O Brasil tem apenas 13 atletas bicampeões olímpicos, dos quais nove deles são do vôlei (Serginho, Giovane, Maurício, Fabiana, Paula Pequeno, Thaisa, Jaqueline, Sheilla e Fabi), três da vela (Robert Scheidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira) e Adhemar Ferreira da Silva, o pioneiro, o primeiro do país a colocar no peito duas medalhas de ouro e, também por isso, considerado por muitos o maior atleta olímpico brasileiro de todos os tempos.
Enquete feita recentemente pelo GloboEsporte.com com 100 jornalistas, da qual dois integrantes do Olimpíada Todo Dia foram convidados a participar, Fernando Gavini e Marcelo Laguna, referendou o fato de que nunca houve no Brasil um atleta olímpico como Adhemar Ferreira da Silva.
O COMEÇO
Filho de um ferroviário e de uma lavadeira, Adhemar nasceu em 29 de setembro de 1927 num porão da rua Casa Verde, na zona norte de São Paulo. Começou no atletismo com cerca de 19 anos de idade, na equipe do São Paulo FC, que, na época, tinha sua praça de esportes no bairro do Canindé. A equipe de atletismo era comandada pelo técnico alemão Dietrich Gerner e pelo auxiliar Paulo Resende. Inicialmente, experimentou um rodízio de provas (corridas de 100 m a 1.500 m, saltos em altura e em distância).
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Certo dia, viu o capitão da equipe de atletismo do São Paulo, Ewaldo Gomes da Silva, treinando salto triplo, prova que desconhecia. Curioso, pediu explicações e, a seguir, fez um teste. Ewaldo não falou nada. Imediatamente, foi chamar o técnico Gerner, que pediu uma repetição: novo salto de 12,80 m. Três dias depois, em sua primeira competição (São Paulo x Floresta, que é o atual Clube Espéria), marcou 13,05 m. Nascia ali um fenômeno do atletismo.
LONDRES-1948
Apesar do pouquíssimo tempo de atletismo, Adhemar Ferreira da Silva foi selecionado para fazer parte da equipe brasileira que disputou os Jogos Olímpicos de Londres-1948. Na capital inglesa, o brasileiro ficou em quatro lugar nas eliminatórias com 14,69 m, mas, na final, sua marca foi 20 cm pior e ele terminou a prova de salto triplo na oitava colocação.
Mas daí em diante, a evolução dos resultados de Adhemar Ferreira da Silva foi incrível. Em dezembro de 1950 ele igualou o recorde mundial de salto triplo de 16,00 m, estabelecido por pelo japonês Naoto Tajima em Berlim-1936 e ganhou o ouro nos Jogos Pan-americanos de 1951. Em setembro do mesmo ano, chegou à marca de 16,01 m e passou a ser sozinho o recordista.
HELSINQUE-1952
Nos Jogos Olímpicos de Helsinque-1952, Adhemar Ferreira da Silva, aos 25 anos, deu um show. Ele superou em quatro dos seis saltos que deu na final o recorde mundial que pertencia a ele. A melhor marca foi de 16,22 m, 24 cm a frente do soviético Leonid Shcherbakov, que ficou com a medalha de prata.
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MELBOURNE-1956
Depois de Helsinque-1952, Adhemar Ferreira da Silva manteve o título dos Jogos Pan-Americanos com mais um recorde mundial: 16,56. O resultado fazia com que o brasileiro chegasse aos Jogos Olímpicos de Melbourne-1956, mais uma vez, como grande favorito. A marca alcançada por ele na Austrália foi de 16,35 m, que deu a segunda medalha de ouro para o brasileiro com direito a recorde olímpico.
ROMA-1960
A última conquista internacional de Adhemar Ferreira da Silva foi o tricampeonato do salto triplo nos Jogos Pan-Americanos de 1959. No ano seguinte, em Roma-1960, o atleta se despediu dos Jogos Olímpicos. Ele competiu com problemas pulmonares, que ainda não tinham sido diagnosticados pelos médicos, e terminou apenas em 14º. lugar.
Ao todo, Adhemar Ferreira da Silva bateu o recorde mundial do salto triplo sete vezes, além de ter sido pentacampeão sul-americano, tricampeão pan-americano e dez vezes campeão brasileiro. Conquistou mais de 40 títulos internacionais.
Adhemar Ferreira da Silva também teve êxito fora das pistas. Formou-se em artes, educação física, direito e relações públicas. Falava seis idiomas -inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e português- e foi adido cultural na Nigéria de 1964 a 67, após abandonar a carreira.
Em janeiro de 2001, aos 73 anos, Adhemar Ferreira da Silva faleceu após ter uma parada cardíaca, no hospital Santa Isabel, região central de São Paulo. Na época, era membro da Comissão de Atletas do Ministério do Esporte e Turismo.