O handebol feminino do Brasil tem problemas e isso não é segredo para ninguém. Após alguns resultados ruins a nível mundial nos últimos anos, a nova geração da modalidade bate na porta e pede uma chance. O caminho para muitas jovens passa por Cali, cidade que recebe a primeira edição dos Jogos Pan-Americanos Júnior. Presente na Colômbia, a pivô Mari Araújo não esconde a felicidade: “É um sonho. É uma alegria, é algo que eu nem consigo colocar em palavras direito”.
Aos 22 anos, a atleta do Pinheiros, campeão da Liga Hand feminina de 2021 e terceiro lugar na Liga Nacional feminina, não tem medo de esconder o que sentiu quando viu o nome na lista que estaria nos Jogos Pan-Americanos de Cali. “Foi uma alegria gigante. Eu fui convocada esse ano para o Sul-Centro e acabei cortada por conta da Covid-19, então estar aqui em Cali é a recompensa pelo trabalho e por tudo que foi feito durante o período todo da pandemia. É a sensação de que valeu a pena e agora eu não quero mais deixar de ser Time Brasil”, disse Mari Araújo.
Técnico da pivô, no Pinheiros e na seleção brasileira que está em Cali, Alex Aprile é direto ao falar sobre a participação da equipe na Colômbia. “É uma grande oportunidade para as meninas dessa geração. Elas sofreram muito com a pandemia, perderam o mundial de base por conta da pandemia e ganharam essa oportunidade. Serão “só” 14 meninas, não vamos ter treinamento preparatório, teremos uma base do clube (o Pinheiros tem oito atletas do grupo), mas eu vejo como uma oportunidade para essas meninas entenderem o que é estar em um ambiente de Vila, convivência com outros atletas e todo esse ambiente”.
Apesar da felicidade de Mari, a estreia do Brasil não foi com vitória. Apesar dos Jogos Pan-Americanos de Cali começarem oficialmente na quinta-feira (25), o handebol feminino já começou a ser disputado e a seleção brasileira feminina foi derrotada por Cuba, por 30 a 29. Buscando a reabilitação na competição, as brasileiras voltam para a quadra nesta quarta-feira (24) para enfrentar a República Dominicana.
A caminhada até Cali
Olhar para Mari Araújo na seleção brasileira nos Jogos Pan-Americanos de Cali, convocada para o Sul-Centro adulta e no Pinheiros nos faz pensar que ela “foi feita” para o handebol, mas não é verdade. Tudo começou lá atrás, na escola, por influência e uma dose de cobrança da mãe.
“Eu não gostava de handebol. Na verdade não gostava nada nada. Minhas amigas da escola começaram a jogar no time da escola e eu fui. Passei e entrei, mas não queria. Nessa época eu estava um pouco gordinha e minha mãe ficava no meu pé para que eu seguisse algum esporte e tentasse emagrecer um pouco. O handebol foi o caminho. Ela ficava no meu pé, o técnico do time, que também passou a ser o técnico do clube, e assim eu fui indo até pegar gosto e não querer parar mais”.
Dos treinos na escola, Mari Araújo passou a ter em sua rotina os jogos pelos times e foi subindo de categoria. Com o sucesso nas quadras, a pivô passou a ser lembrada para a seleção brasileira e representar o país passou a ser rotina, com a primeira convocação tendo acontecido em 2017. Presente no dia a dia do time adulto do Pinheiros a cerca de três anos, Mari explica que os Jogos Pan-Americanos de Cali fizeram com que tudo tivesse um motivo durante a pandemia.
“Ficamos sabendo de Cali durante a pandemia da Covid-19 e as coisas passaram a meio que ter uma razão. Antes, a gente estava treinando sem saber quando iria jogar, se iria ter competição e tudo era incerto. Com a competição confirmada, os treinos passaram a ter uma razão ainda maior, além de manter a gente ativa e tudo mais. Estar aqui é algo que me faz querer mais”.
Futuro é para além do oceano
Para algumas modalidades, os Jogos Pan-Americanos Júnior de Cali são a porta de entrada para a competição adulta, que acontece em Santiago em 2023, como passou a ser o caso do handebol e isso permite que Mari Araújo sonhe mais ainda.
“Ser chamada para o Sul-Centro esse ano e agora para os Jogos Pan-Americanos Júnior me fez acreditar que é possível estar em Paris. Eu quero estar na Olimpíada de 2024. Eu sei o quanto isso vai ser difícil, mas quero muito. Antes eu tinha receio e não acreditava muito em mim. Eu só penso em sair do Brasil quando acabar minha faculdade, no fim do ano que vem, e via isso como um problema visando os Jogos Pan-Americanos de 2023 e a Olimpíada de 2024. Agora, com tudo que aconteceu em 2021 e a forma como eu evolui, principalmente acreditando mais em mim, eu me vejo na França sim”, finalizou a atleta.