“Você é o único representante do seu sonho na face da terra, se isso não fizer você correr, chapa, eu não sei o que vai”. Os versos são da música “Levanta e Anda”, de Emicida, e ela tem muito a ver com a história de Alan Lima. Aos 31 anos, o goleiro do Cannes, da França, chegou na seleção adulta pela primeira vez na carreira e não esconde como viveu na trajetória até agora. “O handebol sempre foi meu sonho. O meu sonho vive e eu vou seguir sempre”.
Um operário. Segundo o dicionário, um dos significados da palavra é “aquele que produz qualquer trabalho, qualquer obra”. E assim é a vida de Alan Lima. Nascido em São Bernardo, criado em Diadema e vivendo a maior parte da vida adolescência na periferia de São Paulo, o goleiro da seleção brasileira conheceu o esporte por conta de uma professora, seguiu no handebol por conta de um amigo e sempre manteve o sonho de seguir.
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“Conheci o handebol graças a uma professora e o engraçado é que eu jogava na linha, de ponta. Em um campeonato entre escolas, um técnico chamou um amigo meu e ele só aceitou ir se eu pudesse ir junto. Nesse projeto eu saí da linha, onde não era muito bom, e fui para o gol para não sair mais.”
Após começar a ser goleiro, a vida de Alan Lima mudou um pouco. Depois de um período ainda em Diadema no projeto, o jogador seguiu para São Caetano e depois para a Hebraica, onde a vida mudou de perspectiva. “Em Diadema eu entendi o esporte e passei a sonhar, em São Caetano eu entendi que poderia ser um caminho e na Hebraica as coisas mudaram. As pessoas do clube eram de uma classe social diferente da minha e eu passei a entender que, se lutasse, poderia ter algumas possibilidades. Poderia estudar, poderia conseguir algo melhor para a minha vida.”
Handebol e mais alguma coisa sempre
Entre idas e vindas, Alan ficou na Hebraica por cerca de 10 anos e, neste período, a vida de operário o marcou. Atuando pelo clube, o goleiro entendeu que poderia seguir os estudos e, durante alguns anos, conciliou a vida de atleta com a de estudante. Depois da faculdade, o atleta teve que conciliar sua vida esportiva com outras obrigações.
“Consegui fazer faculdade com bolsa por conta do handebol. Me formei e depois passei a trabalhar em uma empresa. Nesta época eu tinha menos tempo para treinar e a forma de não perder tanto contato com a modalidade foi ajudar dando treinos em algumas faculdades, principalmente para goleiros. Não podia deixar o sonho do handebol morrer e foi o jeito que eu consegui”.
A caminhada no velho continente e a chega na seleção
Diferente da grande maioria dos jogadores brasileiros na modalidade, a saída de Alan Lima para o exterior demorou. Apesar de ter a vontade e atravessar o oceano desde antes da faculdade, o goleiro acabou não conseguindo concretizar sua transferência tão cedo.
“Acho que a partir de 2013 eu comecei a cogitar ir para a Europa, cheguei a tentar algumas coisas, mas não deu certo. Fiquei no Brasil, jogando e fazendo outras coisas. Em 2019, eu estava fazendo uma pós graduação e jogando, veio uma proposta de Portugal e eu fui. Larguei tudo e fui porque vi que poderia ser a minha chance”.
A entrada no velho continente foi pelo Vitória de Setúbal. Pelo time, Alan Lima atuou por duas temporadas e conseguiu um bom destaque, por conta de suas boas atuações. Para 2020/2021, Alan trocou de país e seguiu com sua esposa e filha para a França, para jogar pelo Caen Vikings.
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Em quadras francesas, Alan Lima teve um começo complicado. Por conta de uma lesão no pé, o brasileiro teve dificuldade nos primeiros jogos. Contudo, com o seu jeito dentro e fora das quadras, conquistou a todos e é um dos destaques da equipe na atual temporada, onde a equipe ocupa a oitava posição no nacional, e o sonho olímpico renasceu.
“Levei a minha família toda para a França e está sendo muito bom. O começo foi complicado, mas agora está tudo dentro dos conformes. Minha esposa e filha também estão adaptadas, estou bem no clube e cheguei na seleção adulta pela primeira vez. Sei que mais complicado que chegar é se manter aqui. Vou trabalhar muito para seguir, tenho o objetivo de estar em uma Olimpíada. O meu sonho é o handebol, o meu sonho vive ainda mais agora”, finalizou Alan Lima.