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Handebol

Multicampeão, Marcão fala sobre seus 28 anos de carreira

Cinara Piccolo/Photo&Grafia

Marcão fala sobre sua carreira e suas expectativas no alto de seus 41 anos. O goleiro do Pinheiros conquistou sua 14ª Liga Nacional na temporada de 2017. Confira a entrevista do jogador!

Marcos Paulo dos Santos, o Marcão, é um dos atletas de handebol mais renomados do País. Com 41 anos de idade, 28 de carreira, fez da modalidade sua vida desde jovem. Como muitos meninos, começou a jogar na escola e desde aquela época não parou mais. O goleiro do EC Pinheiros (SP) possui nada menos que 14 títulos da Liga Nacional, o último conquistado no mês passado com a equipe paulistana. Um modelo de disciplina, preparo físico e acima de tudo garra, Marcão é um exemplo para várias gerações. Mas, a carreira dessa “muralha” não se ateve somente aos clubes. Durante muito tempo ele integrou a Seleão Brasileira de diferentes categorias e disputou algumas das competicoes mais importantes. Hoje, observa o desempenho dos companheiros da equipe nacional com orgulho pela evolução conquistada e por enxergar um potencial de conquistas muito grande.

Na entrevista a seguir, ele conta um pouco de como se mantém em alta por um período tão longo, sobre os planos a seguir, e a relação com a família, que vive o handebol como os irmãos, incluindo o também goleiro Maik – que atuou ao lado dele na Seleção -, a noiva Fernanda Barbosa, a cunhada Lucila Viana, entre outros.

Com experiência de veterano e animação de um aspirante, Marcão é um dos capítulos de maior destaque do handebol masculino brasileiro.

Quantos anos já de carreira?
R: Entre o colégio, a Metodista e E.C.Pinheiros, somam 28 anos.

Como foi o início com o handebol?
R: Por meio das aulas de educação física no colégio. Disputei umas competições, me destaquei e uma amiga me aconselhou a procurar a equipe de São Bernardo do Campo, chegando lá, ainda não era metodista e sim ASA de SBC, depois criaram a equipe da Metodista.

Quantos títulos da Liga Nacional?
R: 14 títulos (97/98/99/00/01/02/04/06/09/10/11/12/15/17).

Quanto tempo esteve na Seleção?
R: De 1995 Seleção Junior a 2012. Entre umas fases e outras… acredito que somam uns 12 anos.

Como busca motivação para seguir e brigar por mais títulos?
R: O fato de trabalhar tanto treinando, de ter um nível técnico elevado e ser reconhecido por isso, me faz ir em busca de novos desafios e construir novas histórias. Isso é bom demais, é a cereja do bolo, a emoção e sentimento que só encontrei no esporte.

Você chegou a pensar em outra carreira quando era mais jovem? Qual?
R: Sim, tentei fazer um teste para ser goleiro de futebol de campo, mas era difícil encontrar alguém para me indicar ou dar uma simples oportunidade para eu mostrar o meu potencial. Uma vez que eu tinha 1m80 aos 16 anos, acredito hoje que eu teria conseguido construir uma boa carreira no futebol. Meu pai estava deixando de ir trabalhar para ir comigo nos clubes e como não conseguíamos nada, achei melhor ele não se prejudicar perdendo dias de trabalho. Me reuni com alguns amigos do time do colégio e meus irmãos, fomos então fazer um teste no handebol, não tivemos nenhuma dificuldade para fazer o teste e o handebol entrou em nossas vidas.

Você é um líder para sua equipe e um exemplo, mas também já disse que aprende com os mais novos. Como é essa relação de troca?
R: Procuro ajudar porque sou um dos mais experientes da equipe, já vivenciei muitas situações. O que faço é criar o máximo de dificuldades pra esses garotos durante os treinos para que durante a realidade de jogo eles possam me ajudar colocando em prática aquilo que eles têm de melhor, a juventude. Essa troca é bem legal.

Como você motiva seus companheiros nos treinos e jogos?
R: Além de levar algumas falas pra motivar, procuro aconselhar, mostrar que estamos juntos e que dependemos um dos outros para alcançarmos os nossos objetivos. Nos treinos, acredito que o exemplo vem de cima, dos mais experientes, então não relaxo e exijo o melhor deles, mesmo que seja difícil em alguns momentos, porque os garotos também precisam entender e fazer a parte que compete à eles, que é se dedicar para não só evoluir, mas ainda aproveitar o fato de que têm ali outros atletas experientes do nível de Zeba, Diogo, Zé.

Como você costuma lidar com a pressão nos jogos?
R: Procuro controlar a ansiedade e o frio na barriga, busco focar na minha missão para o jogo, na concentração e procuro estar ciente que me preparei e estou preparado para aquele momento.

Que lições você tira da sua carreira todo esse tempo?
R: Que o tempo é precioso, as oportunidades são preciosas, os aprendizados, as amizades, os erros e acertos são valiosos. Aproveitei e ainda estou aproveitando ao máximo todas as fases e lições dessa vida esportiva, porque sei que carreira de atleta é curta.

