Na última segunda-feira (20), foi ao ar o episódio do Sem Limites em que Ana Paula Rodrigues, que se recupera de uma cirurgia para a reconstrução do ligamento cruzado anterior, se dizia esperançosa de jogar sua quinta Olimpíada. Entretanto, a jogadora, campeã mundial em 2013 e recordista de jogos e gols pela seleção brasileira, recebeu na terça-feira (21) uma ligação por telefone do técnico Cristiano Rocha, que descartou qualquer possibilidade de convocá-la para os Jogos. O treinador anunciou sua decisão à atleta mais de dois meses antes da estreia em Paris-2024 e não vai dar a ela a chance de mostrar nos treinos que teria condições de jogar.
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“Eu estou decepcionada, sinto que brincaram com a minha vida, sabe? Me sinto injustiçada. Depois de tudo que eu fiz, depois de tudo o que passei, eu não ter nenhuma chance, é brincadeira, né?”, reclamou Ana Paula Rodrigues. “Foi falta de respeito e consideração por toda a história que tenho com a seleção brasileira. Conseguiram destruir o meu sonho. Se o treinador e a comissão técnica abraçassem a causa, eu estaria nos Jogos Olímpicos. Fiz tudo o possível para estar em condições, mas me abandonaram no meio do caminho. Se eu não sou importante para a seleção, o Cristiano (Rocha) que assuma a responsabilidade. Não foi uma decisão médica”, acredita a jogadora.
A decisão
Procurado pela reportagem do Olimpíada Todo Dia, o técnico Cristiano Rocha não confirmou a informação de que Ana Paula Rodrigues estaria descartada. “Não posso dar esse furo (de reportagem) dizendo quem pode ser convocado para a Olimpíada porque ainda vai ter a fase de treinamento e muita coisa pode acontecer no final de temporada e tudo mais. Tem coisa que eu não posso responder porque tem que respeitar o rito normal da convocação oficial, das datas e tudo mais. Eu não posso antecipar essa informação. Só adianto que a Ana Paula está na lista larga, que é a lista que permite que qualquer atleta seja convocada. Então, esse é o oficial que eu posso falar. O resto são coisas muito internas que a gente precisa dar isso tudo no seu tempo”, se limitou a dizer o treinador.
Na conversa por telefone com Ana Paula Rodrigues, entretanto, Cristiano Rocha deixou claro que ela está fora dos planos. A jogadora não fará parte da lista de 21 atletas que vão realizar a partir do dia 17 de junho, no Rio de Janeiro, a última fase de preparação antes dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. A convocação definitiva será feita no fim de junho com os nomes das 14 jogadoras e duas suplentes que viajarão para a França.
Fora dos planos três meses antes dos Jogos
Segundo ela, o treinador disse que tomou a decisão em função das informações passadas a ele pela médica da seleção, Pauline Bittencourt, que não garantiu que Ana Paula Rodrigues teria condições de treinar e jogar como as outras até os Jogos Olímpicos. A jogadora, por sua vez, contesta o argumento do treinador. “A Marina (Calister, fisioterapeuta da seleção brasileira), que está fazendo o tratamento comigo, acredita que eu chegaria aos Jogos Olímpicos com 80% das minhas condições e que eu conseguiria jogar. Se ele prefere levar uma jogadora 100% com menos experiência do que eu com 80%, a decisão é dele. Gostaria apenas de ter tido a chance de mostrar na quadra que teria condições de jogar”, lamentou mais uma vez a atleta.
A conversa com Cristiano Rocha aconteceu esta semana, mas o primeiro indício de que ficaria fora da Olimpíada veio no final de abril. Ou seja, três meses antes dos Jogos e quatro meses após o início do tratamento. Segundo Ana Paula Rodrigues, a médica Pauline Bittencourt a avisou que o treinador só gostaria de contar em Paris-2024 com jogadoras que estivessem com 100% de suas condições.
“Até uma pessoa leiga saberia que eu não estaria 100% depois de seis meses de cirurgia de LCA. Isso é claro! Todos sabiam que eu não chegaria aos 100%, então porque não falaram pra eu voltar pra casa e me recuperar com tranquilidade? Se eu soubesse que não iriam contar comigo, teria logo aproveitado esse tempo que iria fica parada me recuperando pra engravidar e tal, poderia ter tido outros planos”, revelou com muita mágoa.
O drama
O drama de Ana Paula Rodrigues começou em dezembro do ano passado, quando ela se machucou o jogo diante da Argentina pelo Mundial de handebol feminino. Em casos como o dela, o prazo previsto de recuperação é de oito meses. Para poder jogar a Olimpíada, ela precisaria antecipar essa recuperação. Em princípio, houve a promessa por parte da Confederação Brasileira de Handebol de esperariam até o limite para saber se ela teria ou não condições de estar apta a tempo de ser convocada.
O que mais magoa a atleta, entretanto, é o fato da decisão ter sido tomada com tanta antecedência. Ela não vai ter a oportunidade de mostrar em quadra que poderia jogar. “A previsão era eu voltar a treinar na quadra no último dia 15, com cinco meses de cirurgia e um mês antes da fase de treinamento. Mas decidimos suspender isso depois do que a doutora Pauline me falou no fim de abril”, explicou a jogadora. Ana Paula vai retornar para São Luís, do Maranhão, no próximo dia 1 de junho, ao invés de permanecer fazendo o tratamento em São Paulo.
Exemplo
Para terminar, Ana Paula Rodrigues cita o exemplo da jogadora francesa Alison Pinau. Ela sofreu a mesma lesão que a brasileira no Mundial de 2011, em dezembro, mas conseguiu defender seu país nos Jogos Olímpicos de Londres-2012. “Com cinco meses de cirurgia, ela se integrou à seleção da França e foi voltando pouco a pouco na quadra com a equipe e, quando chegou a Olimpíada, ela estava lá. Isso aconteceu porque todos abraçaram a causa e valorizaram a importância dela para a seleção francesa. Mas isso não aconteceu comigo”, lamenta. “Outro exemplo é a Barbosa (Alexandrina Cabral Barbosa, jogadora espanhola). Ela se machucou em novembro de 2020, voltou a treinar com a seleção seis meses depois e foi para a Olimpíada de Tóquio”, completou.