Juntos, conquistaram quatro medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos, em duplas e por equipes, nas edições de Havana 1991 e Mar del Plata 1995. Em Atlanta, disputariam a Olimpíada juntos pela segunda vez, depois de Barcelona 1992.
Ao seu lado, saindo da área de desembarque, comecei um diálogo corriqueiro, falando do voo e perguntando sobre o destino deles a partir de lá. Como só eu de jornalista estava lá, foi tudo bem tranquilo. Até que comecei a falar de Kano e perguntei sobre como a equipe estava reagindo à tristeza da morte do companheiro. Com olhos marejados, Hoyama não pensou duas vezes: “Vou jogar por ele em Atlanta”.
E as palavras não foram à toa. Em Atlanta, Hugo Hoyama obteve a melhor colocação de um mesa-tenista brasileiro em Olimpíadas, terminando em nono lugar, ao ser eliminado nas oitavas de final pelo tcheco Petr Korbel. O brasileiro conseguiu cravar ainda uma vitória sobre o sueco Jorgen Persson, então campeão mundial.
A inspiração do amigo Claudio Kano ajudou demais Hugo Hoyama em Atlanta 1996.