Com todo esse tempo jogando em alto rendimento, é necessária uma preparação muito forte. Como se manter em forma, não só fisicamente, mas também mentalmente para estar na ativa?
R: Ao meu ver o que mais fez diferença foi amar o que faço. Além disso, o fato de me cuidar para ter sucesso nessa árdua carreira de atleta. O Brasil ainda é um país que não tem uma cultura esportiva tão forte, logo oferece pouco apoio aos atletas, principalmente, aqueles que atuam em esportes olímpicos, que necessitam demais desse apoio. Treinei e ainda treino muito a parte de condicionamento físico com musculação e fortalecimentos, a parte técnica e tática em quadra, e procuro me preparar o melhor possível psicologicamente para os jogos e treinos. Assim, cheguei onde estou e pretendo seguir trabalhando para ir mais longe, preciso ter muita paciência e calma para dar conta dessa missão e conto com a ajuda e apoio da minha família e amigos.

Como é sua relação com Sergio Hortelan, seu técnico no Pinheiros? Há quanto tempo trabalham juntos?
R: Minha relação com ele é muito boa, de amigo. Tenho muito respeito e admiração pelo excelente técnico, professor, pela pessoa que aprendi a conhecer e pelo ser humano que ele é, quando procura ajudar os outros, pensando no que é melhor para eles no futuro. Já o conheço e trabalhamos juntos alguns bons anos com a Seleção, porém, no mesmo clube estamos trabalhando há mais de nove anos.

Como é a relação com a sua família que vive o handebol?
R: É a melhor possível, sem eles nada disso teria acontecido. Eles são a minha maior inspiração. Sempre que estamos juntos uma hora ou outra o assunto handebol aparece. Amo demais!

Tem planos de parar de jogar em breve?
R: Hoje é dificil responder essa pergunta porque estou muito bem, sei que a hora está chegando, por isso, vivo cada ano como se fosse o último.

Pensa em seguir com o handebol de outra forma depois que parar de jogar? Como carreira de técnico ou outra coisa.
R: Vejo muitas possibilidades de estar ligado ao handebol. Preciso estudar melhor isso no futuro. Porém, acredito que sim, porque trabalho há quase 30 anos com o handebol. Existe muita carência de trabalhos específicos para goleiros e penso muito em contribuir nesta área.

Qual a maior recordação da sua carreira?
R: Tenho qutro recordações.
1) Pan-Americano em Winnipeg – Canadá 1999. Fomos vice-campeões contra a forte equipe de Cuba, depois de duas prorrogações e perdemos nos tiros de 7 metros.
2) Campeão Pan-Americano em Santo Domingo- República Dominicana – 2003
3) Olimpíadas de Atenas – Grécia
4) Conquistar a tríplice coroa em 2017 (Pan-Americano de Clubes-Argentina, Super Paulistão e Liga Handebol Brasil).

Quem foi seu maior espelho no handebol?
R: Os meus maiores espelhos foram Jabá e Cachorrão ( ambos, ex-goleiros da Metodista)

Você tem ainda algum grande sonho que deseja realizar?
R: Sim, alguns na verdade. Ter uma boa casa, reconhecimento profissional na minha área de formação e constituir minha família.

Como você enxerga a evolução do handebol brasileiro?
R: Enxergo que nossa evolução veio ano após ano crescendo aos poucos. Tivemos um ápice de evolução e muita qualidade com o Jordi à frente da Seleção Masculina, com os acampamentos, cursos de capacitação para técnicos e professores. Agora, com a saída dele, o maior desafio é não só manter o legado que ele deixou, mas sim seguir evoluindo. Claro que a maior saída dos jogadores para fora do Brasil, soma demais para o crescimento dos atletas e do nível técnico, quando os mesmos retornam pra Seleção, mas em contrapartida, dimiui o nível técnico aqui no Brasil, porém, também dá oportunidade aos que aqui estão.

Como você vê essa nova geração do handebol brasileiro, com mais oportunidades fora do País, mais intercâmbio de experiências? Você vê uma geração mais confiante?
R: Vejo com bons olhos a nova geração, muito potencial a ser trabalhado para que lá na frente os frutos possam amadurecer com qualidade. Os intercâmbios e trocas de experiências são ricas demais para eles, não só como atletas mas também como pessoas. Acredito que um trabalho bem organizado, planejado, transparente, de continuidade, uma melhor competição interna para que os atletas que estão no país cresçam e evoluam, será um passo muito firme em busca da qualidade e confiança dessa e das próximas gerações.

Na sua opinião, o que o esporte pode acrescentar na vida de uma pessoa?
R: Pode acrescentar no convívio social, aprender a dividir, conviver em grupo, respeitar as diferenças de raça, crença, opinião, aprender a superar desafios, praticar o doar, enfim. Acho que a maior arte é levar essas lições do esporte para a vida.

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